Amigas Novas

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Logo em que saiu do corredor das salas administrativas, ele ainda via alguns poucos alunos no térreo, mas todos sorriam e balançavam a cabeça em sua direção, como se quisessem falar com ele ou ao menos cumprimentá-lo.

Tentou ignorar isso e chegando na escada para ir ao refeitório, sentiu uma presença ao seu lado.

PUTA QUE PARIU, É HOJE!

-você sabe que não é uma boa ideia ficar contrariando policiais, certo? – Costa andava tão formalmente ao seu lado, olhando fixamente para frente, que nem ao menos parecia que ele se dirigia ao aluno – acredite em mim, é melhor parar de fazê-lo.

-eu já entendi – tenta não soar ríspido, nem continuar com raiva – não irei fazer e nem pretendia de verdade. Aquela velha que me odeia sem motivo algum.

-Rosa vive à moda antiga, precisa de paciência.

-ou ela precisa se reinventar.

-acho difícil... – ele começou, mas logo Wel cortou, pois estavam chegando ao refeitório.

-difícil é tentar entender porque as pessoas insistem que mudemos, mas não fazem um mínimo esforço para mudar. Quem determinou que seus atos e comportamentos são irrefutáveis e que devemos nos moldar a eles?

Deixou o policial um tanto surpreso com sua fala e logo se virou indo até a quase inexistente fila da cantina.

Pegou a bandeja rapidamente, sob o olhar severo das merendeiras e tentando não ficar triste com isso, sentou-se sozinho novamente, torcendo para comer em paz, mas não existia isso numa escola como essa.

Duas garotas sentaram a frente dele, parecendo eufóricas.

-você é nosso herói! – a mais alta delas dissera.

Ele levantou o rosto tentando não revirar os olhos, mas ao notar as garotas, não o fez. Ele sabia que elas eram da sua sala, mas não entendia por que agora elas queriam falar com ele.

-nunca na vida alguém chegou com o cabelo assim – a outra dissera com as mãos mexendo como se estivesse tendo um ataque – serio, uma vez Cristal aqui tentou fazer algumas mechas coloridas e quase deixaram ela careca.

-é verdade, mas confesso que foi bom, porque não ficou tãaao legal.

-ficou sim, você que se reprimiu por causa dessa escola.

Ele balançou a cabeça concordando, porque não fazia ideia do que estava acontecendo.

-desculpa. Estamos atrapalhando? É porque queríamos pegar você antes que outras pessoas o façam.

-como é? – ele sentiu-se ofendido.

-Marcela! – a que fora chamada de Cristal a repreendeu – ela não quis dizer isso. Te vimos sentado sozinho e pensamos em te fazer companhia. Sabemos como é horrível ser novo na escola.

-vocês são novas aqui? – ele não se deixou convencer.

-na verdade, não – Cristal admitiu.

-mas já lemos e vimos filmes suficiente para saber que os novos da escola sempre passam por uma barra, então a gente quer te deixar confortável.

Ele não respondeu nada, agora tentando mastigar a comida antes que perdesse seus últimos quinze minutos de intervalo, mas soltou uma rápida apresentação, mesmo que elas já soubessem isso.

Deixou que as duas falassem, ocasionalmente respondendo fracamente um sim ou não, ouvindo atentamente sobre o funcionamento da escola, algumas fofocas desinteressantes e como ele tinha se tornado famoso em pouco tempo.

Não gostou de ouvir aquilo, pois havia prometido tentar se comportar mais, porém, não havia mais nada que ser feito agora.

-vimos você falando com Hugo ontem – Cristal era magra, alta e seus cabelos eram tão curtos que nem ao menos chegavam até o fim da nuca.

Sua pele era tão branca e pálida que era possível que ela tenha passado anos trancada dentro de um quarto sem ver a luz do sol, ao contrário de Marcela, que mal chegava no ombro da amiga e tinha a pele escura e cabelos cacheados que chegavam em seu ombro.

-hum – Welleson apenas resmungou, agora finalizando a comida.

-ele é muito tímido. Não era da nossa turma, mas parece que se meteu em algumas confusões ano passado.

-é. Os amigos todos foram expulsos. Ele ficou acho que para a escola usar como lembrete. Do que adiantaria ninguém mais lembrar que eles são carrascos se todos que sofreram se foram? – Cristal parecia obscura e triste.

-menos com você – os olhos de Marcela brilharam.

Wel ainda estava analisando as informações obtidas sobre Hugo, que certamente o deixaram mais interessante, até que aquilo o tirou de sua orbita privada.

-o que tem eu?

-você humilhou Rosa duas vezes e ainda por cima aparece com o cabelo laranja e não foi expulso! – a animação de Marcela o deixava tonto – nunca vi isso acontecer.

-esse é meu cabelo natural, não podiam me expulsar – tentou dizer, mas foi cortado por duas bufadas desacreditadas.

-fala sério!

-tudo bem, não é. Mas eles não tem como provar, certo?

Tentou conter o sorriso malicioso que escapou de sua boca, mas ao ver a expressão das duas garotas a sua frente, notou que não foi tão eficiente.

Apesar de ser errado, a sensação de finalmente vencer alguma discussão ou algo parecido era excitante e por mais que tenha prometido não causar mais tumulto, queria ao menos desfrutar do sentimento por algum tempinho.

Afinal, ele estava vivendo o sonho adolescente dele.

-melhor irmos para a sala – olhou o relógio como se tentando apressá-las.

-é mesmo. Hoje o primeiro tempo é educação física – Marcela lamentou deixando a cabeça cair lateralmente nos braços de Cristal.

-ah, tinha esquecido que temos isso na escola – Wel também estava decepcionado.

-ué, na tua antiga escola não tinha? – Cristal afagava a cabeça da amiga enquanto caminhavam.

-hum... somente detesto, mesmo. Não sou tão atlético.

-e quem é? – Marcela agora pareceu se encher de vida – essa escola já é absurda por natureza, mas com meninas gordinhas então?

-e as altas e magrelas? Chamadas de Mortícia...

-não me admira que usam Mortícia como insulto aqui, esse pessoal deve ter apenas dois neurônios e só devem usar para procurar pornô na internet.

As duas pareceram momentaneamente espantadas, mas logo caíram na risada com o que fora dito e ele também o fez, mas percebeu que teria que melhorar sua linguagem madura, principalmente perto das garotas mais novas.

Tudo Que For Possível Fazer (Trilogia dos Desejos #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora