𝟎𝟏𝟑.

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O Laurent corria entre as árvores sem se importar com os galhos secos e afiados rasgando sua pele e seu sangue se misturando com as gotas de chuva que se espalham pelo seu corpo, não tinha ideia para onde estava indo, não reconhecia tal caminho mas seu coração controlava seu corpo e o mandava naquela direção.

Estava em um estado quase que irracional, correndo como um louco em uma floresta. Quando finalmente saiu de dentre as árvores pode ver uma clareira com uma pedra grande em seu centro. Perto da rocha havia uma figura em pé, de costas para ele, parecia carregar alguma coisa em seus braços.

Seu peito subindo e descendo, com os lábios entre abertos tentando puxar mais ar para saciar esse desespero. Que foi totalmente em vão quando a figura feminina se virou em sua direção, o ar parecia querer fugir dele tão desesperadamente quanto ele precisava respirar.

A mulher de longos cabelos negros armados, em seu corpo um vestido branco e em seus braços, alguma coisa embrulhada em um tecido.

Era Alma...

Tão linda e majestosa que a lua parou de se esconder atrás das nuvens cinzas e tempestuosas apenas para lhe iluminar e mostrar suas ilustres feições. Parecia que nem as gotas de chuva que caiam do céu com raiva conseguiam lhe tocar, sua pele branca como de uma boneca de porcelana quase brilhava.

Lestat se perdeu em um choro desesperado enquanto andava até lá com desconfiança e medo de ser apenas sua mente lhe pregando peças novamente, mas o rosto dela estavam tão calmo e sereno.

Quando chegou perto o suficiente para ver oque estava em seus braços não se conteve, seus joelhos cederam ao chão e o ruivo segurava uma das mãos contra o peito que doía. Doía tanto que mal dava para respirar, talvez pelo choro copioso e desesperado. Parecia que ia explodir.

No pequeno embrulho aos braços da mulher estava uma criança, um bebê tão pequeno e frágil. Tinha os olhos fechados como em um sono profundo mas por de baixo do tecido seu corpinho se agitava, suas pequenas mãozinhas balançando de um lado para o outro com inocência.

Alice...

Aquela visão partiu o coração do ruivo em milhões de pedaços, se o som dos pingos contra o chão não fosse tão alto com certeza poderia ser ouvido o vidro quebrando.

Sem falar uma palavra a mulher se abaixou sobre os joelhos e com uma das mãos procurou levantar o rosto do filho para encara-lá. Aquele rosto delicado e pálido agora estavam vermelho próximo aos olhos e nariz, a tempestade se misturando com suas lágrimas.

— Você foi forte até aqui, agora pode descansar, ser feliz. Seja feliz, meu amor. - A voz ainda era a mesma, era até mais angelical do que se recordava. Ainda era sua mãezinha.

Ao tentar tocar aquele pele pura com seus dedos pecaminosos se frustou, ela desapareceu como vento. O deixando sozinho com sua mente bagunçada em meio a tempestade que não pararia tão cedo.

O deixou em pedaços naquela campina, o ruivo tinha que juntar os pedaços de seu coração espalhados na grama molhada e recolher seu corpo fraco de volta a segurança do castelo antes do amanhecer.

[...]

Oque houve naquela noite não foi dito a ninguém além das árvores e lua que observaram o momento miserável daquele homem triste, ninguém mais sabia, e ninguém saberia.

Nos dias que se passaram Lestat ficou um tanto quanto distante, se recolheu em seu estúdio de artes, próximo ao seu quarto. Queria jogar toda a triste e dor de seu coração nas telas que fez.

Estava terminando a última.

Com a tela no cavalete a sua frente, sentado em uma cadeira simples, as janelas abertas com o vento fazendo as cortinas dançarem do modo que achava mais bonito. Lestat estava sem camisa, estava uma noite quente e por algum motivo se sentia preso por correntes invisível que o deixavam inquieto. O cabelo ruivo estava preso por uma pequena fita branca de lado, suas mãos fortes seguravam com delicadeza o pincel que fazia seu trabalho, os ante braços sujos de tinta de diversas cores.

𝗚𝝝𝗗'𝗦 𝝝𝗙 𝗪𝝠𝗥 - 𝑨𝑳𝑼𝑪𝑨𝑹𝑫Onde histórias criam vida. Descubra agora