XXX - Jantar

7 0 0
                                    

Olhei para Luana, que desviou o seu olhar para mim. Eu estava com uma expressão aflita, à qual ela simplesmente acenou com a cabeça quase imperceptivelmente. Fiquei com os olhos completamente esbugalhados, meu pescoço inclinado para frente. Olhei outra vez para ele, que tinha esticado a mão para que eu apertasse. Fiquei uma eternidade olhando para a mão dele, que recolheu depois de algum tempo.

— Okay, não é muito de aperto de mãos.

— Desculpe. Sou Gabriel, pra... — Parei. Não posso mentir pra ele, criar qualquer tipo de cenário de que nascesse algum tipo de relação — O que faz aqui?

— Venho de Amesterdã a trabalho aqui perto, São Paulo. Aproveitei e passei para ver uma amiga antiga.

— Uma amiga antiga, hein... — Repeti.

— Talvez um pouquinho mais, hahaha. — Tentou forçar algumas risadas, que arrancaram sorrisos de mim — São família, tá vivendo aqui? — Franzi o cenho para que ele percebesse o absurdo da pergunta — Só curiosidade, nada mais.

— A gente precisa entrar, então...

— Calma, cara, eu nem consegui falar com ela, parece que tá me ignorando.

— Eu sei, mas... — Botei o braço em volta dela, que não apresentou resistência nenhuma a qualquer movimento que a forçasse — ... deve ser porque a gente tem um compromisso marcado. — Parei, olhando nos olhos dele. Percebi uma faísca de interesse e algum desagrado emanando do seu rosto.

— Não precisa ficar mandando nela. — Disse se aproximando da gente.

— Ela? Eu tô dizendo a você o que fazer. Ir embora, a gente tem compromisso.

— Você não precisa ir por aí, eu só tô querendo bater um papo com Lu, você não precisa ficar aqui se não quiser.

— Tá. — Cortei, puxando a Luana. Ele pegou o meu braço, impedindo que a gente fosse para dentro. Luana abriu os lábios, mas não disse absolutamente nada.

— Por quê quer tanto que ela entre? Não precisa ficar com medo, tá bom? Ela vai voltar pra você. — Disse em tom condescendente. Suspirei vagarosamente enquanto assimilava o que ele tinha dito, pigarreando de seguida. Dei uma risada baixa e seca, mas controlada o suficiente para que ele entendesse que não tinha dito nada engraçado.

— Acho que você não entendeu direito. — Disse, olhando para as minhas unhas e depois bem nos seus olhos — Provavelmente é a falta de convivência com o português. Vá embora, eu...

— E se eu não for? — Interrompeu.

— Qual é a sua, hein? — Tirei o braço de cima da Luana, pousei o buquê no chão e andei na direção dele com o maxilar já tenso com a raiva que se acumulava dentro de mim — Dê o fora. Agora. — Disse pausadamente e em tom perentório. Ele franziu o cenho e deu um passo rápido na minha direção.

— Ou o quê?! — Disse a meio do impulso que pegou, me empurrando com o peito. Tão logo recuperei o meu equilíbrio, empurrei de volta com tanta força que cambaleou para trás e caiu duro.

— Fique longe da minha garota, cara! — Disse com o coração quase saindo pela boca. Meses de ócio e repentinas injeções de adrenalina não devem ser boas pra ninguém.

— Parem vocês dois! Você, saia daqui! — Mandou Luana apontando para Nickolas. Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso, mas continuou calado. Levantou, sacudiu sua roupa e ficou me encarando por alguns momentos antes de dar as costas e ir embora.

— Palhaço. — Virei na direção de Luana, que encarava fixamente o buquê no chão sem qualquer expressão... até ver uma gota cair do seu rosto. Botei a mão no seu queixo e puxei pra mim, notando o quão úmido estava.

Olho de ÂmbarOnde histórias criam vida. Descubra agora