CAPÍTULO 24

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Arielly

Heitor: aquele favelado de merda, eu poderia ter quebrado a cara dele

olhei pra ele com tédio, estávamos na orla ainda, com a ajuda das pessoas consegui ajudar ele com os ferimentos, mas ele tava um saco, sempre falando do cara e sobre como poderia ter quebrado ele.

Arielly: para de falar isso, você acha que pode chamar eles assim? só pelo fato de você nascer em berço de ouro e eles não? olha so essa desigualdade que você tá fazendo surgir, isso é ridículo para você, eu sei que ele estava errado em te bater, mas você provocou.

Heitor: você acha que eu mereci apanhar dele?

sim.

Arielly: não sei de nada, agora pare de usar esse termo para se referir aos moradores de comunidade

Heitor: você por acaso conhece eles? olhou parecendo tão interessada

apertei o algodão na ferida dele e vi ele reclamar, Ignorei sua pergunta e continuei cuidando das coisas, a boca dele estava machucada, os olhos e algumas partes do corpo também, devolvi o kit médico e agradeci.

Arielly: agora vamos embora e você vai direto pra sua casa, não não parar em lugar algum

Heitor: você não vai comigo?

Arielly: vou de uber, se cuide e me mande mensagem quando estiver melhor, beijo

dei as costas para ele e peguei meu celular chamando um uber rapidinho, quando chegou, eu entrei e vi que ele ainda estava me olhando, acenei pra ele que continuou olhando e não acenou de volta.

[...]

Fabi: uma criança, chegou sem respirar direito, relatório esta em cima da mesa, é todo seu

corri pegando o relatório e fui direto para sala, entrei vendo que parecia ter uns 5 ou 6 anos a criança, uma menina estava ao seu lado e chorava desesperada.

- salva ele doutora, por favor

Arielly: você pode me dizer o que aconteceu??

- a gente estava brincando e comendo, aí ele se engasgou e eu liguei pro samu, eles disseram o que era pra fazer e eu tentei, a comida saiu, mas ele começou a ficar sem respirar e a boca dele tava sangrando

ela começou a chorar novamente e eu pedi para que tirassem ela do quarto, cheguei a examinar ele mas ele não aparentava estar engasgado com nada.

Arielly: preciso urgentemente de um Raio X, preciso saber o que tá acontecendo com ele e precisa ser agora

vi os dois enfermeiros que estavam comigo sair correndo e pegamos a maca levando para outra sala, ele estava desacordado, mas dava para perceber que não estava nada bem.

- aqui doutora

olhei para tela rápido e vi algo meio pequeno preso a garganta dele, os batimentos cardíacos estava cada vez mais devagar, olhei para o Jean e ele me olhou sem entender o que seria.

Jean: de onde ele veio?

neguei e pedi para ele checar com a criança que estava lá fora, voltei a olhar para a imagem e não passava nada na minha cabeça do que poderia ser aquilo.

- você acha que ele pode ter engolido alguma peça de brinquedo?

neguei e vi que o Jean havia voltado.

Jean: eles moram na rocinha, ela disse que na hora o pai havia ido trabalhar e a mãe também, somente os dois estavam em casa, e ela disse que o pai dela trabalha vendendo Intorpecentes

Arielly: leva ela pra sala de cirurgia agora.

corri pra dentro da sala, tirando os equipamentos dele e pedi ajuda pra tirar ele dali, acionei o botão de emergência e vi a Fabi.

Arielly: ele deve ter ingerido alguma droga, a menina falou que o pai deles vende esse tipo de coisa e ele deve ter pensado que era alguma bala, nao sei, precisamos de cirurgia agora Fabi.

ela correu pra chamar a cirurgia e eu entrei na sala de cirurgia , colocando a máscara no rosto, vi a doutora entrar e perguntar algumas coisas sobre a criança, vi que se chamava Samuel e tinha 5 anos de idade.

[...]

me sentei na cadeira e vi uma xícara na minha frente, olhei pra cima vendo a Fabi, com uma olhar confortador e ela me abraçou de lado.

Fabi: ele lutou muito, a gente fez o que estava ao nosso alcance Arielly

Arielly: eu sei, mas eu sentia que a gente podia trazer ele de volta, uma parada respiratória, você tem noção disso? uma criança de 5 anos

Jean: ele não morreu, ele teve a parada respiratória mas conseguimos reanimar ele, cirurgia continua, conseguimos tirar o que estava dentro dele e realmente era uma droga, estava embalada em um plástico ainda

Arielly: ele tá vivo?

ele assentiu e um peso enorme saiu das minhas costas, sai da sala no momento que ele teve a parada respiratória, eu não aguentei e saí, acabei chorando por saber a irresponsabilidade que os pais dessa criança teve, a irmã não teve culpa, ainda rasgou uma criança e não sabia nada disto.

só fui ver ele quando ele foi pro quarto, ele estava com um inalador, e estava dormindo ainda, a irmã dele tava dormindo na cadeira.

ele parecia tão pequeno, me doeu muito ver ele naquele estado, pensar que eu achei que não seria nada demais.

- cadê ele? oi, eu sou a mãe dele, como ele está?

Arielly: no momento ele tá estável, não acordou ainda e a cirurgia acabou faz pouco tempo.

- ele não teve nada demais né? meu deus, eu sabia que não devia ir trabalhar hoje

Arielly: a senhora não devia deixar uma criança cuidando de outra, tem noção de que a senhora foi descuidada com esses dois? imagine se ela tivesse consumido da mesma coisa que seu filho, os dois poderiam estar mortos neste momento, e seu filho teve uma parada respiratória, a senhora por acaso estava ciente de que ele é asmático? creio que não né

- olha aqui, eu sei como cuidar dos meus filhos e isso foi irresponsabilidade do pai dele , não minha

Arielly: e o que ele faz com o dinheiro que ele ganha? o que a senhora faz? poderia colocar ele numa creche , o que acha disto? iriam cuidar dele e a menina não precisa, ela sabe muito bem o que deve consumir e ela sozinha, trouxe a criança da comunidade para o hospital, então eu peço de coração, tome mais cuidado com seus filhos, ele é apenas uma criança, tem muito a viver ainda

ela ficou me olhando e passou por mim, indo até a criança, ia sair da sala e me bati com um homem com o olhar preocupado, aparentando ser o pai da criança.

Arielly: se o senhor for o pai, peço que não deixe essas coisas que vende largadas em casa , ele quase morreu por descuido seu, então, repense e lembre que tem crianças em casa, e quando ele acordar, acione o botão para chamar as enfermeiras, iremos fazer mais exames nele

ele ficou calado e eu passei por ele, voltei pra sala onde a Fabi estava e ela tava tomando seu café, o dia foi bem mais corrido do que imaginei e difícil.

Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora