Constance

50 6 0
                                    

Música-título: Spiritbox - Constance

Regina vê Cora entrar em casa, logo nota o semblante diferente da mulher, sabia que havia algo de errado.

— Oi mãe. – A olha preocupada. — Está tudo bem?

— Está sim, minha querida. – Diz tentando disfarçar. — Vou subir para tomar um banho e já desço para jantarmos.

— Está bem...

Dying Sun burns in the night

I watch it glow, and it's so hard for me

Speaking darkness out of spite

Coercion and then caving in, wrap me in my bitterness

Cora pega o celular na bolsa e não percebe a foto cair no chão. Regina a olha subir pelas escadas e logo nota o papel no chão. Se levanta e vai pegar o mesmo, vendo que era uma fotografia antiga de Cora na juventude com uma moça semelhante a Emma, olha o verso e percebe que aquilo poderia ser o motivo da tristeza aparente de sua mãe. Ela lê e relê a mensagem atrás da fotografia, absorvendo aos poucos a informação de que sua mãe um dia tivera um relacionamento com outra mulher no período em que namorava com seu pai, alguns meses antes deles se casarem e ela nascer. Ela respira fundo e logo vê um outro papel um pouco mais a frente, que provavelmente estava junto com a foto, mas dessa vez ela logo reconhece a caligrafia de sua mãe.

"Minha amada Sam,

Como eu queria que estivesse aqui para ver como a nossa pequena Regina é linda, inteligente e teimosa como você. Henry está sendo um excelente pai para nossa menina, mas queria tanto você aqui com a gente.

Queria tanto poder vê-la gritar 'mamãe' enquanto corre em sua direção. Cada vez que a escuto me chamar, fico imaginando como seria com você aqui.

Sinto sua falta meu amor."

Regina sente as lágrimas escorrer por seu rosto e corre para o seu quarto. Ela pega o celular e começa a discar o número de seu pai, mas logo desiste. Sabia que quem deveria lhe contar tudo deveria ser sua mãe. Seca o rosto e resolve devolver os documentos para sua mãe. Caminha até a porta do quarto de sua mãe e bate.

Give it up, I'm complacent, just enough to escape it

Heretics wouldn't faze me

Lucid trust, I don't want it

Palms are rough when you promise

Fire lies when you're honest

— Oi filha, já vou descer. – Diz terminando de vestir uma roupa mais confortável.

— Eu... Eu queria conversar com você. – Diz tentando segurar a voz embargada pelo choro.

Cora a olha preocupada e a deixa entrar em seu quarto. Regina respira fundo e logo mostra a foto e o papel a ela.

— Você deixou cair na sala... – Começa a falar, mas sua voz vacilava.

— Regina... – Ela a olha e a abraça.

— Quem era Sam? Por que nunca me contou a verdade?

It's hard to lose and wonder why

You pressure in increments

Like a slow-moving coup

Memories dissident

When I am holding you (I am holding you)

Cora a senta em sua cama e segura as mãos da filha e olha a foto mais uma vez.

— Sam foi o meu grande amor... Ela estava de passagem pela cidade enquanto ia para Boston até que a moto dela quebrou... – Começa. — Eu estava na Granny quando ela entrou para saber onde ficava a oficina e onde havia uma pensão. – Respira fundo. — Mas ela acabou gostando da cidade, fomos nos aproximando, aos poucos fui percebendo que gostava dela mais do que amiga e que era recíproco. – Engole a saliva e continua. — Na primeira vez que acabamos nos beijando ela teve medo de eu a rejeitar por ela ser uma mulher trans, mas eu estava tão apaixonada que sequer me importei com isso, eu a amava por quem ela era. – Ri baixo com a voz já alterada pela vontade de chorar e a lembrança a muito tempo esquecida. — Um dia antes dessa foto, eu estava decidida a largar tudo e fugir com ela para Nova York. Fui encontrá-la depois do expediente dela e ela me surpreendeu com um buquê lindo de rosas vermelhas. Acabamos indo para o motel que ficava na beira da estrada fora da cidade e me entreguei de corpo e alma a ela naquela noite.

The Stranger GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora