17 - Profissões de Verdade

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— CAPÍTULO DEZESSETE —

Profissões de Verdade

— Eu não sabia que ele era... Isso.

— Eu nunca ia imaginar!

— É meio.... Nojento, não é?

O burburinho incessante acompanhava Hoseok pela escola o tempo todo, aonde quer que fosse. Na biblioteca, nos banheiros, durante as aulas, no Salão e até nos dormitórios. Do café da manhã ao jantar, não se falava em outra coisa.

Kim Taehyung beijou um garoto.

— Acham que ele gosta dos dois? Meninos e meninas?

— Deve gostar, ele já saiu com duas garotas do nosso ano!

— E se ele for indeciso?

No começo Hoseok entrou em pânico. Como descobriram? Estávamos sozinhos!, ele pensou. Mas o choque o atingiu como um feitiço paralisante (ou uma bofetada bem dada, ainda não havia se decidido): Taehyung havia beijado Jungkook.

Foi horrível descobrir por terceiros, ouvindo a fofoca contra a própria vontade, e ele nem acreditou de primeira. Era impossível. Os dois nem se gostavam. Não daquele jeito. Taehyung teria lhe contado se tivesse sentimentos por Jungkook.

Contaria, certo?

— Me empresta a sua balança? A minha quebrou.

Quando um Taehyung nervoso e hesitante confirmou a história – os dois haviam de fato se beijado, durante a detenção – Hoseok não conseguiu descrever a amargura que se apossou dele. Tudo ficou vermelho e queimando, como os molhos picantes que sua mãe tanto adorava. Sentia-se capaz de cuspir fogo.

— Hoseok, a balança. Posso pegar emprestada?

— Pegue a merda que quiser — ele resmungou. — Não tô nem aí.

— Que bicho te mordeu? — perguntou Namjoon, mas não obteve uma resposta.

Estavam no meio de uma aula de Poções, uma bem importante, sobre um elixir poderoso ao qual Hoseok não dava à mínima. Não ouviu uma única palavra do que o professor disse e não leu nada no livro sobre como preparar o elixir. Picava rabos de lagartixa e os jogava no caldeirão sem prestar atenção ao que fazia.

Há alguns meses atrás, a ideia de Taehyung beijar Jungkook não o incomodaria de forma alguma. É claro que não, ele mesmo havia sugerido algo parecido. Mas agora tinha uma coisa diferente, uma coisa que enchia o peito de Hoseok e se condensava cada vez mais, a ponto de explodir.

— Ele me beijou primeiro... — Hoseok rosnou.

— O que disse? — perguntou Namjoon, salpicando pó de chifre de unicórnio em seu caldeirão.

— Nada.

O elixir de Namjoon girava e borbulhava baixinho, brilhando com uma textura iridescente. A coisa que Hoseok mexia no caldeirão chiava perigosamente e parecia lama.

— Acho que você botou lesmas demais... — opinou Namjoon, inclinando o corpo para trás, para o mais longe possível. — É melhor começar de novo.

Hoseok olhou para a gororoba gosmenta que o encarava de volta. Da última vez que se distraiu tanto em uma aula de Poções, foi parar no Ala Hospitalar com a mão direita coberta de bolhas de pus.

Que se dane! — ele resmungou e apagou o fogo abaixo do caldeirão. — Porcaria de elixir inútil!

Engarrafou a poção do jeito que estava – ia levar um D de Deplorável, sabia disso – entregou ao professor e rumou para fora da sala quinze minutos antes do sinal para o almoço soar. Olhou torto para as garotas sentadas atrás dele, que cochicharam absurdos durante a aula inteira, e bateu a porta tempestuosamente quando saiu.

Entre Poções e Vassouras • VhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora