O Protagonista é um Bastardo!

Capítulo 11 - Madame Chen

Aproximei-me da senhora que me aguardava no pavilhão. Ela usava vestes de um tom turquesa e verde escuro e seus cabelos estavam arrumados em um penteado complexo, com vários enfeites de ouro. Quando fiquei frente a frente com ela, no entanto, levei um grande choque.
Pelo seu porte confiante e refinado, podia-se ver que era uma senhora casada há muito tempo.

Sua elegância não era a mesma de um jovem flor que desabrocha, mas de uma árvore frondosa que resplandece carregada de frutos e flores. Essa beleza era incomparável, muito superior a qualquer uma que eu já tivesse visto. Seu rosto era harmonioso e bem feito, seu olhar gentil era adornado por belas pálpebras duplas e sobrancelhas finas. Entre elas, havia um pequeno desenho de uma flor, prateada.

Chen Na. Esposa de Chen Hao, general da cidade de Ba. Uma dos cinco abençoados, agraciada com rara beleza por uma divindade de uma ameixeira.
Estava tão atordoado que não sabia nem como reagir. O que está senhora poderia querer comigo afinal?
"Senhor Du?" Ela perguntou. Sua voz era cristalina como o som de um rio.
Assenti de leve com a cabeça, ainda embasbacado.

"Sente-se, por favor." A senhora Chen indicou um assento à sua frente. Obedeci em silêncio. De certa forma, a minha reação neutra pareceu deixá-la um pouco ansiosa.
"Eu primeiro lugar, gostaria de agradecer sua delicadeza em aceitar ouvir meu pedido." A senhora Chen abaixou levemente a cabeça em sinal de agradecimento.

Delicadeza? Não minha senhora, eu fui dopado, sequestrado e mantido prisioneiro há três dias nessa mansão!
"Wo Dan me avisou que você não aceitaria qualquer pedido, então refleti muito sobre o que deveria fazer... então eu decidi explicar a minha situação desde o início, para que não houvesse dúvidas." Ela disse em um tom baixo. As servas que a acompanhavam serviram o chá, alguns doces e saíram discretamente após isso.

Sem querer, acabei perguntando por curiosidade:
"O que Wo da-ren lhe contou?"
Era melhor saber o que ele disse, havia uma grande chance de ser alguma mentira. Chen Na sorriu.
"Disse que você era uma pessoa severa, que não faria nada que ultrapassasse seus princípios."
Bom, ele não exagerou ou mentiu como pensei que faria.

"Se bem que meu primo não seria a pessoa adequada para falar de você. Wo Dan também sempre foi muito rigoroso em certos aspectos e tem um temperamento difícil de conviver, mas ele é amoroso e atencioso com pessoas próximas."

Franzi a testa. "Vocês são primos?"
"Sim. Por parte de mãe. Vivíamos próximos em Ba, ele é quatro anos mais novo. Hoje seu humor está melhor, quando criança ele até apanhava em brigas quando achava que algo estava errado e tentava intervir."

A ideia de um Wo Dan criança brigão, teimoso e todo machucado me passou rapidamente pela cabeça. De fato, parecia ser o feitio dele e minha boca esticou-se em um sorriso involuntário.

"Nós éramos bem pobres nesta época, mas a mãe dele sempre compartilhava em segredo alimentos com a minha família. O pai de Wo Dan era um ex-pugilista que se tornou um assassino, uma pessoa muito violenta que acabou tendo um fim trágico."

Esse tipo de estória parece familiar, muito comum de se ouvir.
"Ele cobrava dívidas, assassinava a mando de outros, agredia a própria esposa e filho." Ela conclui, como se soubesse que talvez o gênio ruim de Wo Dan pudesse ser justificado por um passado triste.

O pai de Wo Dan havia sido um discípulo muito promissor de um monge que vivia isolado em um templo nas montanhas. Porém, esse Wo ao descer para a vida mundana, encontrou grandes dificuldades, das quais seu coração não foi capaz de suportar e ele desviou-se de seu dao [1].

Este homem chamava-se Wo Pung e entrou para a criminalidade, matando em troca de dinheiro, bebendo e gastando ouro com mulheres nas casas de prazer. Mesmo diante de tantas mulheres a sua disposição, Wo Pung acabou se encantando com uma jovem, filha de uma camponês pobre.