Capítulo 12 - O Pedido da Senhora Chen

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"Depois da morte de Wo Pung, a família de Wo Dan passou a viver conosco. Eles venderam a propriedade e com o dinheiro passamos a viver todos juntos." Chen Na prosseguiu. Sua voz é tão suave que ela seria uma boa contadora de estórias, se por acaso tivesse algum interesse em seguir este caminho.  Há poucas mulheres neste ofício, mas eu acho que as vozes delas combinam bem para interpretar os enredos, se bem que qualquer voz bonita me atrai a atenção. Mas continuando com a estória anterior:

Wo Dan e sua mãe foram viver com a família de Chen Na, mas não foi um convívio pacífico. Mesmo eles contribuindo com dinheiro para suas despesas, eles foram tratados injustamente. Apenas Chen Na demonstrou gentileza para com o primo e a tia, ajudando-os escondido dos  próprios pais.

Agora entendo porque Wo Dan me perseguiu por seis meses. Sendo ele parente de Chen Na e tendo recebido ajuda e carinho por parte dela, ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudá-la.

"Vivíamos tempos muito difíceis." Chen Na suspirou e tomou um gole de chá. Eu também fui servido, mas estava prestando atenção à estória e esqueci de tomar o meu, que ficou ligeiramente morno, mas ainda bebível.

"Eu tinha uma irmã mais velha também. Ela era muito bonita e meus pais tinham grandes expectativas que ela se casasse com um bom marido. No entanto, eu não era tão bem feita, meu corpo era muito magro e a minha pele escura de tanto trabalhar sob o sol." Chen Na continuou.

Um dia, uma casamenteira procurou os pais de Chen Na. Ela veio a mando de um oficial do exército, ainda de baixa patente na época, procurar uma noiva. Esse oficial tinha uma má fama, como de ser cruel e rude, e os pais tiveram medo de casar sua adorada filha mais velha com ele.

Então eles tiveram a ideia de, no dia do casamento, trocar as filhas, oferecendo a mais nova no lugar da primogênita.
O noivo não descobriria a troca até chegar o momento das núpcias.

"Eu sempre soube o que eles pretendiam, e confesso que chorava escondido sob uma velha amexeira que crescia no campo. Wo Dan era o único que me confortava nestes momentos, mas ele não podia fazer nada também. Depois que o dinheiro de sua família acabou, era como se eles vivessem de favor na nossa casa, e não tinham nenhum direito ou chance de opinar."

"Um dia antes do casamento eu estava fazendo justamente isso, chorando e lamentando minha sorte embaixo da árvore. Wo Dan trouxe algumas jujubas para compartilhar comigo, lembro que ele chegou a dizer que se meu esposo me maltratasse, ele o mataria. Até ri disso, lembro que ele só tinha doze anos, mas seu comportamento era feroz como um tigre."

Imagino que sim, acho até que o velho monge já não o pegou para educá-lo como discípulo supondo que ele seria igual ao pai.

"De repente, a ameixeira brilhou intensamente e ficamos muito assustados com isso. Nós dois vimos então a divindade da árvore surgir. Ela era extremamente bonita, lembro até hoje como fiquei encantada, era como ver as próprias flores desabrocharem..."

"Ela chamou-me pelo nome e prometeu que assim que eu casasse e meu véu de noiva fosse levantado, eu seria uma das maiores belezas já vistas no mundo..." Havia uma ponta de tristeza em sua narrativa, e eu também já sabia o porquê.

O esposo de Chen Na descobriu que ela era a irmã mais nova, mas ficou encantado com uma beleza tão exuberante. Ele não se vingou dos pais de Chen Na por tê-lo enganado, mas também não os ajudou mais além do que o valor do dote pago. E ao contrário do que os boatos diziam, ele não era cruel e tratou a esposa muito bem, com gentileza e amor sincero.

Logo, este oficial de sobrenome Chen conseguiu uma alta patente graças a seu bom desempenho e habilidade, chegando ao posto de general, depois de alcançar grandes méritos na unificação dos outros estados ao reino de Qin.

O Protagonista é um Bastardo!Onde histórias criam vida. Descubra agora