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Tradução: "Seus lábios, meu lábios, apocalipse".
Miguel
Estamos abraçados. As costas de Angel estão pressionadas contra o armário e eu estou com a cabeça apoiada em seu ombro. Meu nariz de vez em quando brinca com a curva do seu pescoço. Eu posso sentir a sua respiração suave em meu peito.
Dias atrás, eu pensava em momentos como esse. Eu sonhava com o dia que a veria de volta, que poderia tocá-la, que poderia sentir o seu cheiro, seu corpo contra o meu. Cheguei a pensar que nunca mais teria a graça de poder fazer isso novamente. Pensei que estava condenado a ficar encarcerado a vida inteira e que ela seguiria em frente sem mim.
Que tolo!
Acaricio suas costas com a minha mão enquanto as dela me puxam mais contra si. Posso sentir as batidas do seu coração que contradizem o quão calma ela parece.
Quando vi aquelas pessoas invadindo o tribunal, pensei em todas as possibilidades. Senti uma vaga esperança de que poderia ser o meu pai ou seus homens tentando me resgatar, mas a dinâmica de como as coisas se sucederam fez essa esperança morrer. Então tudo o que sobrou na minha mente foi a certeza que aquela foi só uma sortuda coincidência. Rebeldes resolveram invadir e desafiar o governo, e lá estava eu no meio.
Foi o que eu pensei enquanto estava paralisado, decidindo se deveria ou não aproveitar a oportunidade para fugir.
Mas então eu a vi. Angel apareceu e eu senti como se o meu mundo tivesse virado de ponta a cabeça, me senti tonto e precisei me agarrar ao resto da minha sanidade para me manter estável.
Mesmo agora, sinto que a qualquer momento essa realidade vai desmoronar e eu vou voltar para o inferno em que eu estava. Por isso, agarro Angel. Respiro Angel. No momento ela é tudo o que preciso e tudo o que pode me quebrar e me consertar. Ela me enfraquece e me deixa forte.
Um sorriso surge em meus lábios quando penso no que ela foi capaz. Ela invadiu uma propriedade do governo armada, disparou contra todos que surgiram em seu caminho, burlou o sistema tanto quanto foi possível, e agora está aqui, me agarrando como se fosse pequena e fraca e precisasse de mim.
Por um instante, cheguei a pensar que ela estava fugindo. Que o meu advogado estava certo quando disse que ela havia me abandonado. Eu não teria ficado com raiva, afinal, o que ela poderia fazer contra a porra do governo sozinha? É claro que eu estava enganado.
