Londres, The Boltons Street - Segunda, 06:12AM
Os raios solares estavam começando a surgir no quarto da garota, mas já fazia uma hora que ela havia acordado e não havia conseguido voltar a dormir. Não sabia se era ansiedade pelo primeiro dia de aula ou aflição.
Decidiu ignorar a dúvida e se levantou para tomar um banho.
Gregory esperava pela garota, que havia perdido a mochila e estava como uma louca à procura.
– Achei! – Gritou de um dos cômodos. –
O garoto viu Yara correr até ele com a mochila pendurada na mão. Analisou-a no uniforme do colégio. A saia plissada cinza, dois dedos acima do joelho, o suéter vermelho vinho com a blusa social branca por baixo e o blazer preto mais aberto com detalhes em vermelho e o símbolo do colégio.
A roupa de Greg não era muito diferente. Uma calça social chumbo, um suéter preto com uma camisa social branca por baixo e uma gravata listrada, em dois tons de vermelho, por baixo do suéter. O blazer era o mesmo, era o principal elemento daquela versão do uniforme.– Gostou do uniforme? – O garoto perguntou. –
– Gostei, é diferente do que estou acostumada. – Analisava o uniforme. – Mas não acho que esse é o meu favorito entre as variações que tem no colégio.
– Nem o meu. – Falou se levantando. – Vamos?
– Vamos!
Londres, Westminster School - Segunda, 07:34AM
O garoto já estava na sala, mesmo a maioria do colégio ainda estando espalhada pelo campus.
Sentiu o seu coração se despedaçar quando entrou na antiga sala da garota e viu a sua cadeira desocupada. A vida era tão triste sem ela e ele só teve noção disso quando não a tinha mais por perto.
Será que um dia a vida e o amor voltariam a ter sentido para Lux?Yara caminhava pelo colégio ao lado de Greg, com medo de se perder no grande campus da Westminster School. Estava animada, pois, mesmo não sendo a primeira escola inglesa que estudava, era a primeira vez que pisava na Westminster School. Só de lembrar que a sua versão mais nova sonhava com o dia em que estudaria naquele colégio, o seu estômago embrulhava com a ansiedade que sentia.
Estava onde sempre quis estar e, mesmo se sentindo um pouco perdida, estava feliz.
A garota não podia negar o nervosismo, era uma brasileira de classe média em meio a ingleses da elite, não era seu habitat natural, mas ela pertenceria a aquele lugar daqui em diante. Pertenceria ao grupo de riquinhos que tem uma cultura culinária estranha. Talvez ela fosse se darbem, afinal, entre milhares de fish and chips, todos gostariam de brigadeiro. Ela sabia que conseguiria, mas talvez isso fosse mais difícil do que passar na prova para conquistar uma bolsa ali.– Não precisa ficar nervosa. – O garoto acalmou-a, pousando sua mão no ombro dela. –
– E se eles descobrirem que não sou daqui e... Sei lá, implicarem comigo. – Deu de ombros. –
– Só cinco pessoas passaram, não vão ficar tentando adivinhar quem é. – Gregory não havia entendido como isso seria um consolo, apenas falou. – E se falarem alguma coisa de ruim, eu os mato. – Falou sorrindo, fazendo a garota rir de leve. – E se descobrirem, não tem nada. Eu teria vergonha de ser de um país onde o sol não nasce e chá é um prato típico, e implicar com alguém que nasceu em um país como o Brasil.
– Aqui não é tão ruim assim, Muttley. – Falou chocando o seu ombro com o dele. –
– Suas memórias felizes estragam a verdade.
Fazia muito tempo que Abby não entrava na garagem interior do colégio e achava melhor manter a sua vida assim, mesmo que isso significasse estacionar na garagem exterior, do lado de fora dos portões.
Entrelaçou seu braço com o de Thea, que, assim como Abby, estava aflita com o primeiro dia, porque parecia mais tranquilizante terminar um ano escolar sem Giselle, do que começar um.
Assim que Keith saiu do carro, apressou os passos para alcançar as garotas, que, mesmo andando devagar, já estavam bem à frente do garoto.– Sabem em que sala ficaram? – O garoto perguntou assim que entraram na parte interior do colégio. – Eu acho que esse ano eu fiquei na B.
– Não sei, duvido muito que eu vá continuar na mesma, eu não peguei em um livro ano passado. – Thea respondeu entediada. –
– Fiquei na A, o Greg me falou quando veio fazer algo para a novata.
– Hum, a novata. – Keith pareceu mais interessado. – Será que ela vai ficar com a gente nos intervalos? Greg não parava de falar sobre ela.
– Ele deve levá-la, parece obcecado por ela, duvido muito que vá deixá-la sozinha em meio aos urubus. – Thea enfatizou a última palavra, se lembrando de como o garoto citado costumava chamar os alunos daquela escola. – Pelo menos não passo mais o intervalo com vocês.
– Mas deveria. – Abby a repreendeu, cutucando a garota com o seu cotovelo. –
– Bem, desviando do assunto da novata, parece que vamos todos ficar em salas separadas esse ano, não é? – O garoto falou, se referindo ao grupo de cinco pessoas. –
– Bem provável. – A ruiva deu de ombros. –
– Eu vou sentir falta do meu grudinho de casal. – O tom brincalhão de Thea disfarçava um pouco do seu nervosismo e medo. – E sinto falta da Hadley.
Quando o garoto viu a placa dourada, informando que aquela sala era a A, parou juntamente com Yara, mesmo que odiasse o fato de ter que se separar dela.
– Bem, aqui é a sua sala. – Informou. – Olha, se você precisar de qualquer coisa, eu sou da sala E, grita que eu te escuto. – Brincou, fazendo a irmã rir. – Mas é sério, qualquer coisa me avisa. Não sei, finge que vai no banheiro e me procura.
– Não se preocupe, eu estou em um colégio, não em uma floresta no meio do nada.
– Aqui é bem pior, Yara, acredite. – Sentiu o tom sério do garoto, ainda mais por ouvir o seu nome e não o apelido. –
– Eu vou tomar cuidado. – Sorriu de leve. – Mas agora eu tenho que ir, Muttley.
– Antes, eu só queria te avisar que vamos passar o intervalo com alguns amigos meus, mas eu venho te buscar aqui assim que o sinal tocar.
– Já entendi, Greg, mas eu realmente tenho que entrar na sala. – Ria, mesmo que fosse algo "sério". –
– Ok, vá lá. – Puxou a cabeça da garota para perto e depositou um beijo em sua testa, depois vendo-a entrar na sala e se afastar dele. – Boa sorte.
Lorenzo chegava cansado no colégio, mais ofegante do que já esteve na vida. Por qual motivo havia falado para Keith que não precisava de uma carona? Havia batido a cabeça antes de se arrumar?
Escutava The Smiths no volume máximo enquanto corria pelo campus, tendo total certeza de que estava quase atrasado. Estúpido Lorenzo, recusando uma carona por conta da melhor amiga. Se sentia envergonhado ao estar próximo da própria melhor amiga, era idiota.
Ignorou os pensamentos e continuou a correr até a sua sala de aula.
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Tenor
Mistério / SuspenseEnquanto o sangue dela se espalhava pelo concreto e sua vida se despedia do mundo, ele sentia a sua alma sair do corpo junto com o morno da pele da amada. Quando Londres é assombrada com mais um assassinato frio, a cidade toda para quando desc...