-- Mabel --
Meus olhos não param de lacrimejar ao ver a minha menina entrando em campo, a Maria Júlia já nem tem mais lágrimas nos olhos, a minha mãe me abraçava agradecendo por propor a ela aquela sensação, meu sogro e meu pai gritavam, gloriavam aquilo como se fosse a oitava maravilha, como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo, a coisa que esperaram a vida toda pra ver, o sonho deles.
Na verdade eu acho que exagerei um pouco, talvez para eles nem seja isso tudo, mas para mim é, é um sonho de vida ver a Cecília entrando em campo pela primeira vez, principalmente em um jogo tão importante como esse, importante para mim e para toda nação tricolor.
A felicidade e o orgulho presenciando aquela cena está esbanjada nos olhos de todos.. menos no dá minha sogra, que nos fuzila com os olhos firmes.
- é um cúmulo Mabel! O combinado foi meu filho entrar com ela, vc está passando por uma ordem dele, vc tá fazendo minha neta trocar o meu filho! - dona Regina vulgo minha mãe, encara a Maria com um olhar confuso e revira os olhos automaticamente, elas nunca se deram bem.
- a culpa não foi da Bel, mãe, o motivo do meu irmão não ter sido titular não convém a ela nem a gente - a minha cunhada se interfere.
- se achou ruim reclama com o Diniz - meu pai entra na conversa dando de ombros.
- Marcos! - minha mãe o repreende.
- Marcos nada, minha neta tá linda ao lado do André, olha o sorrisinho dela com o barulho, com as crianças ao lado, com o padrinho, olha o brilho nos olhos do garoto - ele se vira para Maria - até o seu filho tá com um sorriso bobo sentado naquele banco, para de ver problema onde não tem mulher!
A interferência dele na conversa não agradou muito a Maria, pois sua testa franziu, seus olhos fixaram no meu pai como se ele fosse um alvo, parecia que a qualquer momento ela iria atacar ele, mas não fisicamente e sim verbalmente, e ia acontecer, se meu sogro não impedisse.
- não vão respeitar nem o hino do Brasil? - diz ríspido - tá todo mundo ouvindo essa merda que vocês tão chamando de conversa, se não respeitam a Cecília pelo menos respeitem o hino do país! - todos olham para ele confusos - Só calem a boca! - concluí.
Todos calam, até eu que não havia falado nada, calei.
Ele foi ríspido o suficiente para ter deixado claro o que queria, que queria paz, que queria um basta daquilo tudo. Desde que saímos de casa a Maria está martelando nesse assunto, está diminuindo qualquer respiração ou paço que eu der, está julgando e me fuzilando com os olhos, mesmo eu tendo certeza de que nesse assunto nada me convém, que nada que eu fizesse ou tentasse, mudaria o fato.
Mas também não irei mentir, eu me pego perguntando se eu realmente não afetei meu parceiro com isso, se ele vai levar bem essa situação, mesmo que no fundo eu esteja odiando ele, a Cecília é filha dele, ele deveria estar a parte disso, mas não, não está, eu não disse e nem se quer perguntei se ele autorizava, se teria problema.
Mas e se tiver?
Observo o lugar, o meu redor, meus pais , rindo até pro vento, bom meu pai tá rindo pro vento, minha mãe tá sólida por não ser tricolor, para ela é como se fosse um jogo qualquer, já meus sogros, estão com mistura de raiva e orgulho no olhar, solto um sorriso, é engraçada a relação dos dois, e tem a Maria Júlia, que me encara de volta só que com um olhar confuso, esperando alguma reação minha, como se tivesse, me chamando?..
- Mabel! - grita - não vai pegar a Ceci? - não entendo bem o que ela diz, sinto um puxão, forte o suficiente para me tirar do lugar - A Cecília! - ela diz ríspida, quase gritando.