Capítulo 05

50 15 3
                                        

Londres, Westminster School - Sexta, 15:59PM

     A semana de inscrições e testes para as atividades extracurriculares havia chegado ao fim e Yara não poderia se sentir mais aliviada.
     Essa semana foi algo fácil para as pessoas que já estudavam na Westminster, elas já estavam acostumadas com os horários e, se já estivessem em uma atividade que precisava de um teste, não teriam que fazê-los novamente, por motivos óbvios. Era tudo tão mais fácil para eles.
     Yara já havia passado pelo terror de ter que apenas se inscrever nas atividades, agora teria que se acostumar com os horários. Não que não fizesse nada durante as tardes no Brasil, mas era diferente fazer alguma atividade fora da escola e fazer uma atividade nela.

     Caminhava pela garagem interna do colégio, pronta para ir até um ponto de táxi e sair logo daquele lugar, para finalmente poder descansar em casa.
      Uma dor de cabeça se tornava evidente a cada passo que Yara dava, causando incômodo na garota, que em um certo momento supôs que era fome. Normalmente se esquecia de comer, principalmente quando deixava para comer depois de fazer algo.
     Sem parar de andar, começou a vasculhar a mochila que levava consigo, à procura de algo para beliscar até chegar em casa.

     Era estranho estar naquela garagem novamente, mas era como se algo puxasse Lux para lá naquele dia.
     Hesitou um pouco, mas depois se perguntou o porquê de estar fazendo aquilo. Por que pensava duas vezes antes de passar por lá? Ele não tinha mais nada a perder, por que estava com medo de uma simples garagem?
     Mas esse era o problema, ele não tinha medo da garagem, tinha medo das memórias.
     Assim que colocou o seu corpo dentro do local, sentiu um ar retirar todo o resto de alma que havia no seu corpo.
     Se sentiu mais vazio do que antes e as memórias voltavam em flashback. Se lembrou de Giselle, de como a vida havia se tornado uma grande merda sem ela. Se lembrou do sangue, dos gritos, do choro e de como tudo isso terminou, ou não.
     Giselle morta e ele como principal suspeito, quem diria?
     Se sentiu um pouco tonto ao se lembrar de tudo, mas logo se recompôs, voltando a caminhar, para finalmente atravessar o local e sair de lá o mais rápido possível.
     Enquanto caminhava, não pôde deixar de reparar nos resquícios da mancha de sangue de Giselle, eles realmente não haviam conseguido tirar a marca. Também não pôde deixar de reparar na garota que estava por cima dela, parecia fraca, tonta e, com certeza, sem noção alguma do que estava acontecendo com ela naquele momento.
     Foi no momento em que Lux viu a garota de cabelos escuros cambalear, que sentiu um impulso dentro dele, fazendo-o correr até ela e segurá-la pelo braço.

     Yara sentiu um forte algo firme segurá-la, a impedindo de cair no concreto frio.
     Recuperou um pouco das forças antes de se recompor e ver quem havia sido o seu salvador naquele momento.
     Começou pelo braço um pouco musculoso e a pele, só não tão pálida quanto a sua. Subiu o seu olhar até se deparar com os olhos azuis e profundos, e os cabelos ondulados e loiros.
     Sentiu um choque percorrer o seu corpo quando viu o rosto do garoto e supôs que havia acontecido o mesmo com ele, pois, assim que Lux viu o seu rosto, a expressão preocupada que havia em seu rosto, voltou para a fria, mórbida e séria feição que sempre habitava em sua face.
     Lux soltou o corpo de Yara rapidamente, fazendo-a cambalear outra vez, dessa vez conseguindo se manter em pé sem ajuda.
     Yara observou o garoto se virar e começar a andar rapidamente até a saída da garagem. Não demorou muito para ele começar a correr até sumir da vista da garota, que continuou em pé e estática no mesmo lugar.
     Ele parecia tão... Distante dos conhecimentos humanos. Distante dos conhecimentos de Yara.

Londres, The Boltons Street - Sexta, 19:03PM

     'Agora o seu irmão está de boa com você? Sabe, com o negócio do garoto bizarro e misterioso." Yara lia a mensagem da amiga enquanto tomava mais uma colherada do seu iogurte de grãos.
     'Ele se acalmou. Mas, por falar no Lux...' Criou um pouco de suspense, apenas para perturbar Verônica.
     'Lá vem, agora o garoto tem nome?' Riu ao imaginar a feição da amiga ao ler a sua mensagem.
     'Eu descobri o nome dele recentemente, quando descobri as coisas sobre ele, acho que não cheguei a chamá-lo pelo nome aqui.' Enrolou mais um pouco.
     'Tanto faz, vamos para o que interessa, Yara!' Riu outra vez ao ler a mensagem.
     'Ok, ok! Hoje eu estava saindo do colégio, aí em algum momento eu me senti fraca (era apenas fome, não se preocupe), então eu fiquei tonta e fechei os olhos. Nessa hora eu quase caí, foi aí que alguém me segurou e adivinha? ERA ELE! Na hora que ele me viu, parecia ter visto o seu pior pesadelo, até saiu correndo sem falar um A comigo." Explicou toda a situação em apenas uma mensagem.
     'Que garoto estranho, toma cuidado.'

– Não é! – Yara exclamou sozinha, se esquecendo que a amiga não podia escutá-la. –

     Quando ouviu o irmão chamá-la para o jantar, concluiu que já era a hora de parar de fofocar com a amiga naquele dia, então escreveu sua última mensagem.
     'Estranho é pouco para Lux. Enfim, Veh, eu tenho que ir agora, até!' Enviou a mensagem para Verônica e desligou o notebook antes que a amiga a respondesse.
     Saiu do quarto apressada, sentindo o cheiro da comida que – possivelmente – a avó havia feito com um pouco de ajuda do seu marido..

Londres, Westminster School - Segunda, 07:46AM

     Abby caminhava com Thea e mais duas cheerleaders, que não tinham pressa para chegar no corredor das salas de aula, distraídas com a conversa sobre a festa que estava por vir.

– Acho que sem tema será melhor esse ano, estimula mais a criatividade. – Thea dava a ideia, já imaginando como seria o seu vestido. –

– Eu concordo com ela, sempre que colocamos um tema, limitamos demais as escolhas. – Uma das gêmeas concordou com Thea. –

– Sem tema, anotado. – A ruiva escrevia no seu bloco de notas de cerejas. –

     Continuaram caminhando pelos corredores do colégio, discutindo as inúmeras ideias que tinham para a festa, mesmo quase tudo já estando pronto ou decidido.

– Sabe, não achei que fariam uma festa depois... Sabem, depois da Giselle. – A outra garota falou, despertando algo dentro de Abby e Thea, que se entreolharam desconfortáveis. –

– Já cancelamos a de encerramento do ano passado, as pessoas arrancariam nossas cabeças se fizéssemos isso novamente. – Abby brincou. –

– Sem contar que a Elle também nos mataria se pudesse saber disso. – Thea continuou na brincadeira. – Ela nos obrigaria a fazer e ainda daria a ideia de colocar um telão com fotos dela e uma estátua de gelo representando ela.

     A loira falou, fazendo as outras três garotas rirem, mesmo que aquilo, no fundo, fosse algo extremamente triste.
     Giselle amava aquelas festas e, assim como sempre participava delas, não deixava de organizá-las junto com Abby e Thea, que agora precisavam ainda mais de ajuda das outras líderes de torcida, que normalmente eram o grupo que se envolviam com as festas de Thea e Abby, ou até outras dos meios mais "populares".
     Tudo havia ficado tão difícil sem Giselle.

– Bom, amanhã eu e a Holly iremos trazer os panfletos e já iremos entregar e pregar alguns enquanto não nos encontramos com vocês.

– Ok. – Thea e Abby disseram simultaneamente. –

– Precisamos ir para a sala agora, até mais meninas. – A outra gêmea se despediu em nome das duas, entrando na sala B. –

     E, outra vez, Thea e Abby falaram simultaneamente, se despedindo das garotas.
     Não demorou muito para que a loira chegasse em sua sala e se despedisse da ruiva, que andou mais rápido para chegar em sua sala não tão distante.

Londres, Westminster School - Segunda, 08:59AM

     O segundo sinal estava prestes a tocar, mas Lux parecia não se importar com aquilo. Estava sentado no gramado molhado do campo de futebol, bebendo a Vodka que havia escondido em uma garrafinha de água.
     Erik, que quase sempre matava aula no campo, o mataria se o encontrasse ele largado daquele jeito e começaria uma palestra sobre álcool, mesmo que sempre enchesse a cara em festas. Era tão hipócrita quanto Lux.
     Olhou para o lado e viu uma garota de cabelos escuros. Ela o encarava enquanto enchia a sua garrafa de água. A dela teria água.
     Mesmo que sua visão já estivesse um pouco debilitada por conta do álcool, reconheceu a garota de olhos e cabelos escuros, mas pele pálida. Era a garota que havia impedido de cair na garagem. Nem sabia o motivo de ter feito aquilo, deveria ter deixado-a cair.

     Quando Yara percebeu que o loiro também a encarava, fez questão de desviar o olhar rapidamente, tentando fugir do oceano que eram os olhos do garoto.
     Não queria que ele pensasse que ela o encarava por interesse, não, não mesmo. O motivo do comportamento estranho de Yara, era apenas um: Ter coragem para agradecê-lo pela ajuda. E também descobrir o motivo de seu mau-estar repentino, mas isso não envolvia o garoto de cabelos loiros.
     Ficou no bebedouro até a sua garrafa ficar cheia, – ainda evitando a direção do garoto misterioso – então correu para a sua sala, com medo de perder algo importante da aula.

TenorOnde histórias criam vida. Descubra agora