CAPÍTULO VINTE

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Alina partiu pela manhã, na verdade, mais cedo do que lhe fora proposto.

Ela tinha um plano em mente, um lugar que precisava ir antes de encontrar-se com Reina e com todos os outros.

O sol apenas despontava no céu nublado e ainda assim a biblioteca pública de Darkfalls estava aberta quando Alina testou empurrar as pesadas portas de vidro Claro, que pareciam tão velhas que não importava o quanto removessem a poeira, ela sempre estava lá.

O local cheirava a velhice, madeira e mofo, mas por algum motivo o aroma não era desagradável para Alina.

Ela entrou sem fazer barulho, mesmo sabendo que provavelmente não havia ninguém a aquela hora, e até a mesa comprida que deveria estar ocupada por uma bibliotecária estava vazia, o relógio em cima dela marcando 5 e 10 da manhã.

Alina estreitou os olhos e deu uma volta silenciosa pelo salão principal, se dirigindo a um dos corredores Em Um piscar de olhos quando ninguém apareceu depois de um tempo.

As paredes da biblioteca estavam sempre cobertas de quadros ou telas desde que Alina se lembrava de quando ia ali para estudar, o corredor lotado de pequenas mesinhas espalhadas com os seus respectivos assentos e computadores fechados em cima do tampo de madeira.

Ela se acomodou em uma das cadeiras e abriu o computador, esperando a tela piscar e passando direto pelas opções de livros clássicos que foram exibidos na página inicial, correndo o cursor até o campo de pesquisa e ponderou por um momento antes de digitar "Darkfalls noite do festival ano 57 terceiro século após o caos"

O resultado apareceu sem problemas e Alina respirou fundo antes de clicar na primeira notícia, seus olhos passeando pelo texto sem dar atenção as linhas com detalhes que ela já sabia e se atentando mais as informações novas.

LeonardLoeren: sete anos, filho caçula da família Loeren que trabalha no conserto de eletrônicos no bairro de utilidades uma esquina antes da ala Nobre.
Collen Shepard: 6 anos, filho único da bibliotecária Ali Shepherd que trabalha na biblioteca pública de Darkfalls, no bairro do saber uma esquina depois da praça principal.
Olivi Stephens: 7 anos, filha caçula do prestigiado falecido oficial Jason Meyer e sua esposa Thalia Stephens, nesse momento lutando contra a doença do século antes do caos.
Frank Young: 10 anos, filho único da mercante Roberta Young, que trabalha na feira do bairro cultural uma esquina depois do Museu das Lendas.
Lian Wood: 12 anos, filho único do falecido Rian Wood, caçador e mercante do bairro de utilidades uma esquina após a ala Nobre.
Johnny Grayson: órfão da grande metrópole, sob a tutela de seu irmão mais velho Christopher Grayson, que trabalha na taverna "Veneno" no bairro cultural uma esquina após a praça principal.
Hazel Clint: 9 anos, filha do oficial em serviço James Clint que está em missão na grande metrópole.

Alina engoliu em seco, lendo e relendo várias vezes para memorizar e pegando o celular do bolso para tirar uma foto da tela do computador.

Ela voltou para o campo de pesquisa e digitou "Grande metrópole noite do festival anos 57 do terceiro século após o caos" mas nenhum resultado apareceu.

Tentou com outras cidades: redfalls, Greenfalls, Yellowfalls... Mas nenhum mostrou resultados diferentes de uma tela vazia.

Alina fechou o computador com força e suspirou, pressionando a palma na testa e se levantando para sair, seus pés se movendo pelo hábito e a levando até um corredor sem mesas, cheio de prateleiras cobertas de livros com capas de couro e pergaminhos enrolados com fitas delicadas.

Alina parou por um momento, percebendo onde estava e tomada pela nostalgia, não conseguindo impedir os dedos de passarem pelas fileiras de papéis encadernados, cada título a remetendo de uma lembrança diferente, mas todas afogadas na mesma voz grave e reconfortante de um contador de histórias, a fazendo se sentir como se tivesse 9 anos de idade e estivesse em baixo das cobertas, de mãos dadas com o pai e o ouvindo contar uma lenda de que já sabia de cor enquanto ela orava para a lua pedindo por proteção e sabedoria, coisas que ela não sabia que seriam tão necessárias depois de alguns anos.

De repente uma sensação nova e terrível a tomou, e ela afastou a mão dos livros como se a tivessem queimado e se apoiou na parede oposta, abraçando o próprio corpo enquanto sentia a percepção de que estava mais sozinha do que nunca afundar dentro de si, se perdendo em algum lugar no interior de Alina que era profundo demais para que ela alcançasse aquela sensação e a arrancasse para fora do peito.

Passos soaram pelo ambiente silencioso e Alina enxugou os cantos dos olhos rapidamente, fingindo encarar as fotos das crianças desaparecidas ao lado de sua cabeça quando a bibliotecária a viu e parou no meio do corredor, lançando um olhar compreensivo a ruiva encostada na parede e organizando a remessa de livros em seus braços numa prateleira próxima.

- É uma pena, não é? - Alina se surpreendeu quando a mulher falou, e arqueou uma sobrancelha para a moça. - essas pobres crianças. - ela acenou com a cabeça para o banner ao lado de Alina. - aquele garotinho... Leonard, estava sempre por aqui atrás de um livro novo, principalmente os físicos.-

Ela gesticulou para as prateleiras e Alina a sentiu, querendo sair dali mas ao mesmo tempo não querendo ser desrespeitosa com a mulher.

Ela fingiu estar ocupada analisando os títulos gravados em tinta vibrante, e logo a bibliotecária se foi ao acabar de organizar os livros novos.

A justificativa de economizarem papel depois do caos fez com que a maioria dos livros fossem em formato digital, mas a histórias como as lendas, os mitos e as história das grandes famílias eram a exceção, histórias sagradas demais para serem lidas na tela de um tablet ou computador.

Alina se lembrava vagamente de já ter tido o privilégio de ter um conjunto de contos físicos em sua casa quando era pequena, contos que faziam os pais lerem tantas vezes que as palavras estavam marcadas em sua mente até aquele momento.

No entanto, não encostara naqueles contos desde a morte de seu pai, e nunca mais os vira, Como se até as histórias místicas das quais seu pai era tão devoto tivessem sentido que seu mais fiel narrador havia partido, como se soubesse que não haveria mais ninguém para lê-las ao pé da cama de Alina.

Apesar de estar parada em meio aqueles livros que lhe traziam tantas lembranças dolorosas, ela demorou um tempo considerável até finalmente se desencostar da parede e caminhar de volta ao salão principal da biblioteca, assentindo em despedida para a bibliotecária que retribuiu o movimento e sorriu, as portas se fechando sem ruído atrás de Alina enquanto ela atravessava a rua, com os pensamentos distraídos com uma voz forte e retumbante que a embalava num sono tranquilo quando criança, lendo a história de uma garota de pele escura e sardas brilhantes que se apaixonara tão perdidamente pela lua e que desejou com tanto fervor estar junto dela que a lua concedeu o seu pedido, fazendo a garota crescer tanto que sua pele negra e suas sardas brilhantes podiam ser vistas ao pôr do sol, inseparável de sua amada lua para toda a eternidade.

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⏰ Última atualização: Aug 01 ⏰

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A cidade das Lendas. (Darkfalls Número 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora