O Protagonista é um Bastardo!

Capítulo 17 - O Tolo Aprende com os Próprios Erros.

*Aviso de Gatilho*
O capítulo a seguir contém cenas de violência e crueldade.

Quando eu era pequeno, por volta dos meus seis anos, eu vivia com meus pais em uma vila pobre. Meu pai, Du Ruyi, era filho único de Du Yuhan. Du Yuhan era mestre nas Seis Artes [1] e um erudito afamado. Du Ruyi não era diferente do pai, sendo a estrela de seus olhos.

Porém, Du Ruyi tinha um espírito modesto, amava o campo e a simplicidade, evitando expor-se em público. Seu pai o amava mas não suportava sua falta de ambição, chegando muitas vezes a discutir com o filho sobre isso. Du Ruyi, no entanto, mantinha-se apenas em silêncio.

Quando Du Yuhan ficou viúvo, ele achou por bem casar seu filho, para que ele não ficasse só no mundo quando ele também cruzasse o Rio Amarelo. Du Yuhan procurou uma casamenteiro e acertou o casamento do filho com a filha de um comerciante de perfumes. Mesmo que seu filho não tivesse ambição, ao menos ele poderia viver bem como comerciante.

O único problema era que, em segredo, Du Ruyi estava cortejado uma moça, uma donzela da vila onde vivia mesmo, porém sem nenhuma posse. Diante do casamento arranjado, Du Ruyi foi obrigado a contar ao pai que já havia uma mulher senhora de seu coração e naquela noite pai e filho romperam relações definitivamente.

Du Ruyi fugiu com a moça e casou-se com ela, indo morar na vila mais próxima. Ele montou uma pequena escola e vivia com o pouco dinheiro que ganhava com as aulas.

O casal viveu afastado de suas famílias com uma vida relativamente estável por dois anos e tiveram um filho, eu, Du Fushi. A moça teve um parto difícil e complicações que a incapacitaram de ter mais filhos, então Du Ruyi passou a tratar seu único herdeiro com todos os cuidados.

Du Yuhan acompanhava a distância todos estes acontecimentos, porém seu orgulho era muito grande para que ele decidisse procurar seu filho. Várias vezes ele chegou a pegar o caminho para a outra vila, na esperança de conhecer o próprio neto e chamar seu filho e a nora para voltar a viver com ele, mas o velho sempre voltava atrás.

Sua determinação, entretanto, foi o fim de toda uma família. Uma grande seca assolou a região por dois anos seguidos e os moradores da vila não tiveram como pagar as mensalidades a Du Ruyi. Como resultado, Du Ruyi teve que procurar outras formas de sustentar sua própria família, mas estava sendo difícil. Ele era um estudioso e não era apto a lidar com trabalhos braçais.

Mesmo assim, ele procurou pequenos afazeres nas terras que ainda beneficavam-se de algum fluxo de água próximo e trabalhos manuais com alguns marceneiros.

Mesmo assim sua pequena família estava passando fome e sua esposa, que tinha uma saúde fraca, ficou debilitada.
Nunca tivemos fartura de alimentos, mas ver minha mãe doente e passar o dia todo com o estômago doendo não era fácil.

Uma noite, quando a fome se tornou insuportável, acabei saindo de casa, em busca de algo para comer. Fui até a casa mais próxima e vi que o vizinho tinha conseguido alguns sacos de grãos. Pensei que como havia dois, eles poderia ceder um para nós e peguei um.

Nesse momento, alguém me agarrou por trás. Era a esposa do vizinho. Não entendi porque ela estava tão brava, o filho dela sempre esteve na mesma sala que eu e nós nos dávamos muito bem. O marido dela então veio e me arrastou pelos cabelos, me bateu, e por fim me levou até o chefe da vila. Ele gritava tanto que meus ouvidos doíam.

A esta altura eu não conseguia entender mais nada do que estava acontecendo, até que meu pai foi chamado.
"Du Ruyi! Nós o acolhemos nesta vila só para a sua família vir e roubar o que é dos outros na calada da noite???"
Du Ruyi ouviu as acusações e sabia que mesmo eu sendo uma criança, eu poderia ainda ser severamente punido.