"E você deveria saber que as mentiras não irão esconder suas falhas.
Não há sentido em esconder todas elas.
Você desistiu de seus sonhos ao longo do caminho."
- Fake it, Seether. -°°°°°°
Alina seguiu pelo corredor iluminado, vazil e estéril em direção a porta que lhe tinham apontado. Quando chegara sua vez na fila, respondeu a algumas perguntas para uma oficial, e é claro que teve que mentir sobre suas habilidades.
Ela tinha muitas habilidades, mas pensou duas vezes antes de revelar a uma oficial sobre como tinha uma mira boa, como conseguia disfarçar seus movimentos e não errar nenhum alvo;
Mas aquilo levaria a perguntas embarassosas, ainda mais estando óbvio que Alína era jovem demais para já ter frequentado a academia Militar, logo, ela não deveria saber desse tipo de coisa.Então Alina contou a história que todos sabiam: ela trabalhava pelas manhãs no Museu Das Lendas, agora destruido, e era com isso que sustentava sua família, era por isso que desistira de estudar tão cedo e por isso que estava sempre cansada.
Aquela mentira já era tão velha que não custava Nada contá-la pela milésima vez, não precisava sequer contá-la considerando que já sabiam o que ela fazia dês de a morte de Jason, e de qualquer forma, não era totalmente mentira.
Alina realmente trabalhava durante as manhãs no Museu Das Lendas como parte da equipe de segurança, um emprego que só conseguira por conta da reputação de sua família que na época ainda era positiva.
No entanto a mentira era que Alina não fazia apenas aquilo, não tinha a menor chance de se sustentar só com os trocados que lhe eram oferecidos no museu.
A quatro anos, ela se desesperou ao ponto de procurar as Guildas que praticavam a atividade ilegal de Darkfalls, ela fizera isso quando os remédios e os cuidados ficaram caros demais para Alina conseguir arcar com turnos extras no Museu.
No início Alina só se arriscara a prestar serviços de entregas ilegais, em que transportava aparelhos eletrônicos, armas ou substâncias ilegais na calada da noite. Até que nem mesmo aquilo era suficiente para mantê-las, até Alina se ver tão afundada no desamparo que teve coragem o bastante para ir até uma das organizações da Guilda e pedir por treinamento, implorando para assassinar pessoas em troca de mais dinheiro
O treinamento fora mais fácil do que ela esperava, e talvez devesse aquilo por ter visto o pai empunhar uma arma tantas vezes, talvez fosse porque observar o posicionamento de cada membro de seu corpo quando ele se preparava para acertar o alvo. O fato era que Alina teve êxito o suficiente para ser mandada rapidamente até as áreas de abate, onde ela se esgueirava no meio da noite para fazer o trabalho sujo dos nobres de Darkfalls.
Mas com o tempo Alina aprendeu a se blindar contra aquilo. Aprendeu a não olhar duas vezes depois de atirar, aprendeu a acertar de longe para não ouvir os sons de uma vida se esvaindo por causa dela, aprendeu a não ficar perto o bastante para sentir o cheiro do sangue.
Ela aprendeu a não ler as notícias no dia seguinte, para não encontrar uma manchete comunicando a morte de um membro da elite, um habitante ou um criminoso procurado, sendo que apenas esses dois últimos eram dados como mortos por homicídio.
Alina nunca vira um membro da alta sociedade ser anunciado como morto por assassinato, era sempre por doenças ou causas naturais, como se aquele tipo de morte não fosse digna deles.
Mas ela tinha certeza do que realmente havia acontecido assim que Lia aquelas linhas.Por isso não abria mais aqueles fóruns, não fazia perguntas e com o tempo ficou mais fácil apertar o gatilho sem saber quem seria atingido, se tinha família, antecedentes criminais ou qualquer outra coisa que a fizesse hesitar por segundos preciosos.
E ainda assim, ela não dormia bem a anos, e o peso do mundo parecia permanecer em seus ombros desde então.
Alina sabia que não mentira exatamente ao contar da vida que todos pensavam conhecer, da vida que a própria oficial pareceu já ter ouvido falar antes.
Contudo, o tamanho da omissão pesava em suas costas enquanto ela se afastava da oficial, sua omissão e as consequências dela não demorando a aparecer.
Se pudesse dizer que tinha uma mira impecável, que se considerava mais capaz do que muitos daqueles oficiais que guardavam cada centímetro da mansão, Alina seria encaminhada para as equipes de busca.
Ela estaria em movimento, reviraria a cidade do avesso, armada até os dentes para achar a irmã, Mas em vez disso, a vida miserável que precisava enfatizar que tinha a fez ser encaminhada para uma sala dentro da casa Fox, para analisar horas e mais horas de filmagens de segurança.Alina abriu a porta com um suspiro e prescrutou o ambiente, surpreendendo-se com o tamanho maior do que ela esperava e com a quantidade impressionante de pessoas ali dentro.
A sala era acomodada com mesas entulhadas de fios, cada uma com seu próprio computador e tablets nos quais as pessoas já mexiam, a maioria separada em grupos ou duplas.
Alina procurou por um acento vazio enquanto tentava não pisar nas tomadas do chão, até encontrar uma cadeira desocupada e se sentar nela antes de conferir sua dupla.
Ela ergueu o olhar, reconhecendo com um estalo assim que botou os olhos na garota. O cabelo escuro e comprido, a cicatriz que ia da mandíbula até o canto do olho, que a observava com atenção como se também é reconhecesse.
- Rana! - lembrou em voz alta, corando quando várias pessoas próximas se viraram para encará-la.
- Reina. - a garota corrigiu com um sorriso tímido, e Alina sentiu suas bochechas corarem com mais intensidade.
- Reina. - Alina se endireitou na cadeira e engoliu o constrangimento. - Sinto muito por... - ela parou, trincando os dentes ao perceber o que quase dissera.
Reina assentiu, séria, mas Alina balançou a cabeça e lhe lançou um olhar de desculpas.
- Não... - ela se apressou em explicar. - Falar assim parece que ele está... morto, e não está. -
Ela levantou o queixo por instinto e Reina lhe ofereceu um sorriso de verdade dessa vez, fazendo o hematoma fresco em seu rosto ficar mais proeminente.
Alina inclinou a cabeça e espiou o machucado, claramente um tapa visto que as marcas de dedos fortes permaneciam fundas e descoloridas em comparação ao resto do rosto de Reina.
Ela reconheceu a garota do dia que fora até as organizações da Guilda, pois também vira Reina esperando na mesma sala que ela para ser chamada. Mas sabia que Reina Lawren era parte da equipe que eles chamavam de acobertadores, que invadiam o sistema de segurança da cidade para apagar as imagens que pessoas como Alina deixavam após seu serviços.
Então não tinha como Reina ter ganhado um hematoma daqueles em uma confusão nas ruas por causa do que faziam, não quando tudo que fazia era confundir e desfocar filmagens atrás da tela de um computador.
Alina desviou a atenção, repentinamente enjoada e pigarreou, se virando para o computador ligado e os tablets diante delas.
- Então, por onde começamos? -
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A cidade das Lendas. (Darkfalls Número 1)
FantasyHá três séculos atrás, a mãe natureza teve sua vingança. Há trezentos anos, fogo subiu pela Terra e consumiu o que queria, destruiu continentes inteiros, mas, por algum motivo, deixou sobreviventes. Deixou também lendas, histórias marcadas a fogo es...