Londres, Putney Vale Cemetery - Sábado, 07:25AM
– Que a sua passagem para o outro lado seja tranquila e serena, que sua alma encontre o descanso merecido e que a dor da saudade seja substituída pelas lembranças felizes dos momentos que viveu. Que essas memórias permaneçam vivas em nossos corações para sempre. – O padre falava diante de todos na igreja. –
Lux estava sentado no canto escuro do fundo da igreja, se excluindo ao máximo do restante das pessoas. Desde que quase virou uma persona non-grata em qualquer ambiente de Londres, tentou passar como um fantasmas nos lugares.
– Amém. – O loiro falou, assim como toda a igreja, assim que o padre terminou o discurso. –
Havia se excluído das pessoas mais uma vez, mas, dessa vez, havia se excluído das pessoas que estavam no enterro. Se escondeu até que muitas fossem embora, para que não criasse mais alvoroço e tristeza na família de Giselle. Bem, se ao menos os pais da garota ligassem para aquilo. Pareciam tão indiferentes.
Lux havia pagado para que o coveiro deixasse o caixão por mais tempo, para que ele se despedisse.
Se aproximou do caixão branco, que tinha a tampa de vidro, bordada pela madeira branca. Ele conseguia ver a garota – agora pálida – com extrema clareza. Seus lábios não tinham cor, o lugar do tiro estava coberto pela gola longa do vestido que haviam vestido nela. Seus cabelos estavam parcialmente presos e suas pálpebras estavam pintadas por um glitter dourado, enfeitados com delineador e máscara de cílios.
É tão estranho pensar que haviam se empenhado para enfeitar um cadáver.– Me desculpa. – Sussurrou, deixando uma lágrima correr por seu rosto. –
Beijou a sua própria mão e colocou-a em cima do caixão da garota.
– Eu te amo. – Continuou a sussurrar e a chorar cada vez mais. – Adeus Giselle.
Ficou mais um tempo parado, apenas "aproveitando" os seus últimos segundos com a garota.
Pegou uma tulipa laranja, que estava dentro de seu paletó, então colocou-a por cima do caixão, ao lado do rosto da garota.
Deu uma última olhada para garota, para só então sair de lá.Sete meses depois...
Londres, Putney Vale Cemetery - Domingo, 05:09AM
Era mais um dia sombrio sem ela.
O garoto caminhava pelo cemitério deserto, por conta do horário. Estava frio e ventoso naquele dia, no aniversário de morte da sua amada. Seis meses sem ela, os piores seis meses da vida dele.
Caminhou até o seu túmulo, parecia cada vez mais sem vida.
'Não que ele tivesse muita vida' pensou o garoto.
Assim que chegou no túmulo de Giselle, se agachou, se apoiando em uma perna e se ajoelhando em outra.
Deixou um buquê de papoulas na terra molhada. Não chegavam nem perto de serem as favoritas da garota, mas era a única disponível e ele nunca a deixaria sem uma flor.– Eu te amo. – Sussurrou com a voz chorosa e lágrimas escorrendo pelo seu rosto. –
Em algum lugar no ar - Domingo, 17:21PM
Yara escutava uma música melodramática no seu fone de ouvido – dado pela companhia aérea – enquanto escrevia no seu caderno, como sempre.
Riscava milhares de palavras ao tentar escrever algo que fizesse sentido. Talvez estar indo para Londres a deixasse confusa. Ou talvez toda aquela ansiedade para o primeiro dia de aula, tivesse queimado seus neurônios.
Mas mesmo que estivesse ansiosa para o primeiro dia, sentia que algo estava fora do lugar, como se algo estivesse esperando-a
Continuou a focar em sua música e nas palavras que tentava pensar, mas, depois de alguns minutos, simplesmente desistiu. Talvez os pensamentos que quisesse liberar, não devessem ser liberados.
Deveria dormir mais um pouco.
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Tenor
Mystery / ThrillerEnquanto o sangue dela se espalhava pelo concreto e sua vida se despedia do mundo, ele sentia a sua alma sair do corpo junto com o morno da pele da amada. Quando Londres é assombrada com mais um assassinato frio, a cidade toda para quando desc...