XXVIII - Bate-papo

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Outra vez, acordei sozinho e completamente acomodado. Sentei na cama com os pés para fora, e senti o material duro de sapatos na planta dos pés. Olhei para conferir, e realmente eram os tênis dela. Ainda estava aqui.

O odor que exalava estava me incomodando que não me importei mais com o esforço que faria para poder tomar banho, simplesmente levantei e fui para o banheiro seguir aquele protocolo de manobras fatídicas. Assim que acabei, botei as minhas roupas suadas de ontem no cesto de roupa suja e vesti algo fresco, para que não sobrasse nenhum vestígio do odor.

Saí do quarto e desci as escadas vagarosamente, evitando ao máximo fazer o contacto entre as muletas e o chão ruidoso para surpreender Luana. Estranhamente, a porta da frente estava aberta. Meu coração começou a palpitar mais rápido com as teorias de invasão cada vez mais razoáveis na minha cabeça. Olhei em volta, procurando coisas fora do lugar, mas não consegui reparar em nada. Na cozinha, Luana estava de costas para a porta, procurando alguma coisa em um armário muito alto. Deve ter sido ela. Fechei a porta o mais silenciosamente possível e, tal como ela tinha feito ontem, me aproximei o suficiente para abraçar pelas costas, baixando um pouco para beijar a sua face e seu pescoço três vezes.

— Você tem um sono muito... interessante. É a palavra certa. — Comentou.

— É pesado.

— Não é isso. Você fala. — Me aproximei mais do seu ouvido.

— O quê?

— Não vou vender a minha vantagem hoje, ela será muito útil contra você.

— Eu não teria tanta certeza, Eleanor.

— Nem eu. Tini. — Esbugalhei meus olhos. Então eu falo dormindo, não tem como ela saber disso.

— Por favor, não. — Pedi. Ela se virou pra mim e ajeitou a gola da minha camiseta.

— Tão bom ter as coisas sob controle. — Se aproximou da minha cara e me beijou rapidamente, voltando a fazer o que quer que estivesse fazendo antes — Imagino que você tenha fome.

— Na verdade, não. Fiquei com o negócio que a gente conversou ontem apitando na cabeça...

— Durante a noite toda? — Perguntou a partir do fogão.

— Mais ou menos.

— Por quê não pergunta pra ela?

— Perguntar o quê? — Perguntou mamãe do nada, como se tivesse brotado do corredor. Com o susto, girei o corpo tão rápido que escorreguei e caí de costas — Cuidado, Gabriel! Você tá bem?

— A senhora quer me matar de susto?

— Não. Não me ouviu abrindo a porta? — Olhei para Luana, que não tinha arredado o pé de perto do fogão, e para mamãe, que tinha um semblante meio preocupado, mas que carregava um sorriso — Não costuma estar acordado tão cedo, você costuma dormir mais.

— Bem, não hoje. — Respondi. Ela ergueu uma das sobrancelhas, inclinando ligeiramente o rosto para frente e pigarreando ligeiramente em seguida. Luana, que afinal estava bebendo água, engasgou no mesmo instante. Mamãe atravessou a cozinha e foi dar alguns tapinhas nas suas costas. Foi aí que reparei que ela estava usando minhas roupas. Isso e dormir menos... — Não, mamãe. Não.

— Você podia ser mais discreto, pelo menos. — Disse entre risadas — Vou subir, preciso de tomar um bom banho. Luana, conto com você para o almoço, certo? A gente precisa meter a conversa em dia.

— Adorava, mas preciso me encontrar com alguém daqui a pouco, só não queria sair sem... preparar um café rápido para o Gabi.

— Não consegue mesmo almoçar aqui?

Olho de ÂmbarOnde histórias criam vida. Descubra agora