Tenho sempre muita dificuldade em acordar.
Primeiro, porque sinto que é doloroso partir de um mundo onde eu sou dona e senhora para um mundo onde eu sou isso apenas aos olhos de duas pessoas.
Segundo, porque herdei o sono de pedra da minha mãe.
Tenho ainda mais dificuldade em acordar bem-disposta quando sou acordada bruscamente. Aliás, acho que todo o mundo é assim, só que uns têm maior capacidade de cobrir esse lado do que outros.
E foi exatamente o que aconteceu.
Mal abri os olhos, senti a respiração quente de outra pessoa. Hálito de menta, boca recém-higienizada. Seus olhos de cor de gergelim esperavam ansiosamente o encontro com os meus, tão perto que não havia espaço para eu sequer tomar um susto à vontade.
— É assim, fui incumbida de despertar a fera. Não que eu quisesse, mas não vou ter momentos como esse tão cedo, portanto nem adianta gastar seu latim comigo.
— Vá ao inferno. Acabei de conseguir adormecer.
— Não me diga! Conte algo que eu queira saber. — Atirei a almofada para a cara dela. Tentei virar para o lado, mas ela impediu — É sério, Lu, você vai se atrasar. Papai ficou um tempão esperando pra ter certeza de que você não quereria a boleia dele. Agora tá a léguas.
— Sury, me deixe dormir. Por favor. Você age como se não soubesse como é meu temperamento quando não consigo dormir.
— Se tudo correr bem, isso não será problema meu pelos próximos meses.
— Cara, vai namorar. Faça algo de útil, mas me deixe descansar.
— Você sabe que não vou sair daqui. — Senti uma tremenda raiva por ela ser tão insistente, mas não podia gritar com ela, principalmente sabendo que ela usava um casaco feito de razão. Resmunguei e xinguei baixo o suficiente para que ela não percebesse, mas alto o suficiente para que ela achasse aquilo a maior cena de comédia.
Fui andando devagarinho para o banheiro. Tomei um banho rapidamente e fui até a sala. Suryana carregava as malas com o maior esforço.
— Você vai mesmo se mudar. — Disse esticando o corpo para puxar a minha mala. O coque aparentemente feito apressadamente se desfez, e ela soltou um suspiro emburrado. Trouxe a mala até mim. Assim que levantou a cabeça, seus longos cachos marrom-escuros e loiros bateram na minha cara como pequenos chicotes. Seus olhos brilhavam mais do que nunca, e exibia um sorriso branco como a neve. Suas maçãs de rosto tavam naturalmente coradas, no seu tamanho avantajado. Linda.
— Tanta amabilidade... por quê?
— Não é porque eu amo você e vou sentir a sua falta. É porque vou desfrutar de algum tempo como a filha única. — Estiquei o braço para encaixar um abraço.
— Mas eu também amo você. Lembre que é apenas um teste, se a residência não funcionar, você vai voltar para o seu quarto.
— Faculdade tá cheia de tarados que têm erva e álcool. Duvido que você arrede o pé.
— Não seja idiota! — Vociferei, matando o ambiente. Ela se encolheu ligeiramente depois do tom que usei.
— Amarra o coque pra mim outra vez? Você sabe algo que eu não sei. — Mudou rapidamente de assunto. Ela já me conhece. Soltei a barreira e suspirei sorrindo. Amarrei o coque do meu jeito especial, deixando ele ligeiramente inclinado para a direita — Obrigada.
— Que horas são?
— Não sei, mas vá embora, não quero que perca o ônibus.
— Tá bom, Julieta mirim. As malas nem estão assim tão pesadas.
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Olho de Âmbar
RomanceQual o efeito de uma promessa quebrada numa pessoa? Para Gabriel, uma promessa quebrada significou a perda de uma estrela. Significou a modificação dos seus laços com todos que o rodeavam, tanto através do afastamento como da aproximação. Para Luan...