Poeira de Estrela

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Quem nunca imaginou o que há depois do céu?

Voando de avião pela primeira vez, perguntei:

"Cadê papai do céu?" Sem respostas, me calei.

Foi o primeiro grande golpe contra o véu

Da minha fé e um aceno ao ceticismo.


Já nasci na era da poluição luminosa,

A atmosfera opressiva da cidade perigosa,

Sem contato com parentes do interior,

Vivendo a falsa liberdade.

Apenas posso imaginar as estrelas distantes

que nunca serão atingidas pela humanidade.

O que os olhos não veem

O pobre lápis simula.

Cálculos da gravitação

Obrigado ele estuda.


Me permito ignorar a física, essa cínica.

Chega de gravidade zero e força centrípeta!

Fecho os olhos e sinto, debaixo do meu teto

O que seria viver o espaço cheio de criações

Em minhas tão desejadas solidões.


Primeiro, veria a vizinhança do panteão romano interno.

Mercúrio, o caçula, é um aventureiro que desafia o Sol.

Vênus, estrela d'alva, que bem verdade mais parece um inferno.

Marte, guerreiro, perdeu toda sua água, que dó!

Júpiter é mais estrela que Vênus, mas ainda falhou,

Por isso uma tempestade sangrenta no gigante não tardou.

Já Saturno, outro gigante, fica distante da mitologia.

Joalheiro de belas cores, mostrou à Terra sua pequenez,

Voyager como uma cúmplice para nos forçar a ter sensatez.

Os esquecidos que ficam num limbo, Urano e Netuno

Sem calor nem comemorações de ano novo vivem soturnos.

E Fora o cinturão de asteroides trilionários,

Como não mencionar Plutão, que como planeta morreu

E vive em eterno inverno! Ora, ninguém aguentaria esse cenário.


Então, visitaria Andrômeda,

Onde muitos de meus amigos moram.

Mas também, com o trânsito da cidade

Não seria novidade se fosse verdade!

Visitaria planetas onde chove diamante,

E J1407-b, o primo distante de Saturno,

Com anéis que mais sufocam o gigante

Que qualquer outra coisa, algo um tanto cômico.

São 180 milhões de quilômetros,

Com Luas do tamanho da nossa Terra!

Sem falar nas escalas absurdas do cosmo em tamanho:

Sóis milhões de vezes maiores que o nosso,

Buracos negros traiçoeiros que matam qualquer colosso,

Distâncias inimagináveis para o cérebro de primatas.


Mas mesmo na fantasia, certos lugares são inacessíveis.

Os pilares, berço de estrelas, já não existem mais!

Tampouco vários outros pontinhos do céu monumentais.

O Universo se expande mais rápido que a luz, acelerado,

Então para sempre esses mistérios ficarão velados.


É um pensamento que me alivia,

O de que eu não sou nada.

   [Bem verdade, todos somos nada.

Apenas um minúsculo ponto pálido azul

Nas entranhas da Via Láctea que nos conduz.

De que nada do que acerto ou erro é importante;

Eu e os outros esqueceremos de tudo mais adiante.


Presunçosa, a ciência também já sabe do fim dos tempos.

O Sol vai nos engolir num futuro não tão distante,

Virando uma anã branca, inerte, de humores densos.

Todas as estrelas queimarão seus combustíveis

E desabrocharão em supernovas,

Algumas virando buracos negros amargurados, ermos.

E enfim, em trilhões de anos, de forma nada inédita

Tudo estará morto. Mesmos os buracos negros.

Assim será nossa morte térmica.


Desde o Big Bang até O Fim...

Nada teria tido um sentido?

As conquistas e sentimentos humanos,

Há muito teriam sido esquecidos.

Cada morte, cada término

Todo eclipse, toda elipse.

Cada amizade, cada prêmio,

Tudo o que nós fulanos tocamos.

Viemos de poeira de estrela

E retornamos a ela pela cruel esteira

De um Universo hostil.


Nem o mais existencialista saberia lidar

Com previsões que fazem tudo parecer tão fútil

Mas deve haver uma luz no fim do túnel.

São tantas coincidências críticas

Para surgir a vida e os elementos!

Quem sabe não há algo de natureza mística

Em meio aos céticos fundamentos da física?

No fim das contas, é tudo uma questão de fé.

Minhas Noites de InsôniaOnde histórias criam vida. Descubra agora