XXXVII - Curiosidade

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Gabriel

Não conseguia formular frases claramente. Não conseguia pensar claramente. Eu precisava de... respirar. Saí voando do prédio. Vi Nickolas e Vitória sentados juntos, provavelmente conversando sobre o que tinha acontecido. Se levantaram quando viram que eu simplesmente segui o meu caminho, e não fui falar com eles. Queria ter parado, socado a cara desse mané sem parar até perder a consciência por hipoxia, pedir que ele deixasse de ser um tremendo puxa-saco. Mas não podia. Eu só queria respirar um pouco. Fui até a entrada e senti meu celular vibrando. Simplesmente atendi, sem querer saber quem era.

— Alô?

-- Vocês estão atrasados. Eu não posso brincar com o horário das pessoas, elas têm os seus compromissos. -- Era o Sr. Christian.

— Desculpe, senhor. Devia ter avisado mais cedo, a gente não vai mais.

-- Baralha minha agenda por completo. Qual é o motivo?

— Uma discussão que a gente teve. Se quiser, pago até sua marcação, peço desculpas pessoalmente.

-- Não é assim que as coisas se resolvem. -- Ele quer discutir. Minha disposição arriou, como se fosse um depósito de animação se esvaindo em um instante.

— Tá legal. Eu resolvo do jeito certo depois. Com licença. — Pedi.

-- Espere! -- Exatamente no instante em que cliquei no botão para desligar -- Eu... preciso retratar meu discurso. Onde você está?

— Não importa. Estou indo para casa de qualquer forma.

-- Aguarde cinco minutos.

— Você não precisa de... — Desligou. Estava meio curioso para saber se ele vinha ter comigo mesmo ou não, até lembrar, minutos depois, que eu não tinha dito onde estava. Levantei, rindo da própria idiotice. Comecei a andar em direção ao sítio que tinha marcado de encontrar com ele.

— Pensei que fosse mais paciente! — Gritou justamente ele de dentro do seu Hyundai i20, encostando o carro no estacionamento da rua.

— Como... hã?

— Entre, por favor. — Hesitei primeiro, mas acabei por abrir a porta. Arrancou imediatamente depois de eu me sentar.

— Eu não disse em nenhum momento onde você estava.

— Você disse que discutiu com Luana.

— E?

— Você disse que desistiu de ir para lá, e duvido que tenha deixado ela sozinha na rua. — Embora não goste de admitir, ele é bem inteligente.

— Certo. Para onde a gente tá indo?

— Sítio nenhum. — Dobrou uma esquina e estacionou o carro na berma da estrada. Desligou o motor, mas a bateria funcionava ainda. Encarava fixamente o volante, depois virou para mim — Fale.

— Falar o quê?

— Você discutiu com Luana. Fale sobre como se sente.

— Isso é algum interrogatório? — Perguntei, sentindo a cabeça esquentar já.

— Você ainda consegue ser pior que Sara.

— De qualquer jeito, preferia não falar sobre isso.

— Isso não faz sentido.

— Como assim? Eu posso escolher ou não desabafar com você.

— É muito mais eficaz tratar de um problema falando sobre ele do que guardando para si próprio.

Olho de ÂmbarOnde histórias criam vida. Descubra agora