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Annelise Sullivan

A aula desse professor era um verdadeiro suplício, um mar de tédio que parecia não ter fim. Ele se expressava de forma confusa, saltando de um assunto para outro sem qualquer conexão aparente, e ainda tinha a audácia de reclamar quando ninguém conseguia responder às suas perguntas enigmáticas.

É inacreditável que alguém com formação para ensinar seja tão incompetente nessa tarefa. Ao invés de transmitir conhecimento de forma clara e envolvente, ele apenas se lamenta e culpa os alunos por sua própria ineficiência.

Sinceramente, é insuportável ter que suportar essa situação.

De repente, a porta da sala foi aberta com ímpeto, revelando a figura marcante de um indivíduo em particular. Vestindo uma calça preta justa e uma jaqueta de couro também preta, com uma camiseta branca por baixo, ele exibia uma correntinha no pescoço, brincos na orelha e piercings no lábio e na sobrancelha. Seu cabelo estava levemente desgrenhado, mas com um corte novo que lhe conferia um ar descolado.

Se minha memória não me falha, ele estava ostentando um mullet.

— Atrasado, como sempre, Miller. — O velho ranzinza resmungou, retirando os óculos para limpá-los na manga de sua blusa.

— Sim, eu sei. — Miller respondeu com uma calma desconcertante.

— Seu lugar foi ocupado, sente-se ao lado da Sullivan. — Meu coração gelou instantaneamente, enquanto eu podia jurar que vi um sorriso se formar no rosto dele.

Com um misto de surpresa e apreensão, Miller caminhou em direção à carteira ao meu lado. Meu coração acelerou, e uma onda de emoções contraditórias tomou conta de mim. Ele era o meu ex-namorado, e estar tão perto dele novamente despertava lembranças dolorosas e sentimentos mal resolvidos. Enquanto me acomodava na cadeira, não pude deixar de notar o olhar malicioso que ele lançou em minha direção, como se soubesse exatamente como suas palavras poderiam me afetar.

— Então, Anne, parece que o destino nos uniu novamente. — Miller provocou, com um sorriso de canto nos lábios.

Ergui uma sobrancelha, tentando manter minha postura firme e desafiadora.

— Não confunda coincidência com destino, Aaron. Acredite, não estou aqui por vontade própria.

Ele se inclinou levemente em minha direção, intensificando a tensão entre nós.

— Ah, mas eu diria que o universo conspira a nosso favor, Annelise. Afinal, não é todo dia que temos a oportunidade de reviver nossas memórias juntos.

Suspirei, sentindo a irritação crescer dentro de mim. Eu não queria reviver o passado, muito menos com ele.

— Não confunda memórias com um passado que prefiro deixar para trás. Estamos aqui para aprender, não para reviver relacionamentos fracassados.

Meu Deus, como esse cara me estressava.

Aaron fingiu inocência, mas eu sabia que ele estava apenas provocando.

— Ah, mas quem disse que estou interessado em reviver o passado? Talvez eu esteja apenas curioso para saber se você ainda é tão temperamental quanto antes.

Apertei os punhos, lutando para controlar minha raiva. Ele sabia exatamente como me tirar do sério.

— Você sabe muito bem que não sou mais a mesma pessoa, Miller. E se você tem algum resquício de respeito por mim, vai parar com essas provocações infantis.

Ele se recostou na cadeira, um brilho travesso nos olhos.

— Respeito? Ah, Annelise, você sabe que sempre tive um jeito peculiar de demonstrar meu afeto. E admita, você adorava quando eu te tirava do sério.

Respirei fundo, tentando manter a compostura diante de suas palavras provocativas.

— Eu não adorava, Aaron. Eu simplesmente não sabia como lidar com alguém tão imaturo e egocêntrico como você.

— Está mentindo.

A tensão entre nós era palpável, e nossos olhares trocados revelavam uma mistura de raiva, mágoa e uma pitada de nostalgia. O passado ainda exercia algum poder sobre nós, mesmo que tentássemos negar.

Enquanto o professor retomava a aula, permanecemos em silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Ainda que o tempo tivesse passado e nossas vidas tivessem tomado rumos diferentes, havia algo ali, uma conexão que parecia resistir ao tempo. Mas, por enquanto, teríamos que nos contentar em compartilhar o mesmo espaço, lidando com as provocações e as lembranças que insistiam em ressurgir.

— Então, o fim do ano está se aproximando, trazendo consigo o último trabalho. — O professor soltou um suspiro carregado de desapontamento, fazendo com que um silêncio pesado pairasse na sala. — Infelizmente, apenas alguns poucos alunos conseguiram atingir a média necessária para passar de série, e digo que estou profundamente decepcionado com vocês. — Ele colocou a mão no peito, como se sentisse uma dor profunda. — Portanto, decidi atribuir um trabalho em duplas para vocês.

Imediatamente, meus olhos se voltaram para Lyandra, que estava do outro lado da sala, sentada ao lado de Nicolas. A esperança de sermos escolhidas como dupla se acendeu dentro de mim, enchendo meu peito de expectativa.

— Eu mesmo irei formar as duplas. — O professor anunciou, e meu coração afundou em desânimo. Abaixei meu rosto na carteira, desejando intensamente que um buraco se abrisse no chão e me engolisse por completo.

— Com medo de ficar comigo, linda? — Miller provocou, seu tom de voz irritante ecoando em meus ouvidos.

— Eu só quero que você desapareça. — Reclamei, minha voz abafada pelos meus braços que envolviam meu rosto.

— Sempre tão adorável. — Ele despejou sarcasmo em suas palavras. — Preferia quando éramos namorados.

Revirei os olhos, mesmo que meu rosto estivesse escondido entre meus braços. Eu podia sentir a tensão ao meu lado, sabendo que minhas palavras o afetaram profundamente.

— Ah, será que eu preciso te lembrar por que terminamos? — Disse, desafiadora. Mesmo sem olhar para ele, pude sentir a tensão aumentar ainda mais ao meu lado.

— Terminamos porque você não acreditou em mim e não me deu a oportunidade de explicar. — Ele respondeu, sua voz carregada de ressentimento.

Antes que eu pudesse retrucar sua fala, o professor começou a anunciar os nomes das duplas, interrompendo qualquer possibilidade de continuar a discussão. Meu coração acelerou, ansioso para descobrir com quem eu seria parceira nesse trabalho.

— Lyandra e Verônica. — Meus ombros caíram em sinal de frustração. Eu tinha esperanças de que seria escolhida para trabalhar com minha amiga, uma das alunas mais dedicadas e inteligentes da turma. — Calleb e Marcus, Trent e Carine... — O professor continuava a falar os nomes, enquanto eu segurava minha respiração, esperando ansiosamente pelo meu nome. Cada vez que ele pronunciava um par, minha esperança diminuía e a tensão aumentava.

Finalmente, chegou a minha vez.

— Annelise e... — O professor tirou seu olhar da folha e olhou diretamente para mim e Aaron, com um sorriso diabólico estampado em seu rosto. — Aaron.

Maldito! A sensação de traição e decepção tomou conta de mim. Como ele poderia fazer isso? Colocar-me na mesma dupla que Aaron, a pessoa que eu mais queria evitar. Era como se o professor estivesse se divertindo com o meu sofrimento, aproveitando-se da oportunidade para me punir.

Engoli em seco, tentando disfarçar minha frustração e raiva. Olhei para Aaron, que parecia tão surpreso quanto eu, mas também com um brilho de diversão nos olhos. Ele sabia o quanto aquela situação me incomodava, e agora parecia estar se deliciando com isso.

Respirei fundo, tentando controlar minhas emoções. Eu não deixaria que essa situação arruinasse meu desempenho no trabalho. Teria que encontrar uma maneira de lidar com Aaron e focar no objetivo em comum. Mas, no fundo, a sensação de traição e a presença indesejada de Aaron na minha vida continuavam a me atormentar, criando uma atmosfera tensa e desconfortável entre nós.

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