XVIII - Acordo

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Revirei o bolso procurando pelas minhas chaves. Assim que peguei, passei no sensor. O quarto estava completamente escuro. Liguei o interruptor, e o quarto estava deserto. Simplesmente perfeito. Dessa vez, me certifiquei de que fechava a porta. Botei o celular para carregar e depois de dez minutos de hesitação, liguei para Thays. Ela tinha dito que queria falar comigo, e pode me ajudar com o meu problema.

-- Você não tem relógio não?

— Acho que não. A gente não tem horário uma para a outra, deixa de ser babaca.

-- Vai ter que ter. A meio da música, Lu, mó paia esse seu lance aí.

— Desculpa, desculpa.

-- Como você tá?

— Nossa, precisava falar com você.

-- E... botei no viva-voz. Dá um oi pra sua irmã.

— E aí, Sury?

-- De boa? -- Gritou do fundo. Provavelmente estavam na cozinha.

— De boa. Como você tá?

-- Maravilhosa, papai levou eu e Thays para o cinema.

— Ele tá aí perto? — Perguntei um pouco mais baixo, para o caso de estar e me responder.

-- Não. Tá no trampo lá no escritório dele. Mas tá a Julieta. Ô Julieta! A Lu tá em linha!

-- Oi, Lu! Como vai?

— Eu tô bem, mãe. E você?

-- Ah, filha. Cansada do trabalho, né, mas eu vou bem.

— Pode passar para a Thays?

-- Tá no viva-voz, esqueceu? -- Perguntou a própria Thays.

— Vem cá, preciso contar um negócio pra você.

-- E dessa vez não arredo o pé, tá? Responsável pela janta hoje é a mãe aqui. E você sabe o que vou preparar. --  Avisou Suryana. 

— Arroz com pato tucupi.

-- Lógico. Como podia ser diferente?

— Não tem problema. Thays provavelmente já falou com você.

-- Não. Falou com a mamãe, provavelmente.

— Com a mamãe?!

-- É, carinha. -- Gritou mamãe do fundo -- Não seria tão divertido contar pra mim como vai ser contar para Sury.

— Ai, ai, ai, ai, ai...

-- Conta aí, Lu.

— Então, Sury... e eu tô tentando ser o mais aberta possível. Você sabe que eu tive alguém na minha vida.

-- Não ponha o nome daquele filho da puta nessa conversa. -- Disse com tom ameaçador.

-- Controle sua língua! -- Vociferou mamãe.

-- Pô, mãe, não passe o menor pano pra ele. Todo o mundo aqui sabe o que aconteceu. -- Reclamou Sury.

-- Eu não quero saber, você não vai falar da mãe dos outros desse jeito, principalmente por uma coisa que foi o filho que fez. -- Replicou mamãe.

-- Gente, a Luana tava falando! Continua, Lu. -- Gritou a Thays.

-- Vai, Lu, você teve um carinha. E...?

— Então, esse carinha passou. Com ele passou o tempo, seguiu a vida... e eu tô gostando de um outro cara. — Gerou um silêncio geral. Ninguém dizendo nada, ela parou até de raspar o que quer que estivesse raspando.

Olho de ÂmbarOnde histórias criam vida. Descubra agora