Capítulo 16

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Adentrei minha casa aos gritos, chamando por Ezequiel.

Quando fiz a curva do corredor para a sala, deparei-me com ele. Quase nossos corpos encostaram-se, por sorte uma brisa gelada envolveu meu corpo, fazendo-me parar ao estremecer de frio.

Quando encarei seus olhos que me fitavam desabei em choro. Cai de joelhos em frente de Ezequiel que se abaixou para poder ficar na mesma altura. Senti uma brisa como se acariciasse meu rosto e o levantasse para olhar nos olhos de Ezequiel.

— O que aconteceu pequena Joanny? — Ezequiel perguntou.

— Annabella — sussurrei enquanto mais lagrimas transbordavam de meus olhos. — Ela morreu, eu matei minha amiga Ezequiel. Eu matei Annabella.

Ezequiel não disse nada, apenas sentou-se ao chão e ficou calado, enquanto mais uma brisa veio a mim, dessa vez ela me envolveu como se me abraçasse, e ficamos assim sentados por horas sem falar sequer uma palavra.

Foi então que visualizei uma mulher se aproximando de nós, seus cabelos negros, que davam um perfeito contrate com sua pele branca. Os olhos castanhos e seus lábios finos que estavam repuxados em um sorriso ao olhar para Ezequiel.

— Eliza — Ezequiel sussurrou. Ele estava paralisado olhando para ela.

Assim que ela se aproximou mais, percebi então que ela era um espírito, que provavelmente estava ali para eu ceifar sua alma.

Ezequiel então se levantou e abriu os braços para abraça-la, mas ele não conseguia toca-la. Ela não estava materializada, apenas um ceifador podia tocar.

— Desculpe-me meu amor, mas minha energia é neutra. Se não fosse, eu não conseguiria vir até aqui sem que alguém percebesse — Eliza olhou para mim. Finalmente eu havia entendido quem era Eliza. Eliza era a mulher a qual Ezequiel procurava vingança pela morte. — Eu vim aqui para ajudar vocês a encontrarem Kami, e acabar logo com ele.

Então esse era o nome do indivíduo que eu deveria matar.

— Onde posso encontra-lo? — perguntei levantando-me do chão.

— Para isso preciso que me traga o sangue da última vítima, e também me trague 5 velas.

— Como vou saber quem é a última vítima? — perguntei.

— Sua amiga, Annabella.

Por isso Annabella agiu estranho, ela estava sendo manipulada para tal feito.

— Certo, eu pegarei o sangue — Ezequiel disse.

Isso era realmente o que eu precisava. Não queria ter que ir novamente até a casa de Annabella para mexer em seu corpo sem vida, se é que estava em seu quarto ainda. Eu não havia dito nada o que acontecera com ela, mas poderia ocorrer dos pais dela terem já encontrado o seu corpo.

Enquanto esperávamos Ezequiel, coloquei as velas ao chão como Eliza havia pedido e sentei-me no sofá.

Ezequiel parecia tão feliz por ter reencontrado Eliza, que me sinto mal por não ter o deixado ficar a sós com ela antes de ir buscar o sangue a qual precisávamos.

— Melhor não deixar eu e Ezequiel a sós — Eliza falou.

Certo, isso foi estranho, ou eu havia falado alto sem perceber, ou ela conseguia ler minha mente.

— Fique com a segunda opção — Ela sorriu.

— Como consegue? — perguntei.

— Esse é um dom que eu consegui e por sorte mesmo na morte eu o tenho.

— Por que não quer ficar a sós com Ezequiel?

— Nem sempre o amor faz bem. Quando morri, tive que largar tudo que me prendia ao mundo de vocês, ou seja, tive que largar o meu amor. No nosso lado também há regras, se estamos presos a alguém é nosso dever conseguir desfazer isso. Não podemos fugir desse dever se não seremos punidos. Há almas que se escondem ainda, dos anjos, dos demônios e de todos os seres que colocam ordem nesse lado — Eliza ficou um pouco em silencio pensativa e depois retornou a falar. — O meu amor por ele me faria sofrer e para que? Ele não me via, não me sentia e não me tocava, então por quê lutar por um amor como esse?

— Mas você lutou — falei com convicção e ela assentiu com um olhar triste.

— Lutei por um tempo, até que encontrei uma alma assustada dizendo-me todas essas regras e que ela seria punida por ainda estar ali. Eu vi demônios arrastando-a para longe. Foi então que tive que deixa-lo. Meus sentimentos por ele tiveram que ficar realmente na vida. Quando dizem "Sejam felizes até que a morte os separe" estão certos, pois a morte tem esse poder.

Eliza se calou assim que Ezequiel entrou na sala com um vidrinho em suas mãos, podia ver que nesse havia uma liquido com cor bordo. O sangue de Annabella estava neste.

Ezequiel viu que fiquei encarando o vidrinho e sussurrou.

— Tenha calma, ele vai pagar por tudo que nos causou.

— Eu sei que vai — sussurrei também.

— Iremos localiza-lo — disse Eliza. — Tudo que eu dizer para fazerem vocês farão. Comecem colocando as velas em pé em formatos de círculo.

Fiz o que ela ordenou.

— Agora eu vou chamando os elementos e vocês vão acendendo as velas para cada elemento que eu chamar.

Assenti mostrando que compreendi o que era para ser feito.

— Eu purifico esse lugar de toda energia negativa que nele está presente, ordeno que o mau saia e que o bem entre. Neste local não é permitido o mau. Chamo o elemento terra para o círculo, para que este nos de força para enfrentar tudo o que está em nossa frente — Eliza olhou para mim e então acendi a primeira vela. Assim que fiz senti como se ganhasse mais força, me senti mais segura. — Chamo para o círculo o elemento ar que nos traga a sabedoria com o vento para que possamos saber lutar contra tudo que venha causar o mau — acendi a segunda vela e o vento me rodeou indo em direção ao Ezequiel que sorriu ao toque do mesmo. — Peço agora o elemento fogo, para que nos aqueça, nos de coragem para enfrentar tudo — Assim que acendi a terceira vela senti que meu corpo se aqueceu e cada vez me sentia mais forte e mais corajosa. — Venha elemento água e purifique-nos — Acendi a quarta vela e ouvi o som da água acalmando-me. — E por último chamo até nós a luz o elemento do espírito, a força, a coragem, o que somos, o que nos tornamos. — Acendi a última vela e senti como se houvesse ganhando vida novamente, cada parte de meu corpo parecia mais forte, me sentia calma e sentia coragem.

— Isso é perfeito — sussurrei.

Eliza sorriu e continuou.

— Jogue o sangue dentro do círculo — fiz o que ela pediu. — Todos elementos, peço ajuda, peço que nos mostre onde está Kami, onde está quem tirou a vida da garota a qual esse sangue pertencia. Elementos nos ajude a achar Kami.

Logo o sangue de Annabella começou a se mexer dentro do círculo, e surgia imagens de arvores nele, como se fosse uma floresta, e na mesma apareceu o nome Kami. Depois as velas se apagaram e as imagens presentes no sangue desapareceram.

— Não acho que deu muito certo isso, não faço a mínima ideia de onde seja — falei.

— Mas eu sei — Ezequiel disse. — Vamos agora.

Eu assenti, estava preparada para o que estava por vir.

Não sentia mais medo, eu só queria que esse "Kami" pagasse por tudo que nos havia causado.

Eliza sorriu para nós e disse.

— Desejo-lhes sorte, e que os elementos estejam com vocês. Mas lembre-se Joanny às vezes devemos estar preparados para o destino e aceitar a morte e Ezequiel, eu lhe encontrarei em breve — e assim Eliza desapareceu deixando-nos sozinhos preparados para partir em busca de Kami. 

Filha da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora