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Amaury chegou em um momento da sua vida que praticamente tudo se baseava em trabalho. Comia a caminho do trabalho, viajava a trabalho, o guarda roupa inteiro era voltado ao trabalho e até o lazer tinha a ver com trabalho, afinal, até mesmo em busca de prazer o homem preferia pagar para que fosse do seu verdadeiro agrado.

Apesar disso, seletivo com os modelos de sua própria agência, Amaury buscava seus acompanhantes em outras agências que como Elysium, forneciam uma gama de possibilidades.

Depois que se divorciou, Amaury foi incapaz de criar laços com qualquer pessoa que fosse. Não tinha mais tanta paciência para o ritmo de uma descoberta, e todo aquele "lenga lenga" de conhecer os gostos, sonhos e vontades de outras pessoas. Sentia que havia perdido tempo demais enquanto casado, mesmo que não tenha durado mais do que dez anos. Próximo dos quarenta, Amaury agora se via livre e disposto a aproveitar o restante de sua vida como bem entendesse.

E assim fazia. Viagens caras, luxuosas, drogas, dinheiro. Ele tinha absolutamente tudo que ele queria.

Se de vez em quando sentia-se só, ele apenas ignorava e pagava para que alguém suprisse sua falta momentânea.

Apesar disso, concluía com o passar dos anos que não era tão momentânea assim.

Era sábado à noite e havia decidido não ir a lugar algum. Precisou recusar alguns convites, mas pelo menos não precisava dar satisfação alguma.

Saudade de você, meu filho.

A mãe de Amaury falava do outro lado da linha enquanto ele segurava o telefone contra a própria orelha.

— Também sinto sua falta, dona Fátima.

Ele se jogava no grande sofá da sala com luz baixa, podendo ver toda São Paulo pela janela do chão ao teto do vigésimo andar de seu apartamento.

Quando é que você vai deixar de trabalhar tanto e vir me ver?

Perguntava enquanto ele conseguia ouvir os barulhos de panelas batendo no fundo.

— Em breve. Ou você poderia vir me ver. Sabe que posso mandar te buscarem a qualquer momento.

Ah, não, não é assim, Thiago, seu pai não sabe cuidar das minhas plantas. Ele iria deixar todas elas morrerem.

Ele riu.

— É verdade. Ele ia mesmo.

Amaury fechou os olhos, respirando fundo e permitindo-se sentir agraciado pela voz da mulher que tanto era grato por tudo que já havia acontecido a ele em sua vida, porém que estavam distantes, e ele sabia que só tinha um culpado por isso.

Em vários momentos em que ele se desligava dos flashes e da correria da rotina que tinha, Amaury sentia que havia se perdido de si mesmo. A voz de sua mãe do outro lado do telefone o fazia perceber que não era um caminho sem volta. Ela o lembrava de como era uma vida simples.

Não que ele se arrependesse, mas, não era ruim antes. Só era diferente. Foi uma noite confortável longe de toda a bagunça e farra, apenas lembrando-se do acalento que somente dona Fátima poderia lhe trazer.

・゚:*

Diego ainda era chamado para alguns trabalhos, embora fossem poucos, o que o deixava imediatamente frustrado, já que começou bem, e de repente foi apagado dali como se nunca tivesse existido.

Uma parte dele questionava se havia feito algo de errado, se tinha ofendido alguém, se não tinham gostado dele... a outra parte tinha certeza que isso era Amaury querendo obrigá-lo a aceitar o esquema de book azul, como chamam.

Red Lights | DimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora