Capítulo 8 - Colocando as Cartas na Mesa.

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A espada de Huo Mao colidiu com o piso do chão bem à minha frente. Meu rosto estava úmido de lágrimas e suor e eu nem sequer tinha forças para me erguer. Desesperado, acabei sucumbindo ao estresse no chão, encarando meu reflexo devastado na ponta da lâmina. Que humilhação... Escutem meu conselho: fiquem longe de pessoas de alta patente.

"Eu pensei que você era um covarde... mas você aguentou até o último momento." Wo Dan meneou a cabeça enquanto apoiava o queixo na mão, mas ele não parecia tão surpreso.
"Mas agora quero que você prove o que disse."

Levantei-me de supetão, definitivamente irritado.
"Você me torturou mentalmente até eu confessar e agora quer que eu prove o que eu disse?! Pensei que tivesse convicção absoluta de quem eu era! Até pensei que você estava comigo na hora em que recebi esta maldita benção!"

"Ora, este ratinho na verdade é um verdadeiro tigre!" O juiz riu com deboche.
"Me solte e devolva a pipa, vou contar a estória que você tanto deseja então!" Retruquei, rangendo os dentes de raiva. Não suporto o sarcasmo deste homem!

"Oh, você precisa da pipa então?"
"SIM! Ela foi abençoada junto! Tem uma marca prateada igual a minha atrás dela!"
Como um bom juiz, Wo Dan foi conferir, achando a mesmo desenho que viu no meu pulso, idêntica a do hexagrama.

"Só há uma... o que são as outras?"
Não é da sua conta!
"Diga logo que estória você quer!"
"Você não é capaz de criar estórias a seu bel-prazer? Crie alguma bem simples só para demonstração."
Wo Dan deu de ombros e eu quase cuspi sangue de tanta raiva.

Ele fez um sinal e fui desamarrado.
Hio Mao devolveu-me a pipa. Sua expressão era tão neutra que eu quase pensei que ele também fosse um coração de pedra, igual seu mestre. Bom, devia ser mesmo.

Só Yang Ming, que talvez  teria alguma compaixão, foi afastado junto com os demais guardas, para ficarem do lado de fora. Só restou eu, Huo Mao e o juiz carrasco. Bufei com irritação, pelo menos minha identidade  não seria anunciada aos quatro ventos por aí.

Comecei a tocar a introdução. Não foi diferente das outras vezes em que toquei. Todos ao redor sentiram a estranha vibração gelada envolvê-los, como se todos tivessem cordas invisíveis presas em seu peito, vibrando também.

"Eu não posso contar a estória para alguém sem permissão da pessoa, vou contar para mim então." Comentei sem expressão.

"Na mansão do juiz Wo, o contador de estórias Du Fushi, conheceu a senhora Ko.
Após contar a ela um estória sobre a rainha de reinos distantes, a senhora Ko ficou muito encantada e lhe deu um pingente de jade como agrado."

"Entretanto, a caminho de sua casa, a senhora Ko lembrou-se que dias atrás recebeu de presente uma grande quantidade de tâmaras [1], sendo que ela mandou fazer um bolo recheado com elas para trazer ao banquete do juiz Wo.
Mas encantada como estava com a apresentação, ela se esqueceu de oferecer a iguaria."

"Sendo assim, ela enviou um servo, mesmo tarde da noite, para levar o bolo até a mansão do juiz e pediu que entregassem ao contador de estórias mais este presente como prova de seu agrado pela estória de antes."

Encerrei a apresentação com um trinado rápido na pipa. A sensação gélida que pairava no ar desapareceu, só restando um leve entorpecimento, principalmente nas pontas dos meus dedos. Agora era só esperar.

"Du Fushi? Este é o seu verdadeiro nome?"
"Sim. Este é o meu nome de verdade, eu garanto." Jurei.
"Por que escolheu as tâmaras?" Wo Dan continuou a perguntar, ele parecia querer realmente entender todas as minhas ações.

O Protagonista é um Bastardo!Onde histórias criam vida. Descubra agora