06.

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Pov. Remus Lupin.

A lua cheia estava chegando, e para me preparar, sempre verificava o estoque da poção que Snape fazia para mim.

Quando vi que tinha apenas um frasco, me senti mal por não ter lembrado que havia acabado antes.

Ao fim das aulas, sigo direto a sala de Snape. Eu esperava que diante da mudança que ele teve, também tivesse mudado o seu humor.

Eu não pedia mais lotes de poções a três meses pois tinha feito um estoque.

E da última vez que havia lhe pedido, ele estava bem menos mal-humorado do que o normal, mas eu associei isso ao seu estado de saúde.

Bato em sua porta depois de subir milhares de lances de escadas, o que me fez ficar ofegante.

Ele mesmo abre a porta.

Eu havia visto ele hoje no almoço.

Sem sombras de dúvidas, antes ele estava com uma aparência bem melhor do que agora.

Seus cabelos estavam desgrenhados, coisa que nunca vi na vida. Suas roupas, verdes surpreendentemente, amarrotadas e com um aspecto sujo e queimado.

— Você...está bem? — Pergunto, realmente preocupado com o seu estado mental.

— Melhor, jamais. Apenas um incidente em aula. — Ele diz, apontando para suas roupas.

Arregalo os olhos, realmente surpreso. Parecia que haviam jogado um feitiço nele, ao ponto de jogá-lo do outro lado da sala.

— Você ficará aí, me admirando, ou entrará e me dirá o que quer comigo, Lupin?

— Hã...ah...ah, claro.

Eu entro e fecho a porta atrás de mim. A sala onde estamos é desprovida de tudo.

Não tem mesas, cadeiras, janelas, prateleiras, nada.

Apenas a porta de entrada e a dos aposentos de Snape.

É meio claustrofóbico.

Ele para no meio da sala, colocando as mãos para trás e olhando para mim.

— Então...?

— É, bom...— Limpo minha garganta, já sentindo meu rosto esquentar.— O meu estoque de Wolfsbane acabou...eu queria saber...se você poderia fazer um pouco para mim. Eu sei que tem pouco tempo...eu...eu...

— Por que parece que você vai abrir um buraco no chão? Seu rosto está na cor de um tomate, Lupin.

Ele diz isso com um sorriso, o que me deixa de queixo caído. Fazia anos que não via um sorriso em seu rosto. Décadas.

— Eu não quero lhe importunar...

— Não tem problema. Eu já havia deixado preparado, na verdade. Irei buscar, um instante.

Ele sai pela porta oposta da que eu entrei e desaparece.

Ficar esperando ele naquela sala era, minimamente, aterrorizante. A sala era bem iluminada, com algumas luzes enfeitiçadas, porém a falta de janelas, e o fato da sala estar no último andar da escola, me deixava levemente apreensivo. E se Snape resolvesse me matar aqui? Ninguém descobriria.

Ele volta momentos depois, dessa vez, vestindo roupas de azul-marinho que o deixava extremamente...

Melhor não pensar nisso.

Seus cabelos estavam no lugar, e provavelmente por não estar mexendo com poções durante as aulas, estavam bem menos oleosos, parecendo macios até. Me dava vontade de os tocar.

— Aqui está. Tem o suficiente para essa lua cheia. Não consegui fazer mais por falta de ingredientes, porém vou repor ao fim desse mês, e farei mais um lote.

— Obrigado, Snape. De verdade. Não sei como você ainda me atura desde o 5° ano com isso...

— Lupin, eu apenas usei aquela situação extremamente traumatizante em que seus amiguinhos me meteram ao meu favor. Eu não beneficio apenas você, outros lobisomens também me procuram. Eu apenas não cobro nada da sua parte, pois foi a partir daquela experiência contigo que tudo se deu início.

— Eu...eu...

— Veja, não tem problemas. Me traumatizou você quase me matar naquela noite por causa de uma "pegadinha" que Black queria fazer comigo? Com certeza. Mas é algo do passado. Quando eu sobrevivi as picadas da Nagine, eu prometi a mim mesmo que não deixaria o passado continuar tendo controle sobre a minha vida. Então, está tudo bem, de verdade. Eu é que devia pedir...desculpas. Por tudo que fiz antes ou depois daquele dia.

Meus olhos e minha boca estavam abertos diante dessa fala.

— Você me...desculpa? — Era notável a dificuldade dele em dizer essas palavras, o que tornava tudo ainda mais inacreditável. — Não só em seu nome...mas, no de Potter e Black também. Me desculpe.

— Eu...uau. Caramba. Eu acho que em nome de James, sim, eu aceito. Ele provavelmente não negaria uma desculpas sua. Em nome de Sirius...bem — Solto uma risada em meio à frase, não conseguindo impedir as lágrimas de inundarem meus olhos quando penso nele.

— Acho que seria mais fácil ele me lançar um Avada Kedrava.

Eu rio, sem conseguir me conter.

— Com certeza.

Ele sorri também. Sorrir torna ele alguém muito bonito.

— Está sendo difícil?

— Oh...muito. — Já fazia dois anos que Sirius havia morrido, mas eu ainda sentia sua falta.

— Eu sinto muito. Não sei como é a dor de perder alguém amado...

— Você...não sofreu quando Lilian morreu?

— Ah...bem. Sim, sim. Sofri, bastante. — Ele diz, porém parecendo meio perdido diante dos pensamentos sobre. — Na verdade eu...não me lembro muito bem daquela noite. Mas depois daquele dia, sim, eu sofri bastante com a morte dela.

— Deve ter sido algo traumático. Dizem que quando passamos por algo assim ou a gente lembra de cada detalhe, ou de quase nada.

— É, realmente...

— Bom, obrigado pelas poções. Considere suas desculpas aceitas.

— Não há de quê. Obrigado. Quando você precisar, eu ajudarei sem problema.

Fico surpreso. Com certeza, um tempo atrás, Severus Snape não estaria dizendo essas palavras.

— ...Obrigado.

Digo, realmente agradecido.

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Quando deito em minha cama e pego no sono, espero sonhar com Sirius e seus olhos azuis novamente, como em todas as noites.

Porém o rosto que vem a minha mente durante a noite é o de Snape e seus olhos negros.

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