XII

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Juliette chegou como combinado.  Conversou durante um bom tempo com Bernardo pondo-o a par do seu progresso na faculdade.

As provas eram bem difíceis,  mas Juliette era aplicada e os livros de Rodolffo que ela pegou, ajudaram imenso.

- Vais ficar mesmo pela enfermagem Ju?

- Ainda não sei.  Mas eu quero ter uma profissão e exercer.  Talvez depois me decida a cursar medicina.  Vamos ver onde a vida nos leva.

- Tu e Rodolffo estão zangados, não estão?

- Zangados não.  Um pouco afastados. Não quero atrapalhar a vida dele.

- Atrapalhar como?

- Eu vi ele no hospital com uma moça.  Deve ser a namorada.

- Não sei de nada.  Ele não comentou nada comigo.
E o teu pai, como vai.

- Ai Dr. Bernardo!  Não sei mais o que fazer.  Anda enrabixado com a secretária.  Espero que não cometa o mesmo erro da última mulher.

- Mas pelo que sei, ela já tem alguma idade?

- Sim.  Até me parece ser uma boa senhora.  É divorciada.  Tem cerca de 50 anos.

- Deixa ele viver.  A vida é curta.

- É.  Felizmente agora eu tenho a parte financeira da empresa sob control.  Não vou deixar que nenhuma interesseira se aproveite dele.

Rodolffo entrou naquele preciso momento, mas seguiu directo para o quarto.

Bernardo que não era tolo nem nada pediu a Juliette para aguardar um pouco e foi ter com ele ao quarto.

Bateu à porta e entrou sem esperar o convite.

- Desde quando te tornaste sem educação?  Podias ter ido cumprimentar a minha visita.

- Não quis interromper a vossa conversa.

- Rodolffo,  responde com sinceridade.   Tens alguma namorada que eu não saiba?

- Não tenho ninguém,  porquê?

- A Ju diz que te viu com uma moça no hospital.

- Tal como eu a vi com alguém na faculdade.

- Ishiiii! Juntou-se a fome com a vontade de comer.  Não eram já amigos?  Amigos também têm ciúmes ou não era só amizade?

- Ai pai.  É complicado.

- Só porque vós quereis.  Vai lá conversar com ela e resolver isso.  Não quero esse clima entre os dois.

Rodolffo saiu do quarto juntamente com Bernardo.

- Ju, preciso de sair com a Maria.  Surgiu um assunto urgente para tratar.  Fiquem aí os dois a fazer companhia um ao outro.

Rodolffo sentou-se junto a Juliette que olhava o telemóvel.

-  Como vais?

- Muito bem.  Está na minha hora.  Preciso ir.

- Não.   Vamos conversar.  Não gosto deste ambiente entre nós.

- O que queres conversar?  Há pouco a dizer.

- Foste tu que disseste ao meu pai que eu tinha alguém?

- Sim.  Disse a verdade.

- A tua verdade.  Eu não tenho ninguém.

- Eu vi-te lá no hospital.   Pareciam bem íntimos.

- Devias ter esperado para ver tudo.  Não aconteceu nada.  Foi só uma conversa.

- Ah sim.  Agora quando eu quero conversar com alguém sento-me no colo dele e ponho os braços ao redor do pescoço.

- E não passou disso.  Logo depois eu afastei-a.

- Também não interessa.  Não sou dona da tua vida.

- E foi por isso que logo depois parecias tão seca ao telefone.   E quando te fui buscar à faculdade e me ignoraste para vires de conversinha com o outro, sei lá quem.

- Pensei que tinhas ido buscar ela.

- Pensaste!  Sabes quem ela é?
Como pensaste que ela era estudante?

- Não interessa.  Fazes da tua vida o que quiseres.

- É só isso que tens a dizer?

- É.  Que mais querias que dissesse?

- Que me amas, como eu te amo, que tiveste ciúmes como eu tive.

- Não posso dizer só porque é o que querias ouvir.  Não estou certa do que sinto.

- Isso não é verdade.  Eu sei que me amas.

- Talvez,  mas neste momento não quero entrar numa relação que me deixa dúvidas.
Não por ti, mas por mim.

- Gostas do outro.  Aquele que te trouxe no outro dia?

- O Vítor é um colega e amigo, apenas.  Não tires conclusões.

- É só o que posso fazer.  Era mais fácil para mim aceitar se me dissesses directamente que não gostas de mim.  Eu sei que é mentira e não vou incomodar-te mais com este assunto.

- Quem sabe um dia mais tarde.

- Um dia mais tarde pode ser tarde demais.

- Então,  não era para ser.

Juliette despediu-se saiu sem dizer mais nada.  Rodolffo não fez nada para a impedir.  Simplesmente deixou-a ir.



Meu lírio roxoOnde histórias criam vida. Descubra agora