"E a batalha apenas começou
há muitas perdas, mas diga-me, quem venceu?
as trincheiras cavadas em nossos corações
e mães, filhos, irmãos e irmãs
dilacerados."
- Sunday blood sunday, U2. -°°°°°°
Os tiros tiveram o efeito contrário em Alina, que se encolheu e se endireitou em seguida, piscando para expulsar os tremores e respirando mais rápido enquanto os protestos morriam.
Aparentemente, olivi não era a única a ter sumido naquela confusão.- Temos ordens para retirar todos daqui imediatamente, com autorização para fazermos o que for preciso caso haja qualquer tipo de resistência. - a voz do comandante reverberou entre eles, inexpressiva e impenetrável, mas sua fala passava despercebida pelos ouvidos de Alina.
Não encontrar a Olivi certamente porque estava muito escuro, mas havia pessoas ali com tochas nas mãos, ela poderia apanhar uma e descer as capelas para encontrar olivi, que deveria estar tão assustada, será que tinha se machucado?...
- Vocês tem ordens de retornar as suas residências. Qualquer objeção ou pendência que tiverem será resolvida pela manhã, qualquer tipo de explicação será feita quando possível, por hora, os moradores de Darkfalls devem esperar enquanto cumprimos nossos deveres. - o oficial acenou para que a multidão se dispersasse, balançando a mão como se espantasse insetos enquanto se virava para proferir mais ordens aos outros oficiais, enquanto as pessoas se afastavam arrastando os pés e o queixo encostado no peito, sem nenhum resquício dos protestos de segundos atrás.
Alina girou nos calcanhares e correu na direção oposta até a entrada da trilha, mas antes que sequer pisasse na grama um aperto forte e firme agarrou a curva do seu cotovelo e forçou-a a parar.
- Não me faça bater em você também. - um dos oficiais é empurrou na direção dos outros que iam embora e Alina cambaleou, esbarrando em algumas pessoas que resmungaram antes dela correr para o oficial de novo.
- Você não entende... - ela olhou para a expressão indiferente do oficial, mechas ruivas caídas sobre seus olhos que Alina não se deu ao trabalho de ajeitar enquanto travava o olhar no dele. - Perdi minha irmã lá dentro. Estava muito escuro e cheio de gente, não posso voltar para casa sem... - o oficial apontou o fuzil pendurado em seu ombro para ela e suas próximas palavras se dissolveram na língua, a percepção do quanto deveria parecer patética aumentando sua urgência.
No entanto Alina jurou ver uma pontada de reconhecimento no olhar vazio do oficial, e ela teve certeza de que ele sabia quem ela era, de que não queria atirar de verdade.
Mas o fato dele não querer atirar não o deteria, e foi isso que a fez engolir em seco, abaixar a cabeça e se virar para seguir os poucos que sobraram.
Ela percorreu todo o caminho de cabeça baixa, veículos militares acompanhando cada movimento dos que se dirigiam as suas residências, certificando-se de que as ordens seriam cumpridas. Alina sentia um tipo novo de medo corroer seu estômago, um tipo de medo que a fez entrar em Pânico minutos atrás, e que agora afundava sua mente em um estado mortificado, descrente.
Não podia acreditar que eles haviam expulsado todos da praça, que não deram a mínima as pessoas implorando como Alina para voltarem a capela só por alguns instantes, o suficiente para encontrar seus familiares e voltarem para casa em paz, sem aquela sensação de desamparo que pressionava seu peito. Mas é claro que eles ignoraram, ignoraram e acolheram apenas as famílias importantes como faziam desde sempre. Era tão injusto aos seus olhos, a conclusão de que merecia menos do que outros era revoltante, e o fato de que Alina já fora parte de uma dessas famílias antes tornava tudo aquilo ainda mais frustrante.
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A cidade das Lendas. (Darkfalls Número 1)
FantasyHá três séculos atrás, a mãe natureza teve sua vingança. Há trezentos anos, fogo subiu pela Terra e consumiu o que queria, destruiu continentes inteiros, mas, por algum motivo, deixou sobreviventes. Deixou também lendas, histórias marcadas a fogo es...