Meu corpo despertou no segundo em que a cortina da sacada foi empurrads pelo vento, permitindo que os raios de Sol entrassem e se chocassem direito com meu rosto. Me sentei no mesmo segundo, cobrindo os olhos com as mãos, recobrando a consciência do que tinha acontecido na noite anterior.
Esfreguei minhas pálpebras com um sorriso idiota nos lábios enquanto lentamente, me lembrava o que tinha acontecido na noite anterior. Olhei ao redor do quarto, procurando algum sinal do ruivo. Franzi a testa, me levantando da cama e indo até o banheiro.
Nenhum sinal dele.
Comecei a então, vasculhar o quarto por qualquer pista e algo que não me deixaria arrependida de tê-lo aceitado. Nada, nenhum maldito fio de cabelo ruivo.
Chamei por ele, mas não obtive qualquer resposta, mesmo quando fui no quarto onde estavam instalados os demais membros da banda. Voltei ao nosso quarto e senti minhas mãos e pernas tremendo, mordi com força o lábio inferior e fui até a sacada tomar um ar.
Quando olhei para baixo, eu o vi re costas com as malas em mãos, pronto para partir. Minha boca ficou de maneira inesperada, seca. Eu forcei um sorriso e levantei o braço para que ele me visse, em uma vã esperança de que tudo não passasse de um mal entendido. Seus olhos me encararam de uma maneira fria e ele deu de costas, entrando no ônibus.
Eu senti, de maneira inesperada e dolorosa, como uma faca cortando profundamente meu peito. Minhas sobrancelhas se franziram ao perceber o que tinha acontecido.
Meu coração acelerou junto da minha respiração, me afastei da sacada com as mãos trêmulas e uma enxaqueca terrível com as palavras "Você foi usada" ecoando sem parar na minha cabeça.
- Mas que... Filho da... - A minha voz vacilou antes que eu andasse até a cama e me sentasse lá por alguns segundos.
Eu repeti para mim mesmas muitas vezes que o odiava e pensei que depois de tudo, isso seria bem, bem mais fácil, não foi. Não estava simplesmente com raiva, mas triste e isso era muito, muito pior.
- Você é uma burra, uma maldita idiota, Camilla. - Eu repeti para mim mesma várias vezes, respirando pesadamente com os olhos levantados para o alto, impedindo que a água despencasse do canto dos meus olhos.
De repente o telefone residencial tocou e de alguma forma, me senti ansiosa, desejando secretamente, que tudo aquilo não passasse de um mal entendido e que ele não tinha feito isso comigo.
- Alô!? - Agora, minha voz parecia entusiasmada e ansiosa.
- Milla? - Meu sorriso caiu no exato segundo em que a voz doce e carismática de Ruby falou. Apenas assenti. - Puxa, tá muito entusiasmada, hein? Como foi?
Fiquei em silêncio alguns segundos, olhando para um canto vazio do quarto. Minha visão começou a ficar embaçada, as lágrimas estavam se formando no canto dos meus olhos.
- Camilla...?
- Desculpa, Ruby, eu quebrei a promessa. - Eu disse, não pude esconder o quanto minha voz estava embargada enquanto falava.
Queria não ligar, agir como se não fosse nada, mas infelizmente, era.
- Camilla? Você está bem? O que aconteceu? - Sua voz doce agora parecia preocupada enquanto escutava meus suspiros e choramingos do outro lado da linha. - Me escuta, você ainda tem algumas horas aí, mas se quiser, eu busco você de carro.
- Por favor, eu não quero ficar aqui, nunca mais.
[...]
O resto do caminho de volta para casa foi silencioso, ela sabia que naquele momento eu não diria nada e eu também não queria explicar tudo que tinha acontecido.
Quando ela me deixou no meu apartamento, me deu um abraço forte e me senti mal por tê-la obrigado a me buscar no outro lado da Califórnia de carro.
Enquanto estava deitada no sofá do meu velho apartamento, não pude deixar de pensar no quanto tudo que tinha acontecido era culpa minha.
Depois de uma hora me autodepreciando, me levantei. Fui até as minhas malas no canto, perto da porta e joguei tudo fora até encontrar meu bloco de notas, caminhei pela casa até minha mesa onde escrevia a maioria das coisas e comecei a passar meus textos das entrevistas para o que deveria ser as sketchs dos tablóides, naquele momento, senti que estava um pouco furiosa.
Não, eu estava muito, muito furiosa.
[...]
Fiquei sentada na cadeira em frente a mesa do meu editor chefe, Louis Zeppa. Ele estava lendo atentamente cada palavra que eu havia escrito e estava nervosa. Como alguém poderia ler algo sem qualquer tipo de expressão? Me perguntei enquanto o encarava ler meus manuscritos com sua feição de tédio como sempre.
Ele terminou de ler e deixou os papéis sobre a mesa, me dando uma longa encarada. Ergui a sobrancelha e me inclinei para frente.
- E aí? - Perguntei, confiante, mas ainda sim, ligeiramente com medo da resposta.
- Camilla, você é uma garota maravilhosa e talentosa em muitos sentidos, tem uma escrita perfeita, - Suspirei, sabendo exatamente o que viria em seguida. - mas acho que nós dois sabemos que você não é o tipo de escritora que escreve para uma revista de fofoca.
Ergui os olhos, um pouco surpresa pela forma que ele estava se referindo a própria companhia.
- Eu sabia que se te dasse um espaço na coluna, você se mostraria maior que o que a companhia se propõe a ser, não é algo que deve ser obrigada a fazer se não quiser, mas se estiver pronta, pode deixar a revista e saiba que sempre vai ter um lugar para voltar.
- E se você estiver errado?
- Não estou. - Ele disse se levantando. - Vou publicar seu tablóide, bom trabalho, Hernandez.
[...]
Quanto mais eu pensava no que o meu chefe havia dito, mais aquilo ecoava na minha cabeça. Embora meu plano inicial não tivesse sido entrar em uma revista de fofoca, sabia que aquilo não era o que eu deveria fazer. O que realmente queria e deveria fazer, era escrever artigos que ajudassem pessoas e não ferissem outras.
Talvez a minha experiência nada boa com Dave fosse uma lição, mesmo que eu tivesse brava o suficiente para lhe dar um soco se ele aparecesse na minha frente.
Quer dizer, eu deveria imaginar. Qual é, o cara é a porra do Dave Mustaine. Pensei que era inteligente o suficiente para não me deixar ser seduzida por ele, mas sabia que uma hora ou outra, aquele ódio implodiria e se tornaria algo maleável, estava certa. Não poderia ficar chorando pelo resto da minha vida, agora era a minha hora.
݁ ˖🎸 ༘ ⋆˚♫๋࣭ ₊ ⊹✎
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Hotel Room 315 • Dave Mustaine.
FanficCamilla Hernandez era uma recém formada estudante de jornalismo que buscava seu lugar na indústria do 'papel' e das 'entrevistas'. Ela começa a trabalhar para uma companhia conhecida principalmente por suas matérias sensacionalistas e ataques direto...