-- Mabel --
Estamos quase chegando na entrada do meu condomínio, o Théo dormiu tem uns 10 minutos, mas a metade do caminho o menino não parava de falar o quão era desnecessário essa aproximação e ousadia do Filipe com mulheres aleatórias que lhe paravam em um estabelecimento qualquer e que a mãe dele odiaria saber daquilo, que era um "cúmulo!" toda aquela situação, como uma criança de cinco anos conversa como adulto e usa palavras como "cúmulo" em seu vocabulário eu não sei, mas que aquilo me tirou altas risadas tirou, principalmente as vezes em que o Filipe revirava os olhos quando o nome de sua ex, que se chama Anna, era soltado pelo seu filho.
Sei que é ex porque foi a primeira coisa que ele disse assim que o menino fechou os olhos.
Tivemos um papo até que legal durante o tempo que ficamos juntos, tanto faz no shopping quanto aqui no carro, ele é divertido, e consegue criar intimidade muito rápido e fácil com as pessoas, observei isso nas lojas que fomos e na forma que ele me tratou e me fez lhe tratar. Trocando farpas um com o outro .
"quase bests".
Mesmo querendo sumir de perto dele pela vergonha que o mesmo me fez sentir todas as vezes que eu o tive por perto, eu me coloquei na obrigação de deixar aquilo de lado, ele não mostrou indiferença comigo em momento algum, nem quando eu disse que estava noiva, pois o mesmo perguntou em uma de nossas conversas aleatórias, então aquilo querendo ou não me deixou mais a vontade com ele, mesmo tendo que ouvir alguns comentários de tiozão que o querido fazia sobre casamentos sempre que tinha oportunidade.
- casamento é como a avenida Paulista: começa no Paraíso e termina na Consolação, cuidado viu Ayanna - ele diz diminuindo a velocidade do carro e acaba quebrando o silêncio que vagava no local.
- vc mora no Rio de janeiro, Filipe - digo debochando.
- mas duvido que vc nunca tenha ido em São Paulo, visitado ou pelo menos visto a avenida Paulista, então vc sabe do que eu tô falando - ele solta uma piscadela e eu só consigo pensar em como ele parece aqueles tios irritantes da ceia de natal, o tio da piadinha do pavê.
Um mini tiozão de 30 anos..
- só porque o seu casamento foi um fracasso isso não significa que o meu vai ser também - digo ignorando seu comentário - eu sou mais sensata Filipe.
- indireta pra mim ou pra mãe do meu filho? - ele me olha e depois volta a olhar pra rua.
- leve como quiser - dou de ombros.
- cuidado que o Théo conta pra Anna dessas suas ousadias comigo em - ele diz zombando.
- será que eu vou ser assunto da conversa dele com a mãe nessa noite? - arqueio a sombrancelha e um sorriso de canto surge no ret, é a primeira vez que ele sorri desde quando entramos no carro e o seu filho não parou de falar.
- eu creio que vai ser sim viu - reviro os meus olhos e seu sorriso aumenta - bom, chegamos - desvio meu olhar para a janela.
- prédio errado, eu moro no próximo - digo em tom de deboche.
- sério? Mas vc não tinha dito qu- acabo lhe interrompendo.
- relaxa - solto uma sorriso pequeno - é esse mesmo, muito obrigada - digo abrindo a porta do automóvel e ele me acompanha.
- quer ajuda? - ele pergunta indo pegar as minhas compras em seu porta malas.
- não precisa, o Robert já tá vindo aí - ele olha ao nosso redor mas foca na portaria.