Capítulo 18 - O Sábio Aprende com os Erros dos Outros.

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Um senhor de idade apareceu com um papel de compra. No último momento ele convenceu o filho do comerciante falecido a me vender pelo dobro do preço pelo qual fui comprado. A princípio, o filho não queria vender-me, obedecendo ao último desejo de seu pai..., mas diante da oferta generosa e de seu coração ambicioso, ele concordou.

Afinal, um escravo inútil e pequeno a menos não faria falta para seu pai na outra vida. Os homens que haviam me arrastado me tiraram da cova e me empurraram para o meu novo dono. Estava tão amedrontado que caí de joelhos diante dele, com as pernas fracas e prostrei-me agradecido.
"Você é..." O velho ajudou a me erguer e encarou o meu rosto.

Depois de um tempo de uma respiração em que ele parecia chocado, ele respirou aliviado. Por fim, ele voltou a si e disse:
"Venha comigo."
Segui-o até uma pousada, onde ele alugou um quarto e pude tomar um banho decente, como não via há anos.

Este mesmo senhor preparou a água quente e me esfregou com delicadeza até sair toda a terra que restou em mim. Depois levou-me para comer, pedindo cinco pratos diferentes de comida no restaurante da própria pousada.

Não conseguia acreditar na minha sorte. Eu fui salvo, pude tomar banho e comer à vontade em um único dia? Comi praticamente chorando e em nenhum momento o velho recriminou a minha falta de modos.

Havia uma tristeza profunda em seu olhar, e ele não tirava os olhos de mim. Pensei que estava sendo mal-educado e ofendendo a boa educação que meus pais me deram, então indireitei o corpo e tentei comer mais devagar.

"Não se preocupe, pode continuar a comer à vontade." Ele disse ao perceber minha súbita formalidade e bebeu um pouco de chá para limpar a garganta.
"Na verdade, eu queria me explicar mas não consigo. Sinto minha garganta seca."

Eu voltei a comer pois estava faminto, porém estava o ouvindo atentamente. Aquele senhor parecia estar suportando um fardo enorme e de repente senti uma grande simpatia por ele. Como dois amigos que se conhecem na cela de uma prisão.

"Meu nome é Du Yuhan." Ele disse por fim. Levantei a cabeça da minha tigela de arroz, atônito. Du também? Somos parentes?
"Eu... eu sou seu avô paterno." Du Yuhan hesitou, mas por fim decidiu falar.

Du Yuhan contou o que aconteceu entre ele e meu pai, sem tentar amenizar sua culpa, ele foi minucioso na narrativa. Quando a seca assolou a região, seu coração sobressaltou-se e ele finalmente decidiu nos procurar. O único problema foi que era tarde demais... nós já havíamos nos mudado após o incidente do roubo.

Depois disso, Du Yuhan continuou a nos procurar e descobriu a morte do filho e da nora. Então tentou me rastrear e acabou descobrindo que eu havia me vendido como escravo.

Foi difícil conseguir o nome do comprador e quando encontrou, este já estava morto. Ele pretendia negociar com o filho do negociante a minha compra, mas quando soube o que estavam fazendo ele entrou em desespero e disse que pagaria o preço que fosse pela minha vida.

Então esta foi a minha sorte, se ele demorasse mais o tempo de uma queima de incenso eu estaria morto.
Não senti raiva dele e nem o culpei. Nessa estória tanto ele quanto eu somos iguais. A morte de Du Ruyi era nossa responsabilidade e tudo o que me aconteceu era apenas culpa minha.

"Eu sei que não adianta eu pedir perdão por tudo que aconteceu... eu demorei demais e agora estou pagando o preço pelo meu orgulho tolo. Du Fushi, é este seu nome?"
Concordei com a cabeça.

"Se você quiser, gostaria de viver comigo? Senão, eu posso custeá-lo, você pode estudar e viver onde e como quiser. Se não quiser me ver nunca mais, eu compreendo, mas quero que aceite a parte que lhe é devida e tenha uma vida mais confortável."

O Protagonista é um Bastardo!Onde histórias criam vida. Descubra agora