Final

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— Gabriel, tem que vir agora. Eles estão entrando. — Disse Bruno, me despertando por um pouco daquele transe.

Deixei o celular bloqueado na pasta e entrei em campo. Parecia relativamente cheio, mas eu não conseguia ouvir nada. Andava, mas já de forma automática. Não conseguia nem pensar direito. A gente foi, trocou aperto de mãos com os outros caras e nos posicionamos em campo. Normalmente, quando penso na bola, largo as coisas de fora e isso é tudo que me ocupa. Não estava acontecendo. Cadete estava do outro lado, gritando alguma coisa e batendo palmas, mas eu não conseguia ouvir nada. O árbitro apitou para o início do jogo, mas o jogo não começou. Ouvi algum burburinho por parte dos companheiros, cochichando alguma coisa sobre PM.

— Gabriel! — Chamou o mister. Estava todo o mundo apontando para ele, para que eu fosse para lá porque ele estava chamando faz algum tempo. Fui ter com ele correndo — Como você tá, rapaz?

— Senhor? Ah, eu... tô bem. — Disse, ainda com milhões de coisas acontecendo na cabeça.

— É que tem aqui esses oficiais com uma denúncia de posse ilegal de droga. — Foi um tapa de atenção para mim. Denúncia de quê?!

— Minha? Quer dizer, denúncia em nome de quem?

— Gabriel Ater. — Disse um dos homens com boina e farda esverdeada. Alguém no megafone informou que a partida estava suspensa por atividade de investigação criminal — Sou o oficial Almeida, pertencente a Delegacia Federal do Rio de Janeiro. — Exibiu o distintivo.

— Mas qual a acusação?

— Posse de quantidades ilegais de cocaína, associadas com outros medicamentos. — Completamente absurdo.

— Ilógico. — Rebati.

— Onde estão seus pertences que não estavam nos cacifos?

— Com minha namorada, que tá na bancada.

— Preciso que você fique aqui, vamos nós falar com ela. Seus pais?

— Estão com ela. Luana Roberto, Sara Alves e Christian Ater. — Ele próprio sacou o megafone e pediu que todo o mundo se mantivesse nos seus lugares, em especial Lu e meus pais. Avisou que passariam cerca de vinte agentes caninos, farejando tudo. Ele continuou perto de mim e se aproximando.

— Posso saber quem fez essa denúncia? — Perguntei.

— Denúncia anónima, lamento. — Esperámos em silêncio enquanto decorriam as buscas. Os cães finalmente começaram a latir com alguma intensidade. Não conseguia ver onde, mas latiam. Um sinal de interferência soou do walkie-talkie do oficial comigo. "Identidade confirmada: Luana Roberto possui a mochila com o negócio! Bravo." — Sr. Ater, ponha as mãos atrás da cabeça e se ajoelhe, imediatamente! — Gritou o oficial.

Olhei para ele e tinha a sua arma apontada na minha direção. Meu coração disparou, fiz exatamente como ele pediu. Minhas pernas estavam fracas na flexão, batendo duramente contra o chão, mas ignorei a dor. Alguém estava apontando uma M4 Carabina para mim. Passaram em fila meus pais e Lu. Parecia que o tempo tinha parado, e aquilo era uma fotografia que eu nunca esqueceria: mamãe parecia séria, confusa; meu pai parecia atônito, igualmente confuso. Mas Lu parecia arrasada, seu olhar pesava sobre mim. Lembrei do dia em que a gente se viu na balada, exatamente como este. O mundo tinha desaparecido, e seus olhos eram tudo que eu queria ver.

O oficial me imobilizou no chão, joelhos sobre a minha cabeça e revistou o meu corpo. Inutilmente, pois um equipamento desportivo não possui bolsos. Levou as minhas mãos para as minhas costas e algemou. A sensação dos pulsos sendo apertados foi angustiante, mas não gritei. Ele me puxou para cima pelo braço e caminhámos em direção à saída principal. Pelo caminho, encontrei Viviane.

Olho de ÂmbarOnde histórias criam vida. Descubra agora