Falando A Verdade

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O trinco da porta principal dá volta. A porta vai abrindo aos poucos. As duas viram o rosto ao mesmo tempo. Any entra no apartamento, carregada de sacolas. Maite ajuda pegando algumas. Só então, consegue vê a irmã, sentada no sofá creme, com os olhos cheios de lágrimas.

- Alicia? O que faz aqui? – Deixa as sacolas jogadas no chão e se abaixa na frente da irmã. – O que aconteceu com você? Porque está chorando?

- Minha vida acabou, Any! – O choro profundo, assusta a mais velha.

- Eu não estou entendendo nada. Me explica, por favor.

Alicia tenta falar, mais o soluço abafa as palavras.

- Ok. Você precisa se acalmar. Vou pegar uma água com açúcar para você. – Any faz impulso para levantar.

- Não!- Segura a irmã no lugar. – Eu preciso falar.

- Ok. – Any senta ao lado dela. Alicia deita a cabeça no colo da irmã que faz carinho nos cabelos loiros da menina. – Pode me contar, eu estou ouvindo.

- Estou grávida!

Silêncio. Impactada, Any não consegue processar a notícia.

Alicia olha para a irmã – Any? Ai, fala alguma coisa!

-Você tem certeza?

- Claro. Não ia brincar com uma coisa dessas.

- A mamãe já sabe?

- Claro que não. Vim direto falar com você. Não posso dar essa notícia sozinha, ela vai me matar! – Volta a chorar.

- Calma! – Abraça a irmã. – Vamos pensar com calma, ta?

- Como se fala uma coisa dessas com calma? – Alicia limpa as lágrimas. – Ela vai querer me casar com o primeiro que aparecer.

- Ela vai querer casar você com o pai da criança. Por falar nisso, quem é o pai, Alicia?

Alicia senta, faz careta. – Não me mata, ok?

- Alicia...

-Eu não sei quem é o pai. Só lembro que estava numa boate, eu bebi muito não me lembro dele, não sei nem que nome ele tem.

- O QUÊ? – Any se levanta revoltada.

- Eu tinha bebido.

- Isso não é desculpa, Alicia! Pelo amor de Deus como você faz uma coisa dessa?

- Eu sinto muito. Mas não posso apagar o que aconteceu. Se eu pudesse, eu não estaria nessa situação.

Any respira fundo.

- Tudo bem. Vamos pensar... Vou ligar para o papai e dizer que você vai dormir aqui hoje, mas amanhã, nós duas vamos conversar com os dois.

- Não pode ser na próxima semana?

- Alicia!

-Tudo bem. – Suspira. – Só não sei se vou sobreviver depois de amanhã.

- Deixa de drama. Enquanto eu ligo para o papai você pode ir tomar um banho. Tem toalhas limpas no banheiro do meu quarto.

Alicia se levanta e caminha para o quarto. Any senta no sofá e abaixa a cabeça.

- É amiga, não vai ser nada fácil.

Maite está parada na frente dela.

- Eu sei. Só não entendo como minha irmã foi ser tão irresponsável.

- Sua mãe vai ter uma forte dor de cabeça amanhã. – Maite sai da sala.

Any pega o telefone.

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Amanheceu com um sol brilhante. Os raios solares entram pela fresta da janela. Any vira de lado e esconde o rosto no travesseiro. Alicia, no colchão, no chão, tenta dormir. Passou a noite em claro com medo do que esta por vir. O relógio na parede marca exatamente às 7 horas em ponto. Daqui a pouco o despertador tocará.

Enquanto isso, no hospital.

O médico entra no quarto de Poncho. Poncho ainda dorme.

- Hora de acordar! – O dr. Se aproxima da maca. – Preciso checar sua pressão e vê a temperatura corporal, se estiver tudo bem vou lhe dar alta.

- Alta? – Poncho abre os olhos. – Posso ir para casa?

- Tudo indica que sim. – Pega o termômetro e coloca na axila do paciente.

- Dr. Poderei levar vida normal?

- Sim. Por enquanto vai precisar tomar umas medicações...Vida normal.

Poncho abre um sorriso lindo. O termômetro apita.

- Temperatura normal. – O médico prescreve na ficha do paciente. – Acho que vou te liberar hoje a tarde. Tem alguém que vem buscar você?

- Meu irmão.

- Ótimo. Aconselho a ligar logo para ele. Mas antes, vou vê sua pressão.

O despertador toca. Any, de olhos fechados, desliga o aparelho e se vira de barriga para cima. A claridade incomoda e ela abre lentamente os olhos. Alicia está olhando para ela.

- Ai Alicia! Que susto!

- Foi mal. Não consegui dormir.

- É melhor você ir tomar seu banho para despertar e logo depois do café vamos conversar com mamãe.

Alicia revira os olhos.

- E nem faz essa cara. Que aprontou foi você, tem que pagar o preço.

- Eu sei. – A menina levanta, emburrada e se tranca no banheiro.

Any arruma a cama e o colchão da irmã.


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