Capítulo 06

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Londres, Westminster School - Segunda, 11:24PM

– Gente, tem uma coisa que eu ainda não entendi. – Lorenzo falou se sentando à mesa. –

– Alguma vez na vida você já entendeu algo, Leo? – Gregory brincou com o amigo, fazendo as outras pessoas da mesa rirem e o garoto de olhos verdes dá-lhe a língua. –

– Quer mesmo discutir sobre quem é o mais burro dessa mesa? – Tentou usar o seu tom de voz amedrontador, o que não deu certo. – Continuando, tem uma coisa que eu ainda não entendi.

– O que você ainda não entendeu, Lorenzo? – Keith perguntou revirando os olhos. –

– Por que o Greg e a Yara se chamam de Muttley e Dolly? – Perguntou antes de dar uma grande mordida em seu cupcake. –

– Isso é uma boa pergunta. – Abby falou, apontando com o garfo, de forma interessada, para Lorenzo. –

     Yara olhou para o garoto, que já olhava de soslaio para ela. Greg afirmou com a cabeça para que ela falasse primeiro.

– Vocês nunca perceberam como a risada dele é idêntica ao do Muttley? – Perguntou sorridente olhando para a sua salada de frutas. – Aquele cachorro do desenho animado.

     Então todos arregalaram os olhos e começaram a se entreolhar boquiabertos, para depois pararem o olhar em apenas uma pessoa, Gregory.

– Ai. Meu. Deus. – A ruiva falava pausadamente, explicitamente chocada. –

– Yara, você acabou de abrir os nossos olhos. – Keith disse no mesmo tom. –

– Você é uma gênia, garota! – Foi a vez de Lorenzo falar, bem mais animado. –

– Eu sei, esse apelido é incrível! – Olhava para as pessoas na mesa, rindo fracamente. –

– Antes que usem isso contra mim, posso falar sobre Dolly?

– Vá em frente. – Yara deu permissão e Greg sentiu todos os olhares da mesa em sua direção, como se já não tivessem antes. –

– Yara era burra e boba, assim como a Lindinha, de As Meninas Super Poderosas, então, quando ela era mais nova e apareceu no meu aniversário de maria chiquinha e de azul, não pude não pensar nisso. – Deu de ombros. –

– Não foi proposital. – A morena acrescentou. –

– Então comecei a chamá-la de Dolly, que é o nome da Lindinha na versão italiana. Mas então descobri que Dolly também era um refrigerante do Brasil, o que combinou, já que Yara não era mais burra e boba, mas era estranha como o mascote do refrigerante. – Assim que terminou a fala, Greg sentiu sua nuca esquentar com o tapa na cabeça que havia levado de Yara. – Aí!

– Interessante, mas queria ir contra uma opinião sua. – O garoto de cabelos cacheados fez sinal com a mão para que Keith prosseguisse. – A Lindinha não é burra e boba, isso descreve você!

– Ela é burra e boba.

– Não é não.

     E a discussão continuou pelos próximos cinco minutos, até Abby finalmente se cansar e pôr um fim em tudo.

     De longe, Lux observava tudo, sentado sozinho em uma mesa no canto que, agora, mal era usada, já que estava desgastada e já não era mais considerada boa. Talvez aquilo o lembrasse de algo.
     Não conseguia desviar o olhar da mesa onde o grupinho estava. Eles pareciam tão felizes, tão diferentes de Lux, que estava afundado em tristeza após a morte de Giselle. Eles pareciam levar a vida, seguir em frente. Menos a novata, que nem deveria saber quem, um dia, foi a grande paixão viva de Lux e que, agora, era apenas uma alma que o perseguia.
     Por algum motivo, Fagan sentia raiva ao olhar para aquela mesa. Sentia raiva por vê-los tão felizes. Sentia raiva por ver a garota de cabelos escuros. Sentia raiva por saber que a novata era uma intrusa naquele colégio, que não havia passado pela dor que ele havia passado. Sentia raiva por apenas vê-los seguindo a vida.
     Mas no fundo Lux só sentia raiva de uma coisa, dele mesmo.

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