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Passaram os dias.  Bernardo regressou a casa e todos os dias Juliette arranjava um tempinho para passar lá a ver como estava.

A Rodolffo nunca mais viu embora tivessem conversado algumas vezes ao telefone.

Hoje ele estava em casa com o resultado dos exames dela.  Tinha acabado de regressar do hospital e conversava com seu pai quando ela chegou.

Juliette deu boa tarde e cumprimentou Bernardo com um beijo na face, como era habitual.

- Eu não ganho beijo?

- Deixa de ser inxerido, respondeu ela.

Como estavam no quarto de Bernardo, Rodolffo pediu para ela o acompanhar até à varanda.

- Tenho o resultado dos teus exames.

- E que tal?  Já posso encomendar o funeral?

- Não brinques.  A saúde é um assunto sério.

- Desculpa,  mas tem alguma coisa má?

- Anemia de certeza.  Mas vou pedir outros exames.  Não sentes nada de anormal?

- Só cansaço.

- Vou receitar-te ferro e um suplemento de vitaminas.   Depois dos próximos exames, em face do que aparecer, vemos que terapêutica usar.

A empregada veio perguntar se desejavam café.

- Pode ser, Maria.  Vê se o meu pai quer alguma coisa.

- Já fui lá.  Adormeceu.  Já trago os cafés.

- Tive saudades tuas, Juliette.

- Eu venho aqui todos os dias.  Tu nunca estás?

- É. Não tem sido possível, mas habituei- me a ver-te todos os dias e agora sinto falta das nossas conversas.

- Mas estamos aqui hoje.  Vamos por a conversa em dia.

- Gostava de sair contigo, sei lá, jantar ou dar um rolê por aí.

- Tenho muitas provas agora.  Preciso muito de estudar e tenho tido dificuldade em me concentrar.

- Porquê?  Preocupa-te alguma coisa?

- Não.  Nada específico.  Alguns pensamentos.

Rodolffo segurou nas mãos dela e trouxe-as para junto do peito.

- Tenho pensado muito em ti.

- Eu também.

Rodolffo afagou-lhe o rosto e ela baixou os olhos.
Depois segurou-lhe o queixo e beijou-a levemente.

Ela imediatamente se afastou dele.

- Não podemos.

- Porquê?  Somos os dois solteiros e livres.

- Olha a nossa diferença de idade.  Não quero desapontar o teu pai.

- O meu pai?  O sonho dele é ver-me arrumado, como ele diz.   E ele adora-te.

- Ele vê-me como uma filha, não como companheira do filho.

- Podemos perguntar-lhe.

- Não,  pelo amor de Deus.   Que vergonha.

- Então,  quando aceitas jantar comigo?

- Deixa para outro dia. Na próxima vez que não tiveres plantão à noite.

Ficaram a conversar por mais de duas horas.
De vez em quando Rodolffo fazia um carinho nela, mas sentia que ela estava um pouco tensa.

- O que foi Ju?  Estás tão tensa porquê?

- Não me sinto à vontade quando me fazes carinhos.

- Porquê?  É tão bom receber carinhos.  Não gostas?

- Há muitos anos que ninguém me fazia um carinho nem que fosse no rosto.  Desde que a minha mãe morreu.

- Eu gosto do toque, por isso não estranhes se eu estiver sempre a tocar, mas se te sentires mal, diz que eu paro.

Rodolffo puxou-a para si e encostou-a ao peito fazendo carinhos no cabelo.  Aos poucos ela foi relaxando.

Maria trouxe um chá e uns biscoitos e sorriu ao ver os dois com uma certa intimidade.

Foi em direcção ao quarto de Bernardo com um tabuleiro com o lanche dele.

- Doutor, é possível que em breve as coisas mudem para o Dr. Rodolffo.

- Porquê Maria?

- Está lá de chameguinho com a menina Juliette.

- Que os anjos te ouçam, Maria.  Eu adoro essa menina e não quero morrer sem ver o meu filho casado e uma criança a correr nesta casa.

Já eram horas de Juliette regressar.   Foi despedir-se de Bernardo prometendo voltar no dia seguinte.

- Pai, vou levar a Juliette.  Já volto.

- Vai filho.   Não tenhas pressa em regressar.

Rodolffo e Juliette saíram em direcção à casa dela mas primeiro passaram na farmácia onde ela comprou os medicamentos que ele prescreveu.

- Toma tudo certinho e tenta alimentar-te bem.

- Está bem, sr. Doutor.

- Não brinques Ju!  Saúde é assunto sério.

- Já vou.  Obrigada por tudo.

- Ganho um beijinho?

Juliette ia beijar a face dele, mas ele virou a cara para o lado dela e os lábios encontraram-se. Rodolffo segurou na nuca dela e aprofundou o beijo.   Ela não resistiu acariciou-lhe a barba.

Por fim ficaram de testas unidas durante algum tempo.  Trocaram um abraço, ela saiu do carro e entrou em casa e só depois ele partiu.

Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora