-- Mabel --
- mas como que? - lhe encaro incrédula sem conseguir formular a frase.
- como que o quê? - ele pergunta com um sorriso sínico nos lábios enquanto entrava no carro.
- vc sabe? - seu olhar sínico some e um confuso aparece em questão de segundos - como vc sabe que eu te achava um projeto de repper?
- vc disse "achava" no passado, então quer dizer que mudou de ideia? - o sorriso sínico aparece novamente.
- Filipe, não muda de assunto.
- Ayanna, não foge da pergunta, eu sei que a sua ideia mudou, é nítido, estava estampado em seu rosto do lado do palco.
- eu estava encantada com a sensação, não com vc - minto.
A real é que ele é bom, ouvir ele cantar pessoalmente foi como se eu nunca tivesse ouvido a voz dele, como se estivesse ouvindo as músicas do Ret pela primeira vez.
"Aí Mabel, mas ele só cantou 4 músicas" Detalhe bobo, as quatro me fizeram sentir coisas que nunca havia sentido.O que me fez surgir a dúvida, de onde veio todo aquele ódio por ele, Filipe Ret, o repper?
Mas também me fez surgir a conclusão de que a probabilidade dessa vez ter sido diferente das outras por causa dele - Filipe, o tricolor que eu conheci no Maraca - é altíssima em um nível que se torna preocupante.
- então pela lógica vc está mentind- Ayanna? - ele chama meu nome pela primeira vez, e por mais três seguidas até conseguir a minha atenção - tá tudo bem?
- sim, eu só pensei demais - um leve sorriso sai dos meus lábios enquanto eu olho pela janela os acontecimentos externos - mas, do que vc tava falando?
- posso te fazer uma pergunta? - ele pergunta após minutos de silêncio e eu assinto - eu te machuquei hoje mais cedo ao esbarrar em vc?
- não que eu tenha sentido ou reparado, porque? - a preocupação em seu olhar se torna um pouco evidente, até ele desviar.
- vc.. aconteceu algo demais com vc antes do jogo? - ele rebate a minha pergunta com outra, meio receoso.
- não entendi, do que vc realmente está querendo falar? - direciono meu olhar para ele, que encarava a estrada.
- a bandeira, mais cedo quando vc me devolveu, ela estava com resquícios de sangue, ou pelo menos era o que parecia.
- vc quer que eu lave ela? - a tensão paira no ar, não sei o quê e nem onde o Filipe quer chegar, mas garanto que se depender de mim vai ser a lugar nenhum.
- não, Ayanna, não é, isso.. eu só - seu olhar desvia por um minuto entre o meu e a estrada.
- qualquer coisa eu compro outra se for o problema- digo no intervalo de tempo das suas falas.
- não, claro que não, eu só.. só queria ter a certeza que vc estava bem, poxa eu esbarrei em vc, depois apareceu sangue na bandeira que eu te entreguei pra se limpar, caramba, eu fiquei mó paranóico quando vi aquilo.
- não se preocupe - essa é a única coisa que eu consigo falar, sem olhar e nem se quer ousar ver o rosto dele naquele momento.
Não sei porque e nem como cometi essa mancada, eu tinha visto que alguns pontos haviam saído, mas não percebi nem pensei que poderia ter sido na hora do esbarrão, quando o Filipe topou em mim eu não senti nada até o líquido passar pelo ferimento, então eu pensei que só havia acontecido a ardência por conta do contato do álcool com o corte.