Capitulo 63 - Vivendo sozinho.

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Fazia duas semanas desde que parti de Ba. A princípio não sabia para onde ir e corri desenfreadamente sem rumo mesmo, sem parar sequer para beber água. Depois disso, cai sem forças em um barranco qualquer e fiquei jogado lá, absolutamente imóvel por um dia inteiro, até que voltei a sentir minhas pernas. Elas queimavam como se estivessem pegando fogo e minha língua estava seca e dura.

A contragosto, levantei-me e usando um pouco de qi verdadeiro, derreti um pouco da neve para beber água. Parecia que eu estava muito longe de qualquer outra fonte de água e quando as primeiras gotas desceram pela minha garganta, a sensação refrescante aliviou meu calor interno.

Peguei minha bolsa e avaliei os itens que havia trazido aleatoriamente comigo. Um pouco de dinheiro, uma muda de roupas simples, uma pequena faca que eu usava para quase tudo... e por fim havia um pequeno estojo de madeira, que eu estremeci assim que o vi, mas mesmo assim, o abri. Era o pincel que Wo Dan havia me dado...

Olhei para este pequeno artigo de luxo. Eu o guardei na bolsa de viagem porque era algo do qual eu não queria me separar nunca mais. Era a lembrança do compromisso que eu havia assumido de morar e me estabelecer em Jiang, com ou sem Wo Dan. Porém, eu não sabia nessa época quem era este bastardo de verdade e agora eu sentia que nunca mais desejaria contemplar aquele rosto.

Pior foi me lembrar dele justo agora. Imagens de seu sorriso, de seus olhos, vieram logo à minha mente, torturando meu coração. Agarrei minha cabeça, apertando-a com força. Esqueça-o! Esqueça! Ele não te ama! Nunca te amou!

"Aaaah!" Gemi alto, caindo de joelhos. Queria arrancar estas lembranças e cheguei até a pensar em contar uma estória onde eu batia a cabeça e perdia a memória. O problema seria se eu o reencontrasse no futuro e fosse enganado de novo, então desisti da ideia. Era melhor não esquecer mesmo o que este bastardo havia feito!

Com o tempo isso vai passar... se eu me manter suficientemente longe, vou esquecê-lo...
Tomei a firme decisão de voltar para minha terra natal, a passos de tartaruga. Wo Dan poderia ainda vir atrás de mim, para pôr um ponto final na minha participação em sua vida... sendo assim, evitei as estradas principais e qualquer contato com pessoas ou vilarejos.

Caminhava de dia e de noite, dormindo poucas horas, porém não estava encontrando a direção correta para o sul. No fim, eu estava perdido de todas as formas possíveis. Também não me importei com isso. Que se dane tudo!

Às vezes a prostração vinha e eu ficava horas deitado, apenas olhando o pincel. Tive o ímpeto de quebrá-lo, mas nunca o concretizei. Então voltava a lembrar... do dia em que Wo Dan me levou para ver as estrelas, quando brincamos na neve e comemos o café da manhã no jardim palaciano.

Sentei embaixo de uma árvore morta e comecei a chorar. Chorei tudo que estava preso em meu peito até me sentir oco e vazio como aquele tronco podre. Quando senti que não havia mais lágrimas para verter e que meus olhos estavam tão inchados que eu mal conseguia enxergar, mudei a direção do meu caminho. E passei a vagar rumo ao norte.

Sim, eu voltei para Jiang. Voltei porque queria ver Wo Dan, pelo menos de longe. Eu tentei passar meus dias longe dele, tentei não pensar nele, tentei sentir raiva, ódio... mas tudo esfriou e agora eu sentia saudade.

Queria poder vê-lo e queria saber como estava as pessoas que eu conheci em Jiang, o dono do restaurante, o professor... também queria ver se Yang Ming finalmente marcou seu casamento e se Huo Mao estava orgulhoso de seu afilhado.

Além disso, se Wo Dan ainda estivesse me procurando, ele não pensaria que eu estaria bem embaixo de seu nariz. O normal seria ele conduzir as buscas para o sul e para minha terra natal, para onde eu queria originalmente fugir. Que ingenuidade a minha pensar em voltar para Panyuo...

O Protagonista é um Bastardo!Onde histórias criam vida. Descubra agora