Capítulo Dois

416 71 36
                                    

— Perdoe-me, papai - o Saengtham mais novo suplicava pela misericórdia do mais velho que o batia violentamente. Não sabia a quanto tempo estava num quarto mofado sofrendo nas mãos de seu pai, mas Pete ainda tentava se negar a si mesmo que era o certo a se fazer.

— Suma da minha frente! - o mais velho berrou e deixou um último ferimento no rosto do filho - estou farto das suas gracinhas!

Pete desmoronou no chão enquanto escutava os passos pesados e agressivos de seu pai se afastar, batendo a porta brutalmente — Pete desmoronou no chão e agarrou seus joelhos, se encolhendo ao máximo que podia enquanto chorava baixinho.

Seu corpo inteiro doía assim como sua mente, ele estava profundamente machucado. Tão machucado que seria praticamente impossível curar as feridas abertas em sua cabeça.

De longe, o pequeno podia escutar a voz rude e alta de seu pai insultando sua amada mãe. A mulher escutava tudo de cabeça baixa e calada, não queria sentir na pele a fúria de seu marido como da última vez.

Malee é uma mulher adorável, mesmo sofrendo nas mãos de seu esposo, seguia com um sorriso no rosto, encantando todos onde passava — a mulher amava seus filhos e fazia tudo ao seu alcance para o bem estar deles, mas percebeu que falhou miseravelmente ao ver seu primogênito ser expulso da família a pancadas e fortes insultos enquanto seu caçula sofria diariamente com as ações rudes de Daw.

Com muita dificuldade, Saengtham se levantou e andou a passos lentos até seu pequeno quarto no andar superior, sem levantar seu olhar para encarar o rosto irritado de papai e a tristeza de mamãe.

Assim que pisou os pés dentro do pequeno cômodo, se deitou na cama e libertou suas lágrimas presas. A dor que sentia era insuportável. Pete realmente não entendia o que tinha feito de errado para receber castigos tão cruéis, mas sua mente ingênua e amável o convencia de que ele estava se tornando um garoto mundano e que seu papai apenas fazia aquilo para o trazer de volta para o caminho de Deus.

Limpando suas lágrimas, Pete tirou toda sua roupa respingada de sangue e foi para o banheiro de seu quarto, entrando debaixo do chuveiro logo em seguida — tomou um banho consideravelmente rápido, para não desperdiçar tanta água e irritar papai mais ainda, já que o maior controlava todos os gastos da casa. Se secou calmamente e voltou para o cômodo maior, vestindo uma bermuda azul bebê assim como seu suéter.

Voltou a se deitar na pequena cama de solteiro e suspirou tristemente, tentando procurar algo para se distrair — a família Saengtham não tinha o luxo de adquirir aparelhos tecnológicos como celular, TV, computador, etc, Daw proibiu aquelas coisas pecaminosas em sua residência pois ia tudo contra os ensinamentos de Deus e seus princípios.

Decidiu pegar seu pequeno kit de crochê que ficava escondido debaixo de sua cama e fazer algumas pequenas peças para o distrair daquele momento conturbado — Pete ganhou aquele pequeno kit de Porsche. No início, o menor ficou assustado pois aquilo era algo que as mulheres faziam, e bom, Pete era um homem, mas Porsche conseguiu o convencer de que aquele discurso era pura bobagem e que uma linha e uma agulha sem ponta não iria ditar gênero e muito menos sexualidade.

Saengtham aprendeu crochetar sozinho, sem ajuda de ninguém, ele não queria simplesmente perguntar a sua família pois sabia que iria desagradar seu papai — Pete fazia tapes, bolsas, peças de roupas e acessórios agradáveis aos olhos alheios, aquilo era sua válvula de escape para o mundo real.

Escutou passos leves no corredor e rapidamente guardou seus trabalhos de maneira escondida debaixo da cama. Se ajoelhou na cama e apertou suas mãos nervosamente após a maçaneta girar na porta.

— Querido, Porsche está te esperando lá na sala - mamãe murmurou de maneira doce e reconfortante, olhando para Pete como se pedisse profundas desculpas.

Hot || VegasPete Onde histórias criam vida. Descubra agora