II

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Orlando reuniu a família e explicou a situação.

Ou o casamento de uma das filhas ou a prisão.   E ressalvou que Elisa também seria presa pois casaram com comunhão total de bens, logo, ela também seria responsável pela dívida.

- Prisão,  nunca.   Eu não  tenho nada a ver com as tuas falcatruas.

- Esqueceste as quantias exorbitantes que me exigias?  Também és responsável junto com a Sara.

- Eu não vou casar com um velho mal cheiroso como aquele.  Não tenho nada a ver com isso.  Nem sou tua filha.  Entrega essa daí.

- Não fui eu que levei papai à falência.  Vocês sempre foram umas golpistas.  Eu avisei, pai.  Estavas cego.  E agora?

- Tens que me ajudar,  Juliette.

- Como?  Casando com aquele homem?  Não.   Não  quero.

- Estou perdido.

Juliette saiu e foi para a faculdade.

Orlando mandou a mulher e a enteada sair do escritório e ficou sózinho.

Segundos depois Elisa ouviu o barulho de qualquer coisa a partir e voltou atrás.   Orlando estava caído.  No chão uma garrafa quebrada.   Havia sangue e Orlando sangrava das mãos.   Tinha cortado os pulsos e já estava desmaiado.

Sara ligou imediatamente para a urgência que não levou muito tempo a chegar.

Juliette acabava de chegar à faculdade quando recebeu a notícia de que o pai estava a caminho do hospital.

Saiu a correr e chamou um uber.  Em poucos minutos já corria pelo corredor do hospital à procura do pai.

Encontrou Elisa que barafustava pois dizia ter compromissos.  Sara nem se dignou a sair de casa.
Assim que viu Juliette tratou logo de ir embora.

- Não  adianta ficarmos as duas.  Fica tu.  Eu tenho mais que fazer.

Juliette permaneceu na sala de espera por notícias que não vinham.
Sem conseguir conter as lágrimas, chorava sem se importar de quem estava à volta.

Um senhor que aparentava ter perto de 55 anos veio sentar-se ao seu lado.

- Não chores filha.  Morreu alguém?

- Não,  mas o meu pai...

- Se não morreu, há que ter fé.  O que tem ele?

- Tentou suicidar-se.  Não sei bem.

- Tem esperança.  Tudo se há-de resolver.

- E o senhor, está aqui porquê?

- Vim ver o meu filho.  É médico e insiste para que eu venha cá todos os meses.

- Queres ir tomar um café?  Conversar ajuda.

- Não quero sair daqui.  Podem trazer notícias do meu pai.

- E depois aceitas tomar um café comigo?  Se a minha filha tivesse sobrevivido teria a tua idade.

- Aceito.  Eu tenho 21 anos.

- Acompanhante do senhor Orlando Soares?

- Sou eu.

- Vai lá filha.   Eu espero aqui para o café.

Juliette seguiu a enfermeira até ao quarto onde o pai já se encontrava.

- Paizinho!  O que foste fazer?

- Não tenho outra saída, filha.  Ou a prisão ou a morte e eu não quero viver na prisão.

- E eu pai?  Como é que fico?

- Sem mim, estás melhor.

- Não digas isso.  Olha, pai.  Eu caso com o Álvaro.   Por ti eu faço isso,  mas também tenho condições.   Divorcias-te da Elisa.  Nem para estar aqui ela presta.  Tinha assuntos a tratar.   Aposto que está em algum salão de beleza a torrar o pouco dinheiro que tem.

- Eu aceito.  Perdoa-me filha.   Tu não mereces isto.

- Não se fala mais nisto.  Dá-me o contacto do Álvaro e tudo o que lhe deves.

- Está no escritório sob a secretária.   E a hipoteca da casa também.

- Eu vou resolver.  Trata de ficar  bem.

Enquanto esperava que ela fosse ver o pai liguei ao meu filho e dizer que tive um imprevisto.   Voltaria no dia seguinte.

Juliette saiu da visita e continuava a chorar.  Não chorou em frente ao pai, mas assim que saiu não conteve as lágrimas.   Triste sorte a minha,  pensou.

Chegou à sala de espera e o senhor  ainda lá estava.

- Já foi atendido?

- Não.   O meu filho está no meio de uma cirurgia.  Volto amanhã.  Vamos?

Fomos até uma pastelaria onde pedimos um café e um bolo de chocolate para cada um.

- O meu filho proibiu-me os doces, mas bolinho de chocolate eu não dispenso.

- Também é o meu preferido. 
O meu nome é Juliette Soares.

- O meu é Bernardo Ochoa.  Trabalho na banca.  Sou viúvo e vivo com o meu filho que quase nunca vejo.  Ele trabalha muito e quando não está a trabalhar está a dormir.

- Eu estudo enfermagem, mas talvez tenha que trancar a faculdade.

- Porquê Juliette? O estudo é essencial.

Contei ao pormenor tudo o que aconteceu com a minha família sem omitir nada.  Algo me dizia que podia confiar nele.

- Tu és filha do Soares da aeronáutica?

- Sim.  Conhece o meu pai?

- Conheço bem.  Era um dos bons clientes do banco.  Sei um pouco da dia trajectória.   Não  conhecia essa parte das dívidas de jogo.

- É.  E agora eu preciso casar com esse Álvaro para o livrar da cadeia.

- Já ouvi falar desse agiota.  Pelo visto não é só agiota, também tem falta de escrúpulos para impor essa condição.

- Tu sabes onde eram as casas em que o teu pai jogava?

- Não,  mas ele diz que está tudo anotado lá no escritório.

- Queres que eu veja?  Pode haver uma solução.   Eu sou banqueiro e também advogado, estou à vontade com esses assuntos.

- Eu faço qualquer coisa para ajudar o meu pai e se puder livrar-me desse casamento,  melhor.

- Então vamos lá analisar esses papeis.

Saíram da pastelaria e seguiram para casa de Juliette.

Elisa e Sara ficaram surpreendidas por verem Juliette chegar com um homem mais velho.

Apesar da idade, Bernardo tinha uma aparência muito bem cuidada e vestia elegantemente.

Ele cumprimentou-as cordialmente e seguiu atrás de Juliette que após entrarem no escritório fechou a porta à chave.

Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora