CAPÍTULO DEZOITO

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"Tenho um segredo, você pode guardar?
Jure que vai salvar este, melhor trancá-lo no seu bolso, levando este para o túmulo."
- Secret, The Pierces. -

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- Eu estava com minha irmã mais nova, num lugar que eu nem queria estar. De repente o mundo começa a tremer e tem coisas caindo em cima da gente, está todo mundo gritando e quando acaba, as pessoas desmaiam, todas ao mesmo tempo, e quando eu acordo... Minha irmã não está em lugar nenhum, e ninguém sabe o que aconteceu. Então sim, Thomas, eu fiz um escândalo na frente de metade da cidade, e Eu até já posso adivinhar no que estão falando de mim agora. mas sinceramente, eu não me importo nenhum pouco. Eu a perdi, Thomas! Perdi a última pessoa que me sobrava, e as pessoas que poderiam realmente ajudar só estão perdendo nosso tempo pra que ninguém faça o tipo de confusão que eu fiz hoje! -

Ela se sentou de volta na cadeira e respirou fundo,  surpresa por ter ficado ofegante com aquelas palavras e por se sentir tão aliviada ao pôr tudo para fora, poder fazer com que alguém a escutasse naquele dia sem que a olhasse de forma penosa, e sabia que Thomas era a melhor pessoa para aquilo.

Por isso Alina não se chocou quando o encarou e não notou nenhuma gota de compaixão,  nada de pena. O que encontrou, no entanto, foi irritação, um toque de embriaguez e havia algo que aí sim a surpreendeu e que ela não conseguia identificar de primeira.

- Ela não era a  última pessoa que te sobrava. - as palavras dele foram como dois tapas em seu rosto, um por ele usar a palavra no passado como se Olivi já estivesse dada como morta e o outro porque de fato ela não era a última pessoa que lhe sobrava.

Mas pensar na mãe, esqueletica e com aquela palidez doentia, sem nunca trocar nem duas palavras nos últimos 4 anos era doloroso demais.

- Você poderia me ajudar. - ela sussurrou, a voz rouca e ferida depois de tanto gritar, e quando Thomas se retraiu ela finalmente reconheceu apontada em seu olhar que não tinha identificado.

Ele sabia de algo que ela não sabia.

Alina conhecia Thomas desde que era nascida e se acostumou a tê-lo em sua vida como um tio. Ele foi o melhor amigo de seu pai e serviu no exército especial junto com ele, Também estava com ele na missão em que Jason fora abatido.

Mas desde aquela missão Thomas não era mais o mesmo, e túdo só piorou quando a decisão de despedirem todos os membros do exército especial foi tomada e Thomas, Junto com todos os outros soldados, foram obrigados a se aposentarem.

O exército especial era, como já diz o nome, um exército especial que foi criado pelas grandes famílias que controlavam as cidades, e  ninguém sabia porque esse exército fora criado nem o que eles faziam. Mesmo quando todos foram despensados, nenhum dos oficiais nunca falava sobre seus trabalhos antigos, e a maioria apenas vivia em suas mansões e aproveitava o dinheiro que receberam por seus serviços antes de serem despejados.

Mas Thomas não teve a mesma sorte e acabou torrando tudo que tinha, tendo agora uma mansão na ária nobre de Darkfalls e se mantendo com os lucros da Guilda Criminal, onde ele comandava e treinava pessoas como a filha de seu melhor amigo morto para serem assassinos e ladrões.

Haviam teorias, é claro, mas todas elas envolviam religião e misticismo, algo que Alína era cética há muito tempo. Contudo o fato dela ser cética ao assunto não a impediu  de abordar Thomas incontáveis vezes após o falecimento de seu pai, afinal, ela precisava saber que trabalho era aquele que matara Jason, que missões eram as que eles faziam que custaram a vida dele.
Não importava o que ela dizia, nem quantas vezes perguntasse ou se gritava e chorava, Thomas nunca abria a  boca para responder suas perguntas.

- Ajudar com o que? - ele soou mordaz, desafiando-a dizer o que realmente queria, por mais que Alina soubesse que Thomas a  entendera.

- Ajudar a encontrar respostas, a encontrar Olívi. - ela chegou para mais perto da bancada, os olhos fixos nele esperando por uma resposta.

Ao fixar o olhar nele daquele jeito, era impossível não notar que Thomas estava tão cansado quanto ela e Christopher, e esses eram um dos motivos que deram a ela coragem para pedir aquilo, pois não acreditava que ele recusaria. Não podia recusar, não é mesmo?

Não estavam falando de qualquer pessoa, estavam falando de crianças, uma das quais era a filha caçula de seu melhor amigo falecido, e ele não seria frio a esse ponto, seria?

Ele ficou em silêncio por tempo demais, e o coração de Alina acelerou. Ele estava quieto de um jeito que ela conhecia muito bem, era o tipo de silêncio que ele ficava preso toda vez que ela perguntava sobre o exército especial, toda vez que ela tocava no assunto do dia da morte de Jason.

Alina sabia que Thomas não responderia, não quando ele mergulhava naquela quietude agonizante.

Ela voltou sua atenção para aquele ponto No rosto dele de novo, o ponto que a fazia ter certeza de que ele sabia de algo, que estava ocultando alguma coisa dela e que, para piorar, não importava o que ela dissesse, Thomas não diria nada.

Alina suspirou, furiosa, mas ao mesmo tempo exausta demais para discutir naquele instante. Suas temporas latejavam e ela sentia que poderia simplesmente escorregar no chão e ficar por ali mesmo, mas apenas encarou Thomas por alguns últimos segundos antes de se levantar e caminhar até a porta.

Alina já estava com os dedos na maçaneta quando a voz dura e séria A interrompeu e a fez olhar por cima do ombro, se deparando com uma expressão inescrutável a não ser por aquele indício que denunciava que ele sabia de algo que ela precisaria descobrir mais tarde.

- Tôme cuidado, criança... não se meta nessa confusão, não há nada que você possa fazer. -

- Como você sabe? - ela arriscou, tentando conseguir qualquer informação.

- Não me teste, Alína. Isso já é uma briga velha, E acredite em mim quando eu digo que se nem as grandes famílias conseguiram resolvê-la na época, não vai ser agora que elas ou você vão conseguir. -

A cidade das Lendas. (Darkfalls Número 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora