"Veja a dúvida em que temos nos atolado
veja os líderes que temos seguido
veja as mentiras que temos engolido
e eu não quero ouvir mais nada."
- Civil war, Metalíca. -°°°°°°
Alina se esqueceu de como respirava. Cravou as unhas no tecido felpudo, tonta, a cabeça girando e a visão borrando nas bordas. Sim, ela tinha pensado na palavra "desaparecida" e "vítima" incontáveis vezes nas últimas horas, mas vê-las ali, enormes e vibrantes bem deante de seus olhos causou uma reação diferente do que só pensar naquilo, e talvez encarar a foto da irmã logo abaixo dessas palavras também não ajudasse muito.
Johnny Grayson, Frank Young, Lian Wood, Colleen shepard, Hazel Clint, Leonard Lauren, Olivi Stephens.
Alína se sentiu enjoada ao ler os nomes, a atenção se demorando na foto de Olivi, uma foto que ela nunca vira antes. A foto mostrava a irmã de corpo inteiro, o rosto virado para o lado e o uniforme do colégio de Darkfalls esvoaçando enquanto ela parecia andar. Alina engoliu em seco, desconfortável de repente com a ideia de que eles poderiam estar observando Olivi assim tão facilmente, e Olivi dava a impressão de estar tão distraída... Tão vulnerável.
Alina sabia como todos ali que estavam em constante vigilância, que seria algo simples capturar uma imagem de qualquer um deles tirada das milhares de horas gravadas pelas telas que os perseguiam. Mas assim como pensar no sumiço da irmã e vê-lo escancarado a sua frente, pensar em estar sendo filmada a cada passo para fora de casa era bem diferente de ter as provas daquilo expostas com uma normalidade assustadora.
Alina encarou sem realmente ver as fotos por um longo tempo antes de se dar conta, com a respiração suspensa nos pulmões, que reconhecia algumas daquelas crianças, e que, para seu horror cada vez mais crescente, as vítimas desaparecidas eram todas crianças.
A mais velha delas não devia ter mais que 10 anos.Alina reconheceu os cachos longos e escuros de Leonard Lauren, mas ela não conseguia se lembrar o suficiente para saber de onde o conhecia. Talvez fosse algum colega de escola de Olivi, Mas ela desistiu de tentar lembrar quando seu olhar recaiu por acidente em Johnny Grayson, e no mesmo instante ela soube quem era.
Só o vira uma vez, e não passara de um vislumbre rápido, mas os cachos dourados, os olhos verdes e a covinha daquele sorriso eram indiscutíveis.
Alina agora se esforçava para lembrar do nome dele, do rapaz com as mesmas características marcantes que o garotinho exibido no telão, mas nada lhe veio a mente. Ela só se lembrava de como reagira as provocações dele, de como ele a olhara e de como a guiara para fora das capelas arruinadas, de como ele parecera tão apavorado quanto ela quando seus olhares se encontraram na trilha.
Então era por isso, ele parecera tão apavorado quanto ela porque de fato estava, também tinha perdido alguém naquela noite.
Por pouco tempo. Pensou ela, se recusando a aceitar que havia realmente perdido Olivi, que tinha falhado na única tarefa de cuidar da irmã, de cuidar da pessoa que mais amava nesse mundo.
Aquela parte de si que considerava as piores circunstâncias assomou sobre ela de novo, mas Alina a reprimiu, se negando a cogitar uma circunstância que não trouxesse ali na de volta para ela, qualquer situação onde Olivi não acabaria bem e segura.Pois sabia que se considerasse essas possibilidades, cenários em que sua maior motivação, sua responsabilidade, seu único suspiro de esperança não estaria mais com ela, AAlina sucumbiria. Sucumbiria como Talia sucumbira com a morte de seu pai, e a família Stephens terminaria daquela forma, antes prestigiada até serem vencidas pela tragédia.
Alina não deixaria que isso acontecesse, não com elas, não depois de tudo que tinha feito para sobreviverem até ali.
As portas da sala se abriram e quebraram o silêncio temeroso, vários pares de olhos seguindo as quatro figuras que entravam, um ar carregado e prepotente acompanhando-os e fazendo com que eles baixassem o queixo de imediato em um sinal de respeito automático.
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A cidade das Lendas. (Darkfalls Número 1)
FantasyHá três séculos atrás, a mãe natureza teve sua vingança. Há trezentos anos, fogo subiu pela Terra e consumiu o que queria, destruiu continentes inteiros, mas, por algum motivo, deixou sobreviventes. Deixou também lendas, histórias marcadas a fogo es...