Desastre

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Ao entrar pela porta da sala, Any vê sua mãe sentada com a cabeça baixa. Eleonora automaticamente levanta a cabeça e as duas se enfrentam. Any dá passos incertos para perto da mãe, seu coração a ponto de sair.

- Onde você estava Anahí? - Curta e grossa. - Você sabia que Eduardo esteve aqui ontem? Sabia que ele ficou te esperando até de madrugada?

- Uma pergunta de cada vez, mamãe. - Respira fundo. - Estava com Poncho. - Vê os olhos da mãe se encherem de fúria. - Nós voltamos e dessa vez é para sempre. -Foi firme e sua resposta. - E respondendo as suas outras perguntas, não sabia que Eduardo estava aqui. Mas vou conversar com ele, tenho certeza que vai entender.

Eleonora balança a cabeça, atordoada.

- Eu não entendo como você se influencia perto desse rapaz. Você não é assim. Você me respeitava, você era boa moça.

- Eu continuo te respeitando, mamãe. Ainda sou boa moça. Eu só sou apaixonada pelo Poncho. - Eleonora senta, desolada, no sofá. - Você sempre soube disso. Mesmo quando eu dizia que eu não gostava mais dele, era por ele que meu coração batia. Eu sinto muito, mamãe, mas vou continuar com ele você querendo ou não.

- Eu só tive decepção com você e sua irmã. - Lágrimas caem dos olhos dela. -Onde foi que eu errei, meu Deus?

- Você não errou. - Ela se abaixa entre as pernas da mãe. - Eu amo você e me dói te ver assim, mas também amo o Poncho e me dói muito ficar longe dele. Por favor, tenta entender...

Eleonora respira fundo, as lágrimas caindo incontroladas.

- Eu não sei o que você viu nesse garoto. Ele é um irresponsável, briguento e mal educado. Eu não me conformo. - Balança a cabeça negativamente. - Que futuro ele vai te dar? O que ele tem para te oferecer?

Any levanta, chateada.

- Eu não sei do futuro, o que eu sei é que a gente se ama e enquanto houver amor está tudo bem.

- É uma visão muito romântica das coisas. A vida não é assim, filha. Coloque seus pés no chão e só pense no quando sofrerá se ficar com ele. Ele já te fez sofrer tanto... - Levanta do sofá e para de frente para a filha. - Eu não consigo aceitar você dois. - Respira fundo. - Você precisa escolher.

Decepção. Sabia que Eleonora é uma mulher difícil que essa conversa não seria nada fácil, mais nunca imaginou ter que escolher entre a família e seu namorado. Já era maior de idade, não devia ter que escolher isso. Any cruza os braços e olha com raiva para a mãe.

- Pois eu escolho ele.

Eleonora disfarça a decepção e encarna a mulher durona e cheia de raiva.

- Muito bem. A partir de agora você está fora dessa casa.

- O QUÊ?

- Você ouviu muito bem. Não é maior de idade? Não sabe se cuidar? Não escolheu o namorado a cima da sua família? Pois bem, vá morar com ele e arque com as consequências.

Olhos lagrimejam. Any tenta falar alguma coisa, mais a voz não sai. Eleonora vira de costas, enxuga as lágrimas, disfarçadamente e se vira.

- Pode levar suas coisas. Estou indo no mercado quando voltar não quero te ver mais nessa casa.

A mulher sai cheia de atitude, batendo a porta com força. Any desaba no sofá. O choro se intensifica sem impedimento. Sua mãe nunca riria aceitar Poncho. Não tinha ninguém em casa, podia chorar o quanto quisesse. Com o coração aos pedaços, ela foi ao quarto e começou a recolher algumas roupas e colocar numa mochila.

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Poncho subiu na moto e saiu guiando-a pelas ruas de Acapulco. Estava atrasado para o trabalho. Tinha menos de dez minutos para chegar. Aumentou a velocidade atingindo 150 km/h. O sinal na sua frente passou para amarelo, ele acelerou. Tinha que pegar esse sinal. O sinal fica vermelho. A moto passa veloz, deixando rastro no chão.

Acontece que Poncho estava distraído pensando no atraso do trabalho e não viu que tinha uma lombada mais a frente. A moto em uma velocidade absurdamente alta não foi suficiente para desacelerar e passar com tranquilidade pela lombada. Resultado: Um tombo. A moto virou. Poncho caiu na calçada do outro lado da rua por cima do braço direito. A dor foi absurda. E de repente tudo ficou preto.

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Anahí termina de colocar a última blusa dobrada para dentro da mochila e fecha o zíper. Olha todo o quarto, se despedindo com o olhar. Viveu tantas coisas ali que era difícil se desapegar. Agora precisava encontrar um lugar para ficar.

Pegou a mochila e colocou nas costas. Saiu do quarto batendo a porta e sem olhar para trás. Estava chegando na porta da sala quando seu celular tocou. Com dificuldade, tirou-o do bolso da calça e atendeu sem olhar quem era.

- Alô?

- Any, é o Christopher. - Ela ouviu um suspiro abafado. - Poncho sofreu um acidente.

E de repente suas pernas fraquejaram. As lágrimas desciam pelo rosto incapaz de ser contidas, ouviu tudo calada, como em transe. Antes que desse conta estava correndo para fora do apartamento, nem se deu ao trabalho de trancar a porta da sala. As mãos tremiam quando tirou a chave do carro da bolsa e se concentrou em abrir a porta.

Sua cabeça dava voltas imaginando o acidente, Poncho deitado no chão, coberto de sangue, inconsciente. Sacudiu a cabeça e colocou a primeira marcha. Precisava vê-lo. Precisava que estivesse bem.



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