O pássaro

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Confiar em Kim Taehyung vem sendo fácil demais, e isso está me amedrontando um pouco, não posso tornar as coisas tão positivas assim, minha situação não permite isso. Preciso tentar focar, decidir o que quero para mim daqui para frente, mas torna-se bem complicado com o grande nada que me cerca. Para todo o lugar que foco o máximo de minha atenção, minha mente se enche de tédio e começo a resmungar coisas aleatórias. 

Kim passa muito tempo na floresta, não sei fazendo o que, mas sempre retorna em períodos curtos de tempo, principalmente quando aparece com algum bicho morto e com a roupa cheia de sangue. Tomar banho também não é um perigo, pelo menos acho que não, aprendi o que fazer com os peixes invasores de privacidade, mas ainda sinto um pouco de falta de dançar na água, mesmo que tenha ocorrido uma única vez.

Agora estou aqui, fitando o teto pensando se eu varro ou não o chão pela sétima vez no dia, a cama de Taehyung está sendo bastante confortável, principalmente quando me pego dormindo em algumas tardes. Passo os dedos pela madeira cortada de maneira simétrica, caso inacreditável para alguém como Kim Taehyung. A pobre cama parece tão solitária, mesmo que acompanhada por alguma espécie de mesa pequena para suportar nossa lamparina, que apelidei carinhosamente de Vagaluminha. Pensando aqui, acho que posso chamar a cama de Clotilde ou Somi, se bem que esse segundo é o nome e uma loba alfa insuportável da alcateia. 

Então a cama vai ser a Clotilde. Sorri feliz, agora quero batizá-la. Vou até o pequeno balde que Taehyung sempre traz com um pouco de água do riacho, e jogo algumas gotículas sobre o tecido que nos cobre em dias frios, não sei onde ele arrumou aquilo, mas é bastante eficiente, mesmo que arranhe um pouco a pele: — Eu te nomeio Clotilde, a cama.

Viro-me para o restos dos móveis, o nosso fogão improvisado tem uma expressão de garoto rabugento, irei apelida-lo carinhosamente de Zé do Fogo, bem óbvio. Ele precisa entender a serventia dele na terra. Há um pequeno armário, com apenas duas portas e um pequena gaveta com o arsenal reduzido de Taehyung, com suas facas afiadas, cerca de cinco ou seis. Penso com carinho nele, e decido que o melhor é ser Bernardo. Quase me esqueço do banquinho-tronco, chamará Potts, enquanto a sua acompanhante, a mesa maior, que nos ajuda a ter um jantar — pelo menos um pouco — higiénico, será a guerreira Xena, nossa princesa. 

Ouço a costumeira batida do galo na nossa porta, nas primeiras horas eu pensei seriamente que alguém estava querendo me pegar e me esfolar vivo, mas quando olhei pela pequena janela vi o coitado solitário, então joguei alguns milhos para ele, o observando do alto, já o batizando como Lolo, aquele que nunca para de cantar.

Acabo sorrindo com minha idiotice, principalmente quando vejo a silhueta de Taehyung há uma distância consideravelmente pequena, ele revira os olhos para a minha atitude bondosa com o galo, e mostro a língua em sua direção, conforme já me aconchego na Clotilde. Kim não tarda a trazer um pouco do frio para o interior de nossa cabana, falando nisso, preciso dar um nome para a porta também.

— Não acredito que você está dando meus milhos para esse galo idiota! — Taehyung tem um péssimo costumes de não cumprimentar ou usar um pouco de delicadeza. — Eu juro que vou depenar essa criatura e colocar num banho de morte, de preferência, no fogo. 

— Você não vai depenar o Lolo. Ele faz parte da casa, merece ser amado como a Clotilde, por exemplo. — Nem percebo que ele pode usar isso para caçoar ainda mais da minha cara, mas que se exploda, eu estou profundamente feliz com as denominações nessa cabana extremamente limpa.

— Por favor, me fala que esse tal de Lolo não aquele galo imbecil! Porque se for, eu depeno a sua cara.

— Não tem como você depenar a minha cara. — Então percebo que Taehyung não trouxe um animal de grande porte hoje, mas pelo menos não está mais reclamando de ter que ir buscar legumes para mim todo o santo dia. Acho que viciei o pobre coitado em cozidos. — E eu estou ficando entediado, até batizei a Clotilde hoje. — Dou alguns tapinhas em nossa cama. — Cumprimente a Clotilde, Sr. Lobo Mau.

Branco Como A Neve (Kth + Jjk ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora