Noivado

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As luzes altas dos faróis encandeiam. Poncho caminha por entre as motos. Mas à frente os amigos conversavam descontraídos, encostados em suas motos. Derrick levanta o rosto e vê Poncho, ele cumprimenta com um aceno de cabeça. A rixa de tempos atrás esquecida.

- Poncho! – Erick cumprimenta o amigo com um tapa nas costas. – Não esperava te ver por aqui.

- Cheguei de manhã. Como estão as coisas por aqui?

- Ta tudo na mesma.

Outros amigos se aproximam, cumprimentando-o. Por um momento, Poncho se desliga da conversa e sua mente viaja para anos atrás naquele mesmo lugar. Uma gargalha forte, única, desconcerta-o por um momento, imagina Christian, seu melhor amigo escorado em sua Honda e rindo de alguma bobagem que ele diz.

- E então Poncho, vai ficar por quanto tempo? – Erick tira a lembrança de sua mente.

- Não sei ainda. Por enquanto eu vim definitivo. Estou pensando em procurar um emprego.

- Vou vê se te arranjo alguma coisa. Posso te arranjar um bico no restaurante do meu tio.

- Se você conseguir...

- Vou ligar para ele amanhã.

O som alto de buzinas indica que a corrida vai começar. Os rapazes sobem em suas motos.

- Vai correr hoje Poncho?

- Não. Hoje vou só assistir.

Erick balança a cabeça e da partida. Poncho vê os amigos correndo com suas motos. Na arquibancada perto da pista, uma garota agora com os cabelos curtos o encara. Poncho a vê. Os dois sorriem. Ela balança a mão. Ele a cumprimenta.

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Uma música suave toca no som da sala. O vento balança as cortinas. Eleonora passa apressada de um lado para o outro, usando um vestido preto de linho que lhe cai muito bem, acentua sua postura séria e clássica. Cláudio aparece. Está vestido um terno risca de giz, elegante. A campainha toca. Eleonora se apressa a atender.

Parado no corredor está Eduardo e sua mãe. Uma senhora elegantíssima, usa uma saia preta com uma blusa de seda verde claro e um terno por cima. As duas mulheres se cumprimentam e eles entram no apartamento.

- Por favor, fiquem a vontade. Minha filha está terminando de se arrumar. Sabem como são as mulheres. – Eleonora da um sorriso de lado, olha para o marido.

Cláudio oferece uma bebida e faz sala para as visitas enquanto que a esposa vai apressar a filha.

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- Não sabia que tinha voltado.

Poncho se vira e sorri ao vê Mel, parada na sua frente. A garota de cabelos curtos o encara com um sorriso no rosto.

- Cheguei hoje mais cedo. – Ele a olha. – Está bonita.

- Obrigada. – Ela sorri mais ainda. – Você também. Londres lhe fez muito bem.

Os dois se encaram sem saber o que falar. Tinham tanto a ser dito e nada ao mesmo tempo.

- Não vai correr hoje? – A garota tenta puxar conversa.

- Não. Vim assistir.

- Essas corridas não são mais as mesmas depois que você partiu.

- Senti falta disso aqui. Mais acho que ainda não estou pronto para voltar.

- Leve o tempo que levar. – Da de ombros. – Isso aqui vai continuar te esperando.

- Obrigado. – Os dois caminham lado a lado. – E você o que anda fazendo?

- A mesma coisa de sempre. Minha vida não teve nada de novo.

- Ainda saindo com aquele rapaz da academia?

- Não. Terminei faz tempo. Estou só agora. – Ela olha para ele. – Ainda esperando por você.

Poncho sorri, olha para ela.

- E pelo visto continua sendo a mesma.

- Sim. A mesma louca e apaixonada por você.

Poncho sorri, olha para ela. Balança a cabeça.

- A gente podia sair qualquer dia... – Ela tenta.

- Não acho que seja uma boa ideia. – Ele a interrompe. – É melhor ficar só na amizade Mel. - Mel revira os olhos. – Nós somos melhores como amigos.

Ela não diz mais nada. Se afasta, chateada,  sem olhar para ele.

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O jantar foi servido. Antes que todos começassem a comer, Eduardo se levanta e pede a atenção de todos. Eduardo, vira-se para a namorada que está sentada ao lado e ajoelha.

- Duca o que você está fazendo? – Any começa a se sentir incomodada sem saber bem por que.

- Any, estamos juntos à dois anos e todo esse tempo eu venho tendo certeza do que eu quero. E o que eu quero é você. – Ele sorri. Retira do bolso uma caixinha. – Quero que você seja única, seja minha mulher. – Ele abre a caixinha, um anel com um diamante na ponta. – Você aceita ser minha esposa? Aceita casar comigo?

Eleonora sorri emocionada. Cláudio se engasga com uísque. Alicia que digitava no celular, para de digitar e presta atenção na irmã. A mãe de Eduardo sorri apoiando o filho.

Any olha para ele, sem saber o que dizer. Por um segundo ela lembra do sorriso maroto, do cabelo assanhado e óculos Ray-ban. Aquele jeito dele de não estar nem ai pra nada, de parecer ser o dono do mundo. Tem vontade de chorar, os olhos enchem de lágrimas. Eduardo enxuga uma lágrima teimosa que insiste em cair.

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A bandeira branca é balançada. A corrida acaba. Poncho sorri observando os amigos, um dos meninos venceu está sendo cumprimentado por todos. Ele aproxima, festeja junto com os amigos. Como nos velhos tempos.

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Mais tarde, Anahí esta em seu quarto, de frente para o espelho. A imagem reflete uma mulher séria, sem sombra da alegria que anos atrás expressava. Ela observa a imagem dela no espelho. Rosto parecido com a mãe, cabelo preso em um coque bem apertado dando um ar de seriedade. Tira uma mecha do coque, desfaz, e coloca atrás da orelha. Um brilho reflete no espelho. É o diamante do anel.

Se alguém dissesse que à dois anos atrás que ela estaria noiva de Eduardo, ela teria rido. Mas agora, olhando para o anel a única vontade que sentia era de chorar. Levantou um pouco à blusa do baby-doll, a águia estava ali no mesmo lugar. Fazendo-a lembrar de tempos doces. Na mesma hora, um choro preso de angustia e é quase impossível parar de chorar.

Te EsperareiOnde histórias criam vida. Descubra agora