Prólogo

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Fazia séculos que ele se sentia dessa maneira e havia desejado a morte tantas vezes. Quando morreu, acreditou que seria uma benção poder viver novamente, mas não daquela forma, não com essa dor o tempo todo. E agora, ele queria morrer, mas não podia. Tantas vezes pensou em sair na luz do sol e simplesmente evaporar, mas morreria com dor, novamente. Não era justo, mas o que era justo nessa vida? Só podia viver nas sombras, se esgueirando, escondendo, matando, enganando e sobrevivendo. Foi quando ele decidiu terminar com tudo aquilo, não tinha outra forma, não aguentava mais ser controlado, queria ser livre, mesmo que significasse seu fim. Quantas pessoas ele havia trazido para a morte, quantas vidas haviam sido ceifadas para virarem alimento de um vampiro egoísta? Ele odiava Cazador, aquilo não era uma benção, era uma maldição. Quem deseja a eternidade quando não se tem a liberdade? Duzentos anos levando pessoas à morte, prostituindo seu corpo, mentindo e enganando, ele simplesmente não aguentava mais.
Faltava pouco para o amanhecer, todos os seus irmãos estavam dormindo e ele teve um momento de livre arbitrio, sentiu as amarras se soltando, não sabe como, mas algo em seu cérebro se libertou. Ele não soube dizer qual foi o motivo, mas ia aproveitá-lo. Não passaria a eternidade servindo Cazador, seria livre, mesmo na morte. Saiu do quarto na ponta dos pés, passou pelo saguão e abriu a porta. A claridade estava se aproximando, colocou os pés para fora, morreria com o último vislumbre do sol que não via há centenas de anos.
Astarion suspirou e sentiu seu fim se aproximar.

Crônicas de Baldurs Gate: O despertar vampíricoOnde histórias criam vida. Descubra agora