Separação

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O barulho do ronco do motor do carro é o único som. As duas meninas estão paradas, olham para frente, sem se mover. É chegada a hora. Alicia respira fundo e abre a porta do passageiro. Any desliga o motor do carro e então o silêncio completa. As duas caminham lado a lado como duas estranhas, caladas. Esperando que alguém comece a falar e então desencadeiam em sucessões de palavras sem sentido.

O toque da campainha faz o coração da mais nova tremer em uma batida mais forte. Any segura na mão da irmã. Escutam o toque toque do sapato fino do outro lado da porta e então a fechadura gira e estão cara a cara com a elegante senhora Eleonora Puente Portillo. Surpresa, Eleonora conduz as meninas para dentro do apartamento.

Any quebra o silêncio.

- Mamãe, Alicia precisa te contra uma coisa. – Incentiva a irmã com o olhar.

Eleonora olha para a mais nova, esperando, tentando entender o que se passa.

- Mãe, é melhor você sentar.

- Estou bem aqui. – Ela cruza os braços. – Diga logo o que você fez Alicia para você chamar sua irmã até aqui algo muito grave está acontecendo.

Alicia respira fundo, fecha os olhos.

- Estou grávida!

Pronto. A bomba foi solta. Basta saber se estourou ou se deixou alguns feridos.

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O seu quarto estava do jeito que tinha deixado. Poncho respirou fundo e com dificuldade caminhou até a cama. Tudo no lugar, algumas roupas espalhadas pela cômoda e chão, livros jogados por trás da estante e na cabeceira um porta retrato com uma foto especial: Any estava linda com aquela blusa decotada vermelha e um sorriso de menina levada que ele amava. Pegou o porta retrato com o braço bom e se deitou abraçado a foto.

Mal sabia ele que no apartamento mais distante uma bomba tinha sido estourada. Respirou fundo, pegou o controle da televisão ao lado e ligou, colocando no seu programa favorito de esporte. Uma luta era televisionada o captou completamente sua atenção.

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Eleonora explodia em gritos e xingamentos. Alicia chorava encolhida no sofá e Any tentava acamar a mãe que estava enfurecida e revoltada. Foi nesse clima que Claudio encontrou sua casa ao entrar pela porta principal depois de um dia longo de trabalho, tudo o que queria era um banho de banheira, quem sabe uma massagem e então depois cairia num sono profundo e reparador. Grande engano. Parece que nada disso iria acontecer tão cedo. Se surpreendeu por ter acreditado que era possível descansar em paz depois de um dia exaustivo de trabalho. Era claro que sua mulher não deixaria.

- O que está acontecendo aqui?

Alicia chora mais alto ao ver o pai.

- Eu posso explicar, papai. – Any se precipita antes da mãe. – Alicia veio aqui contar uma coisa grave para vocês. – Olhou com pena para a irmã. – Ela está grávida.

E de fato aquele não seria uma noite tranquila e em paz. Um murro foi dado em seu rosto e ele nem se deu conta. Sua filhinha, sua caçulinha está grávida! Um absurdo, um cúmulo! Tão criança... Tão jovem e já vai ser mãe.

Antes que pudesse falar alguma coisa. Sua amada esposa se pronunciou.

- Quero que arrume suas coisas e vá embora dessa casa.

Espera. Não é assim que se resolve as coisas, pensou. Era ele quem tinha que colocar ordem nessa casa, essa situação já estava saindo do controle.

- Eleonora, você não pode colocar outra filha para fora de casa. Como quer educa-las se com qualquer problema você as manda embora?

- Fica quieto Claudio. Alicia passou de todos os limites.

- É nossa filha! – Olhou sério para as meninas. – Vocês podem nos deixar a sois?

Any assentiu e saiu junto com a irmã. Se trancou no quarto que um dia foi dela. Gritos, raiva, xingamentos, choros, e depois nada. O silêncio absoluto.

Alicia acabou dormindo encolhida no colo da mais velha que ainda acariciava os cabelos loiros da irmã. Completamente inerte em seus pensamentos. Não sabe dizer até que horas ficou assim. Mas quando levantou a cabeça, a porta foi aberta, seu pai com cara de cansado, ombros caídos, mais com um sorriso no rosto.

- Alicia fica. E você pode ficar se quiser. Sua mãe está arrumando as coisas dela.

E então Any entendeu.

- Eu sinto muito papai.

- Eu também. – Ele senta na cama ao lado delas. – Como ela esta?

- Chorou muito, mas vai ficar bem.

- Quando quiser voltar, esse quarto será sempre seu.

- Dormirei essa noite aqui, mas acho que quero continuar morando com a Mai.

Claudio sorri cansado, beija a testa da filha mais velha e sai do quarto.

As coisas estavam mudando.


Te EsperareiOnde histórias criam vida. Descubra agora