A epifania

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Em todo o tempo que fiquei sozinho na cabana de Taehyung, nos dias iniciais, dividido pelo medo e tentação de superar tudo o que fui criado para acreditar, eu imaginava o que deveria ser feito caso essa situação acontecesse, quando finalmente chegasse a alcateia, quais atitudes teria, o que faria, como lutaria, como me defenderia, imaginei alternativas, calculei possibilidades. Pensei em Wonwoo, pensei na minha família, mesmo que não tivesse cogitado na atitude covarde que Alfa dos alfas teria, achei que poderia contornar toda a situação e fazer o que quisesse da minha vida. Eu cogitei os efeitos que minhas escolhas teriam em mim e na sociedade como um todo, repassei tudo com Jin hyung várias vezes, até no dia anterior a minha fuga, eu estava preparado para enfrentar as consequências, principalmente depois que decidi ter uma vida com Taehyung, eu sou responsável pelas minhas escolhas e aceitar que vê-lo sangrando sobre a branca neve era culpa minha, assim como também é minha responsabilidade a luta entre duas pessoas que eu amo no momento em que decidi resistir. Tudo é culpa minha.

Por mais que me sentisse muito mal, que estivesse preocupado com o futuro do amor da minha vida, da minha família e o meu próprio, todo esse sentimento negativo estava sendo amenizado pelo cheiro forte de ômega do Wonwoo, que me carregava pela floresta em suas costas, como fazia quando éramos crianças, a nostalgia me mantinha calmo, os dias felizes e ingênuos de uma criança que seria o futuro da alcateia. Além disso, confiava que Namjoon e os outros cuidariam bem do meu alfa enquanto eu era carregado de volta para onde eu não gostaria, assim como também sabia que teria os cuidados da pessoa que eu mais confiava neste mundo. Abracei Wonwoo com força, para que ele soubesse que não o culpava de nada, deixei que seu odor dominasse ainda mais meu olfato e que meu coração se aquecesse com as lembranças da minha casa, de minha mãe e irmãs.

Não demorou muito para vir a imagem da roupa que minha mãe costurou, com suas mãos delicadas, para uma festinha que fui convidado quando ainda era criança, uma fantasia de príncipe, com uma bela coroa dourada, um blazer azul claro e aquelas botas que eu insistia em usar sempre que podia, me senti a criança mais feliz da face da terra porque acreditei que o mundo todo seria meu e que o herdaria quando ficasse adulto, não entendi, na época, o choro da minha mãe, mesmo com o sorriso orgulhoso no rosto, era apenas uma prévia da vida tortuosa que eu teria. Nunca me esqueceria daquele olhar, o medo de eu sofrer, de não ser bem tratado pelo meu futuro alfa, não queria que eu fosse um príncipe infeliz, sinto tanta falta dela quanto sentia de Wonwoo, e até me sinto culpado por causar uma óbvia preocupação em seu coração de mãe, mas sabia que ela me entendia, todos me entendiam.

Senti meu corpo perder toda força, a exaustão estava tomando conta, da minha mente e coração, não faço ideia de como Wonwoo conseguia continuar andando comigo em suas costas, após aquela luta tão violenta e destrutiva. Mordi meus lábios, senti o ar gelado e úmido invadir meu nariz, os troncos de árvores passavam lentamente enquanto os passos lentos afundavam na neve macia e branca, acho que estou bastante conectado com a natureza, como se eu estivesse sentindo-a deixar meu corpo enquanto voltava para a civilização. Entretanto ainda sinto meu nariz coçar constantemente à medida que era exposto ao frio, pelo visto minha imunidade não melhorou em nada durante todo esse tempo, são em momentos assim que percebo que o corpo quente de Taehyung e seus abraços faziam toda a diferença durante as noites frias, mesmo debaixo daquelas cobertas. Queria poder olhar para o céu, enxergar as estrelas tão lindas, os astros, planetas, todos quais só podemos admirar longe da iluminação da cidade, me lembro dos raros momentos que meu alfa estava romântico, ele costumava me comparar as estrelas, dizia que brilhava como uma constelação inteira, e que poucos eram merecedores de apreciar alguém como eu. Mas no fim, creio que tempo esteja nublado, como meus sentimentos diante do que estou metido, o que me faz lembrar novamente de Taehyung, ele estava para nuvens o que eu estava para estrelas, tão livre, imprevisível, apenas se deixa levar pelo o que a vida lhe oferece e pode ter as múltiplas formas com o viajar das horas, responsável pelos tempos melancólicos de chuva ou por criar uma paisagem muito mais bonita quando sai da frente do sol.

Branco Como A Neve (Kth + Jjk ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora