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Abril, 2008.

Mais uma vez, dentre aquelas mãos.

Mais uma vez, sendo levada para o mesmo quartinho de bagunças do quintal.

Mais uma vez, sentindo as mesmas dores e sendo tocada dos mesmos jeitos nojentos.

Ele sempre espera a mamãe sair para me tocar.

Sujo.

A babá nunca vê, nunca escuta meus gritos. Estranho, eu sempre grito pedindo socorro, talvez ela tenha problemas de audição.

Todas as vezes que eu penso em contar, o medo me bate, e na verdade, não é só o medo que me bate. Ele falava que iria me matar se eu contasse. E eu não contei.

Todos os dias, presa nessas mãos enormes, que me sufocam e me apertam de um jeito que me faz embrulhar o estômago. Todas as vezes que ele me toca, eu me sinto completamente vulnerável, como a chapeuzinho e o lobo mal, mas eu não consigo ver um final feliz nisso, meu padrasto não tem um caçador.

Agora

- Então S/n, você é uma mulher brasileira, que está tomando um rumo gringo recentemente. A sua carreira tomou uma proporção maior desde o ano retrasado, e eu acredito que sua vida virou de cabeça para baixo. Como está sendo para você, abandonar tudo no Brasil, para viver uma vida em um mundo diferente para você, já que sua família se encontra no Brasil?

Encarei a mulher a minha frente, que me perguntava o que todos me perguntavam.
Engraçado eles me tirarem de casa, para um evento como esses, para não me perguntarem nada de interessante.

- Bom... está sendo legal. Claro que eu estou meio perdida, já que eu sou nova nisso. Eu tenho amigos aqui; não estou totalmente sozinha, e no Brasil, eu não tenho muita família.

Mentira.

A minha família é grande.
Não a minha família, mas a família do meu padrasto é grande.
Celso Caetano, um delegado super conhecido no Brasil, mas odiado por mim. Eu tenho meus motivos.

Minha mãe é cega, parece que ela nunca quis acreditar no que no fundo, ela sabia que acontecia.

A única pessoa da minha "família" que presta, é meu irmão Heitor, ele tem 8 anos, e é um garoto incrível em tudo. Eu sinto falta do Brasil por conta do Heitor.

- Sua família deve 'tá orgulhosa de você.

A mulher a minha frente falou, forçando um sorriso que todos os outros forçavam.

- É sim, talvez eles estejam.

Mentira.

Eu não tive apoio, muito menos base familiar para subir na minha vida.
Essa carreira foi possível pela Elena, que ela me ajudou a conquistar o que eu tenho hoje, e se eu tenho, e se eu sou, e se eu me tornei, foi por conta dela.

Stardust (SADIE SINK.)Onde histórias criam vida. Descubra agora