- Samantha, você é uma enfermeira. Entende a gravidade disso? - o diretor do hospital fechou a porta atrás de mim assim que entrei na sala dele.
- Gravidade? O paciente estava com as vias obstruídas, como pode ser mais grave? - me virei para falar com ele e o mesmo passou em minha frente, se sentando no sofá social do cômodo.
- Você não é médica! - apontou para o sofá, fazendo menção para eu me juntar a ele.
- E onde o médico estava? - engoliu seco e desviou o olhar. - E se o paciente morresse, Daniel?
- E se você errasse a intubação?
- Não errei em nenhuma das dez vezes que tive que fazer isso.
- A questão não é essa. - passou a mão em seus cabelos, nervoso.
- E qual é? - alterei o tom de voz.
- Tinha pacientes lá, outros funcionários que podem denunciar o que você fez! - olhei para ele sem reação, aquilo já não me fazia bem. - Das outras vezes foi no sigilo, somente com pessoas que não iriam prejudicar nem você, nem a mim e nem ao hospital.
- Você nem está ligando pra mim, é pelo hospital. Mas sabe de uma coisa? - fui de encontro a porta. - Eu fiz pelo paciente, sempre é pelo paciente. E eu me demito. - Daniel levantou assustado.
- Samantha, não é assim que se resolve as coisas. Fique um dia em casa e amanhã nós conversamos. - fechou a porta quando abri para sair dali.
- Não! - abri novamente a porta. - Não vou tomar nome por fazer o serviço dos outros. - no corredor tiro meu jaleco e meu crachá. - Enquanto os seus preferidos não conseguem ficar um plantão sem tirar uma soneca, nós ficamos ali junto ao paciente que reza para passar mais uma noite.
- Samantha... - entrego os itens para ele.
- Você acha justo me dar bronca por eu salvar uma vida? Você acha que eu ia ver o paciente asfixiar até morrer? - Daniel olha em volta, com vergonha.
- Era só esperar o médico chegar.
- Eu queria ter o coração tão podre ao ponto de acreditar que o médico estava correndo pra lá. - ri ironicamente. - Eu deveria ter deixado a família te processar por negligência. - me virei para ir embora dali e vi a quantidade de pessoas olhando com o celular apontado, apenas ergui a cabeça e saí dali.
Chego em casa e sento em meu sofá, começo a repensar minha vida toda. Todos esses anos me dedicando. É, sem emprego Samantha Barone, sem emprego. Qual é, eu fui enfermeira, consigo carregar uma bandeja com alguns copos e pratos. Meu Deus, eu vou pedir meu emprego de volta.
O celular vibra em meu bolso, pego o aparelho e ele desbloqueia as mensagens assim que reconhece meu rosto
ClaraClarita: como assim você tá circulando no twitter
Eu: não é mais twitter, é X
Eu: e eu o que ??????????Clarita: vai lá ver, te mandei no insta a página que postou no twitter
Abro o insta e vou no direct dela
X
@clasap30: Enviou um post de @choquei
Meu deus do céu.
" - Não vou tomar nome por fazer os serviços dos outros. Enquanto os seus preferidos não conseguem ficar um plantão sem tirar uma soneca, nós ficamos ali junto ao paciente que reza para passar mais uma noite.
- Samantha...
- Você acha justo me dar bronca por eu salvar uma vida? Você acha que eu ia ver o paciente asfixiar até morrer?
- Era só esperar o médico chegar.
- Eu queria ter o coração tão podre ao ponto de acreditar que o médico estava correndo pra lá. Eu deveria ter deixado a família te processar por negligência."
E o vídeo acaba.
DM X
Clara@clasap30: viu?
@samyb: não é possível isso não
@clasap30: famosa
@samyb: não foi eu que fui convidada pra festa da forbes
@clasap30: foi muito bom
@samyb: já disse isso mil vezes
@clasap30: mil e uma, foi muito bom
Saio do chat e circulo no mesmo app, até que aparece uma foto minha vinculado aos meus tios na mesma página de fofoca que postaram meu vídeo
"URGENTE 🚨: "Sobrinha de Cynthia Luz e Renato Alves (Froid) é a enfermeira do vídeo (volte 2 posts)"
Meu celular vibra novamente e já estou preparada para ver o nome da Clara na tela, mas não. As notícias correm rápido pelo visto.
- Sr. Renato, que honra. - atendo.
- Oque aconteceu?
- Comigo está tudo bem sim.
- Samantha... - repreendeu
- Fiz a coisa certa e me chamaram atenção.
- Você precisa descansar.
- Não, eu tô bem.
- Você não tirou férias, trabalhou direto em feriado, vendeu suas folgas. Você acha que sua tia não me conta?
- Eu tô bem, juro.
- Sei. Depositei o dinheiro esse mês.
- Você sabe que eu não uso aquele dinheiro.
- Por precaução está lá.
Pude ouvir Helena chorando ao fundo.
- Tenho que ir, problemas aqui.
- É, sei. - ri.
- Eu te amo.
- Também te amo.
ClaraClarita: passagemsamantha.pdf
Eu: que isso?
Clarita: vem pra fortal
Eu: meu tio te ligou?
Clarita: sua tia
Eu: não vou
Clarita: seu cu
Penso no que meu tio disse "Você precisa descansar."
Eu: tá calor aí?
Clarita: é fortal
Eu: tá bom, para de insistir
Clarita: te espero no aeroporto amanhã
Eu: tá bom
Clarita: te amo, fica bem
Eu: eu estou bem, te amo
Não vou me culpar por querer ir, adotei uma rotina de só trabalhar e sair disso já está me causando um desconforto enorme.
