IX

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Levei Juliette a casa e recomendei que descansasse bastante.  O semblante dela estava mesmo a pedir um banho e uma cama.

- Juliette,  andas a comer bem?

- Nem por isso.  Não tenho tido muito apetite.

- E tens tido acompanhamento médico?  Vitaminas?

- Nada.  Tenho andado um pouco cansada por conta das aulas e da empresa do meu pai.

- E ainda queres passar horas ao pé do meu pai.  Amanhã vou pedir a um colega que te consulte.  Parece-me que há por aí uma falta de vitaminas.

- Em tempos tive uma grande anemia, mas superei.

- Amanhã quando fores ver o meu pai passa primeiro no meu gabinete.
Eu tenho uma cirurgia marcada.  Se não estiver deixo indicações para ires falar com a minha colega.
Agora vai e descansa.

Até amanhã.

- Até amanhã,  Rodolffo.

Juliette entrou em casa, deu um beijo ao pai, trocaram algumas impressões e foi tomar banho.  De seguida comeu uma sopa e foi direita para a cama.

No dia seguinte fez o que Rodolffo pediu.  Foi ter com ele e ele acompanhou-a ao gabinete da médica Luísa.

Juliette foi consultada,  conversou durante muito tempo com a médica e depois de recolher sangue para análise liberou-a.  Quando os resultados chegassem ela contactava.

Saiu da consulta e foi para o quarto de Bernardo que estava zangado.

- Estou farto de hospital.  Já me indispus com Rodolffo.   O que faço aqui, faço em casa.

- Não é bem igual.  Em casa cometemos vários erros.  Deixe estar que o Rodolffo só quer o seu bem.

- Eu sei, mas estou farto de estar fechado aqui.

- Será que podemos ir ao jardim do hospital?

- Não sei.  Vou perguntar ao meu filho.

Ele fez a ligação e ele não atendeu.

- Ele tinha uma cirurgia.  Ainda não deve ter terminado.
Vou procurar uma enfermeira.

Juliette saiu do quarto e regressou pouco depois.

- Pronto.  Temos autorização para sair um pouco.  Meia hora no máximo.

- Ai filha!  Se não fosses tu.

Juliette ajudou-o a levantar-se, foi buscar o roupão e vestiu-lho.

Caminharam um pouco pelo jardim e depois sentaram-se num banco à conversa.

- Como está o teu pai?

- Está bem.  Já conseguiu o divórcio.   Está finalmente livre daquelas cobras.  Está a levar a empresa nas calmas.

- E os teus estudos?  Eu não quero que te prejudiques por minha causa.

- Não vou, garanto.

- E tu e o Rodolffo?  Já superaram as diferenças?

- Estamos a dar-nos bem.  Eu entendi que ele só o queria proteger.

- Mas não precisava de ser tão grosso.  Não foi assim que eu o eduquei.

- Todos temos dias menos bons.  Devia estar stressado com alguma coisa.

- Eu gosto que se dêem bem.  Que sejam amigos ou quem sabe algo mais.

- Somos amigos sim.
Juliette resolveu ignorar o resto da frase. 

Rodolffo tinha dez anos a mais que ela e isso na cabeça dela já era um entrave para algo mais.
Depois, ele era já um cirurgião renovado e ela uma simples aspirante a enfermeira.

- Juliette,  eu soube que o Álvaro e o chefe dele foram mortos na prisão.
Parece que o caso do teu pai não era único.  Havia na mesma cadeia alguns que não cederam às chantagens, mas também não pagaram as dívidas.  Não têem a certeza mas cuidam que foram esses os autores da morte.
Apareceram enforcados nas celas.

, Não se perdeu nada.  Seres como esses não fazem falta à sociedade.
Desculpe doutor,  mas é a minha opinião.

- São vidas, mas tens razão,  não fazem falta.

- Vamos subir?  Não vale abusar no primeiro dia.

Pegaram o elevador e já no corredor encontraram Rodolffo.

- Onde os dois pensam que vão?

- Fomos um bocadinho ao jardim.   A enfermeira autorizou.

Bernardo deitou-se e Rodolffo foi medir-lhe  a tensão e controlar os batimentos cardíacos.

- Está tudo bem.  Se continuar assim vai para casa sábado.  E tu Juliette?  Como foi a consulta?

- Foi bem.  Agora a doutora diz que me chama quando vierem os resultados das análises.

- Estás doente Juliette?

- É o que vamos ver pai, mas eu acho que deve andar ali muito cansaço e alimentação deficiente.

- Eu estou bem.  Só tenho um pouco de falta de apetite.

- Cuida-te filha.

Rodolffo já não tinha mais que fazer no hospital,  mas ficou por ali à conversa com Juliette e o pai antes de resolver regressar a casa.

Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora